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Taxa de câmbio gerada por desconfiança em governo Bolsonaro ajudou inflação recorde em 2021, diz economista

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O Brasil registrou inflação de dois dígitos em 2021 (+ 10,06%), uma inédita desde 2015, segundo dados oficiais. A alta de preços afeta consideravelmente o poder de compra da população, principalmente dos mais pobres. Para o economista Flávio Flingenspan, apesar das projeções preverem uma inflação mais baixa para este ano, a má política econômica do governo não impactará na geração de empregos e salários mais altos, o que, num contexto de PIB estagnado, não será motivo de comemoração em 2022.

Reais brasileiros.
Reais brasileiros. DR
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O economista Flávio Flingenspan diz que existem três elementos para explicar a inflação recorde brasileira em 2021, "e todos eles vem do lado da oferta, e não da demanda". "Ou seja, não se trata de um excesso de demanda de uma população com poder de compra elevado, que vai ao mercado e acaba pressionando preços para cima porque muita gente quer comprar. Não é isso, é uma inflação que vem pelo lado da oferta, da produção, dos custos", explica.

"Os três elementos que explicam essa inflação são a elevação do preço de commodities no mercado internacional - portanto um pedaço da nossa inflação é importada -, a quebra de safras agrícolas que causam aumentos de preços que impactam em ítens de alimentação das famílias, e um ítem super importante, que tem a ver diretamente com a forma do governo trabalhar e gerar desconfianças, que é a taxa de câmbio", detalha Flingenspan.

"O preço do dólar se elevou muito no ano de 2021 e com isso a gente tem um impacto generalizado na economia", afirma o professor. "A economia brasileira, como tantas outras, importa muita matéria-prima e componentes para a indústria, principalmente, e quando o preço do dólar sobe isso impacta nos custos de todo mundo que tem que importar matérias-primas", contextualiza Flávio Flingenspan.

"Desconfiança"

Para o economista, a equipe de Paulo Guedes e o governo Bolsonaro não souberam gerenciar a crise. "O aumento da taxa de câmbio foi mais forte no Brasil do que em outros países. Isso tem muito a ver com a forma do governo trabalhar em geral, trazendo desconfianças, que fazem com que muito dinheiro estrangeiro que estava aplicado no Brasil saiu do país e que o dinheiro que poderia vir não veio, justamente por esse cenário de insegurança que o governo coloca no ambiente da economia brasileira", diz. 

"Seja dinheiro que saiu daqui, seja dinheiro que não entrou, o fato é que a gente teve uma escassez de dólares no país, e isso fez o preço do dólar subir, com repercussões generalizadas em várias cadeias produtivas", explica.

O economista lembra que, do lado da oferta, houve também a desorganização de cadeias produtivas do mundo inteiro. "Com a pandemia, houve uma desorganização muito grande, e talvez o símbolo maior disso seja a falta de chips e de semicondutores no mercado internacional, que impactou e ainda impacta a produção de automóveis e eletrodomésticos, e isso acabou também elevando preços no âmbito da produção", avalia Flingenspan.

"Insisto em dizer que isso aconteceu do lado da produção/oferta e não no da demanda, porque no Brasil a renda caiu muito, as pessoas não estão com dinheiro sobrando, e portanto não são as famílias que estão pressionando os preços porque estão comprando em excesso", lembra. 

Inflação em torno de 5% em 2022 não será boa notícia

Flávio Flingenspan afirma que a projeção da maioria dos economistas deve ficar por volta de  5%, "e, portanto, bem menor do que os 10% que fechou em 2021". "Visto assim, é uma boa notícia, o dólar não deve disparar em 2022. Contudo, cerca de 5% de inflação  ainda é um patamar bastante elevado, especialmente para as famílias mais pobres, que constituem a grande massa de eleitores. Tudo isso combinado com uma taxa de desemprego ainda bastante alta, porque o PIB não vai crescer, por responsabilidade da má política econômica, não teremos geração de emprego nem pressão para salários mais altos", diz.

"Então, essa inflação de 5% que poderia ser uma taxa razoável olhando para os 10% de 2021, quando se olha para o mercado de trabalho, na combinação com a inflação, não será uma boa notícia. Será ruim porque haverá crescimento de vagas principalmente na informalidade, com redimentos médios menores, que, combinados com essa inflação ainda relativamente alta de 5%, não será nenhuma notícia positiva em termos de popularidade do governo Bolsonaro no contexto de um ano eleitoral", conclui.

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