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Morte de petista em aniversário é resultado da valorização da violência por Bolsonaro, diz especialista

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Para a cientista política Mayra Goulart, o assassinato do tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu é resultado do ambiente de violência política no Brasil e não beneficia ninguém. De acordo com ela, a situação pode se agravar até as eleições.

Imagens gravadas por câmeras de vídeo mostram  ação que resultou na morte do guarda municipal e tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu Marcelo Arruda.
Imagens gravadas por câmeras de vídeo mostram ação que resultou na morte do guarda municipal e tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu Marcelo Arruda. © Captura de tela
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Tatiana Ávila, da RFI

No último fim de semana, o guarda municipal e tesoureiro do PT de Foz do Iguaçu, Marcelo Arruda, foi assassinado enquanto comemorava seu aniversário de 50 anos em uma festa, que tinha como tema o Partido dos Trabalhadores e o ex-presidente Lula. O assassino é o agente penitenciário Jorge José da Rocha Guaranho, apoiador do presidente Jair Bolsonaro, que foi até o local do evento, ameaçou os convidados e retornou, 20 minutos depois, atirando. O aniversariante chegou a trocar tiros com o agressor, que foi ferido e está internado.

O caso teve grande repercussão e foi destaque, inclusive na imprensa francesa, com reportagens publicadas pelos jornais Le Figaro e Le Parisien, e no canal BFM TV.  O crime, além de chocar pela banalidade, abre espaço para um debate essencial: o que esperar desse cenário político extremamente polarizado nos três meses que antecedem o primeiro turno das eleições?

Para comentar o assunto, a RFI conversou com a cientista política e coordenadora do laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade Federal Rural, Mayra Goulart. Para ela, o crime ocorrido no Paraná “é resultado de um escalonamento gradual, porém consistente, de uma retórica de violência, uso da força e valorização da agressão, como recurso possível diante de conflitos”.

Quando perguntada sobre quem seria beneficiado por este ambiente de violência política, Mayra Goulart responde que ninguém, e critica ainda a divulgação do caso, na imprensa, como uma troca de tiros. Para a especialista, é preciso deixar claro que se trata de um assassinato brutal.

“Não há comparações entre a forma pela qual a violência é mobilizada por Jair Bolsonaro e seus apoiadores e quaisquer outros atores políticos desde a redemocratização. Não há nada parecido com o que está acontecendo no Brasil recentemente”, diz.

Trajetórias diferentes

A cientista política relembra ainda a trajetória do presidente Bolsonaro na Câmara dos Deputados, onde os discursos do então deputado, ao longo dos sete mandatos legislativos, eram sempre pautados por um clamor do uso da violência, da tortura e das armas. Para ela, essa marca política não é observada em nenhuma outra liderança com viabilidade eleitoral para chegar à presidência da república.

“Em discurso, Jair Bolsonaro disse que no passado, a maioria dos que foram presos e torturados deveria ter sido eliminada. Então, ele não só reivindica a tortura, como faz apologia ao assassinato e à ditadura militar. Desta forma, não podemos pensar nesse episódio como resultado de uma escalada generalizada da violência. Não é generalizado, é centrado em Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Ele constrói sua trajetória política a partir da violência, das armas, de uma ideia de força, algo que é central, e não há nada parecido não só com o Lula, mas com os outros atores da política brasileira. Estão pegando a trajetória do Lula, desde 1989, e tentando comparar episódios, em uma tentativa de colocar as duas trajetórias políticas em uma situação isomórfica. Mas isso não é possível e não tem precedentes.”

Até o primeiro turno das eleições, em 02 de outubro, a especialista acredita que a situação deve se agravar. Para ela, esse estímulo à violência pode, sim, ocasionar o surgimento de novas tragédias, como a que aconteceu no Paraná.

“Muitas dessas pessoas que praticam a violência política são desequilibradas mentalmente e são instrumentalizadas por esse ambiente de retórica de uso da violência. Então esses atores, que já são mentalmente instáveis, podem se sentir atraídos pela visibilidade que esse tipo de crime oferece. Eu acho que há uma retro estimulação: o que está acontecendo estimula pessoas a cometerem mais crimes dessa natureza”, finalizou.

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