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“Ele fez o violão ganhar dignidade”, diz filho de Baden Powell em turnê pela Europa

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Ele traz a música no nome e no DNA. Marcel Powell é filho de Baden Powell, um dos maiores violonistas de todos os tempos, mas faz questão de mostrar que apenas o parentesco não basta para encher as salas de concerto. Nesta entrevista à RFI, o músico fala da herança musical e da turnê que faz pela Europa, começando por Paris, sua cidade natal.

Marcel Powell apresenta na Europa a turnê "Só Baden", em homenagem ao seu pai, o violonista Baden Powell.
Marcel Powell apresenta na Europa a turnê "Só Baden", em homenagem ao seu pai, o violonista Baden Powell. © RFI
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“É incrível. Faz 11 anos desde o meu último show em Paris”, lembra o violonista franco-brasileiro, radicado atualmente no Rio de Janeiro, e que incarna a prorrogação da expressão musical de um gênio. “A última vez foi uma apresentação com o meu irmão, em homenagem ao meu pai. Tenho muitas lembranças daqui, pois foi onde meus pais se conheceram, se apaixonaram e tiveram dois filhos”, conta.

Nascido na capital francesa em 1982, Marcel mudou-se ainda bebê para a Alemanha, onde viveu durante 4 anos e teve o primeiro contato com a música, por meio do violino. Aos 5, mudou para o Brasil e a paixão pelo violão passou a ganhar espaço em sua vida.

Marcel Powell lembra com saudade do pai, Baden Powell de Aquino (1937-2000), que revolucionou a maneira de tocar violão. “Ele fez o violão ganhar dignidade, fez o músico entrar pela porta da frente nos lugares. E, sobretudo, a sonoridade, a afinação, essa coisa da mão direita rítmica, que é muito forte e que mais chama a atenção”, diz Marcel. “Eu até desenvolvi um curso chamado ‘as levadas da mão direita de Baden Powell’ e que interessa muito às pessoas”, diz. Ele se refere às escalas rápidas e à batida da mão direita, bem peculiar, que Baden Powell reproduzia no violão imitando a batida sincopada e percussiva do samba, criando uma sonoridade energética que evoca o baticum afro-brasileiro.

Baden Powell foi um dos responsáveis para que o violão ganhasse destaque, voz e alma. Uma alma brasileiríssima, fruto de misturas ancestrais ibéricas, negras e indígenas, além de arranjos de valsas, sambas e serenatas. “Meu pai tinha uma assinatura muito forte no violão. E ele conseguiu unir duas coisas: ser um grande intérprete e também compositor. Geralmente se é um ou outro. E é muito difícil para mim escolher o que eu prefiro”, afirma.

Turnê passa por 5 países

A turnê intitulada “Só Baden” acontece entre os dias 14 e 27 de abril, com shows na França, Áustria, República Tcheca, Alemanha e Holanda. Como o nome diz, é uma homenagem a Baden Powell, que foi professor de violão de Marcel desde a infância até os 18 anos, e com quem ele aprendeu do choro à música clássica.

“Meu pai não teve alunos de violão a não ser eu. Ele se dedicava aos palcos e à rádio e não tinha tempo”, lembra. “Mas desejava conseguir transmitir isso para deixar um legado e era bem rigoroso. Ele criou uma maneira nova de tocar violão. O violão no Brasil e no mundo é antes e depois de Baden”, define.

“A minha carreira tem dois momentos: eu tive o privilégio de já começar com ele e depois, quando ele faleceu, foi como se eu tivesse começando do zero”, diz. “Eu fui gravar meus discos. E só quando eu me senti mais a vontade, eu gravei ‘Só Baden’, com convidados como Hamilton de Hollanda, Gilson Peranzzetta e Victor Biglione que colaboraram mostrando a visão que eles tinham sobre a música do meu pai”, afirma o músico sobre o repertório que ele apresenta ao público europeu, com arranjos novos e singulares.

A família chegou a gravar dois álbuns: "Baden Powell e seus filhos", quando Marcel tinha só 12 anos, e "Suite Afro-Brasileira", com o irmão e pianista Philippe Powell, baseado na França.

O peso do nome

Mas como é ser filho de um gênio da música? Será que o sobrenome Powell ajuda ou atrapalha na carreira? “Eu acho que ajuda, mas você tem que ter mais a dizer”, responde Marcel. “Se eu não apresentar nada original, na segunda música já acabou o show”, brinca. “Você não consegue sustentar um concerto de uma hora ou uma carreira inteira e fazer discos só dizendo que é filho de Baden Powell”, completa.

“Eu gosto muito de ouvir aqueles que não conheci, os artistas da geração do meu pai, como Sebastião Tapajós, João de Aquino, Hélio Delmiro, Egberto Gismonti. Mas me deixo influenciar, também, pelos nomes da minha geração, como Yamandu Costa, Hamilton de Holanda, Daniel Migliavacca”, acrescenta.

“Eu tenho muita saudade, foi uma convivência grande, fizemos turnês na Europa e no Japão”, relembra o músico. “Eu tento tocar parecido com aquilo que gosto de ouvir. E ao tentar imitá-lo. Eu nunca serei ele, e ao não ser ele, eu acabo sendo eu mesmo”, conclui.

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