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5 anos de atentados de Paris: brasileiro conta que até hoje tem reflexos para se proteger de ataque

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Cinco anos atrás, também era uma sexta-feira 13 quando terroristas iniciaram os atentados mais violentos já vistos na França. Os ataques coordenados atingiram diversos pontos de Paris: o Stade de France, a casa noturna Bataclan e bares e restaurantes do 10 ̊ e 11 ̊ distritos da capital francesa, deixando, no total, um rastro de 130 mortes. Era no restaurante Petit Cambodge que estava um grupo de brasileiros, entre eles, Diego Mauro Muniz Ribeiro, hoje com 33 anos.

Placa comemorativa em homenagem as 13 pessoas que morerram no restaurante Le Petit Cambodge em Paris durante o ataque terrorista do 13/11/2015
Placa comemorativa em homenagem as 13 pessoas que morerram no restaurante Le Petit Cambodge em Paris durante o ataque terrorista do 13/11/2015 AP - Michel Euler
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Ferido levemente pelos estilhaços provocados pelos disparos dos terroristas, o arquiteto ainda tem dificuldades de relembrar aquela noite. "Vou aceitar esse convite mais pelo desafio a mim mesmo do que por estar propriamente à vontade para falar sobre o assunto para o público. Às vezes, tudo sai muito tranquilamente; às vezes, o tema é difícil”, disse o baiano, ao responder ao pedido de entrevista à RFI.

Diego estava por apenas três semanas na capital francesa, onde realizava uma etapa da pesquisa para a sua dissertação de mestrado. Naquela noite, pela segunda vez, o amigo e professor que o hospedava o convidou para tentar uma mesa no badalado restaurante. Conseguiram, mas do lado de fora.

A sequência dos acontecimentos – quando dois terroristas fortemente armados dispararam sem distinção nos clientes, matando 13 pessoas no Petit Cambodge e no vizinho Le Carillon –, Diego prefere pular.

“É uma sensação muito estranha porque eu busco me dissociar, como se, na maior parte do tempo, eu não tivesse estado presente”, analisa.

Em depoimento à RFI, Diego Mauro Muniz Ribeiro, 33 anos, conta que ainda tem dificuldades de relembrar a noite dos atentados de Paris.
Em depoimento à RFI, Diego Mauro Muniz Ribeiro, 33 anos, conta que ainda tem dificuldades de relembrar a noite dos atentados de Paris. © Captura de tela

Do grupo de oito conterrâneos sentados à mesa, ele conhecia poucos. "Estávamos naquela cena horrível e tínhamos que ajudar alguém. Eu acabei ajudando o Gabriel”, relembra, ao citar o outro arquiteto brasileiro ferido naquela noite. Gabriel, porém havia sido atingido por tiros, assim como outra brasileira, psicóloga Camila. Em meio ao caos que abalava Paris, o socorro demorou. "Isso nos uniu”, diz Diego.

Ele relata que, nestes cinco anos, nem sempre se lembrou da tragédia a cada 13 de novembro. Mas o impacto daquela noite se faz sentir em situações inusitadas do dia a dia.

Num assalto, o motivo é claro; no terrorismo, não

Até hoje, o arquiteto hesita quando decide onde vai se sentar em um local público. "Me preocupo em escolher onde vai ser, para eu ter um bom campo de entendimento do que está acontecendo”, observa. “Eventualmente, penso em rotas de fuga. Se estou num ônibus, penso que, se tiver um tiroteio, eu posso me jogar aqui. Se eu estiver na biblioteca, penso 'aqui consigo ter um melhor controle da situação’”, relata.

Diego convive com a violência urbana no Brasil e, há cinco anos, entendeu o temor de europeus do terrorismo. Para ele, as duas situações são pouco comparáveis – ao ponto que ele demorou a compreender o que estava acontecendo em Paris no momento dos disparos. "Nos atentados, tudo ocorreu, eu estava presente, mas eu não entendia. Perguntei para uma pessoa se ela tinha ouvido e visto tiros, porque não fazia sentido nenhum para mim”, explica.

"Alguém precisou verbalizar: isso foi um atentado, e eu levei um choque, porque estava vivendo uma experiência que não fazia sentido nenhum para mim. No Brasil, você entende o que acontece quando há um disparo de arma”, conclui. No terrorismo, a morte das vítimas é sem propósito, compreendeu.

Retorno a Paris

Quatro anos depois, o baiano retornou à França. Era dezembro de 2019 e Paris estava semiparalisada com uma forte greve dos transportes. "Eu só conheci Paris em situações estranhas”, brinca.

Por conta dos transtornos, acabou caminhando muito pela cidade e, quando percebeu, estava nas proximidades do local dos atentados. Hesitou um instante, mas decidiu seguir em frente, até para testar como reagiria.

Encontrou o Petit Cambodge reformado. Percebeu a placa em frente, em homenagem às vítimas. Ficou calado, “frio, muito frio, sem excessos emocionais”.

"O que mais me chamou a atenção é que quando aconteceram os atentados, eu fugi para um supermercado próximo. Mas eu achava que ele ficava a uns 30 metros. A minha surpresa foi ver que, na verdade, ele ficava colado no restaurante”, conta. "A distância de 3 metros que eu corri parecia que tinha sido em muito tempo.”

Cinco anos depois, na internet, o nome de Diego permanece ligado aos ataques. Porém faz tempo que ele prefere ignorar essa parte. "É uma coisa bem complicada para mim, porque tiveram uns comentários muito agressivos na época, muito pesados mesmo. Coisas como 'brasileiro não serve nem para morrer’”, revela. "Evito procurar porque sei que não tem muita coisa boa.”

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