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Biden desembarca no Oriente Médio visando apaziguar relações na região, mas de olho no eleitorado americano

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O presidente norte-americano, Joe Biden, deu início nesta quarta-feira (13) a uma viagem pelo Oriente Médio. O democrata visita Israel, os territórios palestinos e a Arábia Saudita. Ele se reúne com autoridades locais para tentar reforçar a cooperação contra o Irã, inimigo comum de sauditas e israelenses, mas também terá de lidar com as frustrações dos palestinos, que criticam o posicionamento de Washington diante das agressões israelenses. Mas Biden também tem no visor o impacto da viagem nas eleições para o Congresso americano.

Joe Biden durante discurso ao desembarcar em Israel, primeira escala de sua viagem pelo Oriente Médio.
Joe Biden durante discurso ao desembarcar em Israel, primeira escala de sua viagem pelo Oriente Médio. AFP - MANDEL NGAN
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Entrevista realizada por Tatiana Ávila

Um dos principais temas da viagem será as relações com o Irã, já que as discussões sobre o programa nuclear iraniano, envolvendo os Estados Unidos, estão em pauta antes mesmo do governo Biden. Principalmente após Washington ter abandonado em 2018, durante o governo Trump, o acordo de 2015 que a comunidade internacional tinha firmado com Teerã sobre a questão.

“Há uma discussão contemporânea de que esse acordo pode ser retomado depois que ele foi desintegrado pelo governo Trump e há uma discussão ainda mais ampla se sauditas e israelenses concordariam de alguma forma com esse acordo”, avalia o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Fundação Getulio Vargas, Fernando Brancoli. “Mas no pano de fundo para esse debate, temos ainda as inseguranças naquele espaço envolvendo israelenses e palestinos e também o aumento do preço do petróleo, fazendo com que a inflação alcance índices importantes nos Estados Unidos e ao redor do mundo. Eu diria que temos o Irã como um tema central, mas uma série de outros componentes orbitando em volta dessa discussão”, continua o especialista.

Brancoli destaca que Israel costuma ser uma das primeiras etapas de viagens internacionais de presidentes americanos em início de mandato, mas que, dessa vez, o clima de tensão será maior porque os palestinos acusam os Estados Unidos de terem escolhido um lado na disputa com os israelenses. Washington teria deixado de atuar como mediador e estaria se posicionando como um aliado de Israel, o que muda o contexto da viagem de Biden.

“Vale a pena lembrar que os temas e as discussões estão bastante quentes desde o assassinato de uma jornalista palestina-americana, porque os palestinos dizem que ela foi assassinada por israelenses. Então, as perspectivas para esse momento não são muito animadoras. Não há nenhum tipo de sinal de que Biden vai ser capaz de estabelecer algum tipo de avanço a respeito da redução das violências entre Israel e Palestina ou mesmo um pacto mais duradouro que chegue à resolução desse problema, que já dura tantas décadas”, resume o professor.

Reconciliação na Arábia Saudita

A última parada de Joe Biden será na Arábia Saudita, país com o qual os Estados Unidos também têm vivenciado episódios bastante sensíveis desde que o príncipe herdeiro Mohamed bin Salman declarou apoio a Donald Trump durante a campanha eleitoral. Biden revidou, dizendo que a Arábia Saudita seria um “pária” no cenário internacional. Perguntado se a visita será capaz de reestabelecer as relações entre os dois países, o professor Fernando Brancoli afirma que as ligações com Riad são muito importantes para serem deixadas da maneira como estão.

“Temos ainda o assassinato de jornalistas no exterior e a guerra do Iémen, fatos que deixaram as relações ainda piores. Então, nesse momento, me parece que os sauditas querem, de certa forma, um aceno, uma demonstração clara de que Biden vai tentar voltar para uma espécie de normalidade”, aponta o professor. “Em um momento em que o preço do petróleo atinge índices bastante altos, aumentando a inflação em todo mundo, mas principalmente nos Estados Unidos, o objetivo do presidente americano é tentar incentivar os sauditas a aumentar a produção junto aos parceiros da Opep [Organização dos Países Produtores de Petróleo] e da Rússia. Lembrando que haverá eleições nos Estados Unidos no final do ano, então a tentativa é a de que a inflação seja apaziguada”, avalia.

Segundo Brancoli, no caso dos sauditas, “o objetivo essencial é uma espécie de normalização das discussões, mas também algum grau de previsibilidade. Desde o governo Trump, observamos um ir e vir do que os Estados Unidos fazem em relação ao Oriente Médio e, agora, tudo indica que os sauditas querem um aceno diplomático bem explícito para poderem argumentar que continuam sendo aliados importantes e, ao mesmo tempo, alguma previsibilidade de que as coisas não vão mudar, por exemplo, caso os democratas percam a maioria no Congresso, no fim do ano.”

Mudanças após a guerra na Ucrânia

Questionado se o interesse dos Estados Unidos na Arábia Saudita mudou com a guerra na Ucrânia, o professor Fernando Brancoli responde que certamente, já que os sauditas são os principais produtores de petróleo do mundo e têm grande influência na Opep. Com os conflitos, o que se vê é um aumento expressivo nos preços do óleo, do gás e do petróleo. 

“Esse aumento do petróleo fez com que tenhamos índices inflacionários muito grandes em toda a Europa e também nos Estados Unidos. O que aumenta, obviamente, a insatisfação por parte do eleitor americano, que vai às urnas para mudar o Congresso no fim do ano. Caso a Arábia Saudita seja convencida a aumentar essa produção, nós teríamos uma redução do preço do petróleo e, certamente, uma redução no preço dos combustíveis, o que traria um alívio para o democrata, que busca garantir a maioria no Congresso”, explica o professor. “Apesar disso, os indícios que os sauditas têm dado é a de que não pretendem aumentar a produção. Os preços altos, de certa forma, são vantajosos para eles, que recebem um fluxo de caixa maior. Então, eu acho que Biden vai ter um tempo difícil por lá”, opinou.

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