Acessar o conteúdo principal
Reportagem

Literatura brasileira é celebrada em clube de leitura em Paris

Publicado em:

Desde março de 2022, o Clube de Leitura organizado pela Embaixada do Brasil em Paris em parceria com a Livraria Portuguesa e Brasileira, reúne mensalmente entusiastas e curiosos da literatura brasileira. As discussões giram em torno de uma obra – um autor diferente é apresentado a cada mês –, mas também das realidades, identidades, histórias e culturas do Brasil, por meio de traduções francesas de títulos selecionados.

Sessão do Clube de Leitura guiada pelo professor de Literatura Leonardo Tonus, na Casa de Portugal, em Paris.
Sessão do Clube de Leitura guiada pelo professor de Literatura Leonardo Tonus, na Casa de Portugal, em Paris. © Paloma Varón/RFI
Publicidade

Paloma Varón, da RFI

Machado de Assis, Jorge Amado, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Martha Batalha, Luiz Ruffato... estes e outros autores brasileiros são lidos em francês por um público diverso em Paris. Após a leitura, são organizadas rodas de conversas para a troca de impressões e análise das obras. O objetivo é apresentar o Brasil e sua literatura ao público francófono.

"A cada sessão nós convidamos uma pessoa diferente, para apresentar o livro e guiar as discussões. Então, temos sempre um convidado diferente e num lugar diferente, porque o nosso objetivo também é alcançar públicos distintos, vinculados às diversas instituições que aceitaram embarcar nesta aventura com a gente", explica Rafaela Vincensini, do Serviço Cultural da Embaixada. 

"As discussões são feitas em francês e nós lemos as versões traduzidas dos livros que a gente selecionou para este ciclo", completa. 

O encontro de dezembro foi sobre o livro "Estive em Lisboa e lembrei de você", de Luiz Ruffato, o que levou a uma empolgada conversa, com direito a troca de experiências pessoais, sobre imigração e preconceito. O encontro foi conduzido pelo escritor e professor de Literatura Brasileira na Sorbonne, Leonardo Tonus.

Suscitar o interesse

"Esta foi a minha primeira participação, foi uma experiência bastante interessante, justamente por esta troca de percepções subjetivas em torno de um livro. E, é claro, o que me interessa mais aqui é o fato de estarmos criando leitores. Eu, que trabalho há muito tempo com a difusão da literatura brasileira fora do país, sei que não basta somente traduzir livros, não basta somente colocar livros em livrarias, é necessário despertar o interesse pela literatura brasileira, que é pouco conhecida, sobretudo a literatura contemporânea", afirma Tonus. 

O estudante de Sociologia Adrien Sainty é um dos entusiastas dos encontros e achou este, sobre o livro de um autor contemporâneo, especialmente intrigante.

"Participo desde o início, vou a todos os encontros. Minha mãe é franco-brasileira e eu queria saber mais sobre a história e a literatura brasileiras, que eu não conhecia. Quando eu vi o anúncio do Clube de Leitura nas redes sociais, decidi participar e, em seguida, trouxe minha mãe comigo. É sempre um prazer descobrir os clássicos, assim como os autores mais novos", disse o estudante.

Preconceito contra brasileiros

Além disso, o livro do mês de dezembro tinha total correspondência com o seu objeto de estudos. "Eu estou fazendo uma dissertação sobre a discriminação de estudantes brasileiros em Portugal. Então, acho interessante a relação dos ex-colonizados com a metrópole, como os fluxos migratórios evoluem, como a linguagem pode se tornar uma barreira…", analisa Adrien Sainty. 

A estudante de Letras Luyana Araújo é angolana e também se sentiu tocada por este livro e pelas discussões em torno dele.

"Foi a primeira vez que participei deste evento e achei incrível para abrirmos o espírito pela literatura, para criar pessoas com mentes mais abertas, o que eu acho incrível e aconselho a qualquer pessoa. Eu nasci em Angola e cresci em Portugal, fiz meus estudos lá. Mas eu tento também me adaptar, porque tenho muitos amigos brasileiros e tento ter um pouco o sotaque brasileiro", conta a angolana.

Marinela Nzolamesso, também angolana e estudante de Letras, disse que aprendeu muito com o Clube de Leitura. "Sou angolana, cheguei na França aos 15 anos e é a primeira vez que participo. Achei muito interessante, porque é um livro que estamos estudando em sala de aula e aqui eu aprendi muitas coisas", conta.

Mégane Pinheiro é estudante de Medicina. Ela fala português e quer conhecer mais sobre a Literatura brasileira. "Estou muito apaixonada pela Literatura portuguesa e não conheço muito a Literatura brasileira, mas gostaria, por isso quero me inscrever neste clube, gostei muito. Gostei da presença do professor, pois conheço muito bem o assunto de que ele trata [imigração], mas também gostei da participação de toda a gente, de aprender as histórias deles, muito diferentes, mas também um pouquinho parecidas. É mesmo muito rico", afirma, entusiasmada.

Literatura para entender a cultura

A jurista colombiana Andrea Mora diz que vem aos encontros porque gosta da ideia de ler e discutir livros em público e também porque quer aprender mais sobre a cultura brasileira."A experiência foi muito interessante. Ter alguém como Leonardo Tonus para dirigir o grupo de leitura foi muito enriquecedor, pois é alguém que conhece o tema. Com a apresentação dele e as discussões com outros leitores, podemos fazer uma análise muito mais profunda da obra do que faríamos se estivéssemos sozinhos", disse.

"Estou aprendendo a falar português brasileiro; somos vizinhos, somos irmãos latino-americanos e considero importante saber a língua dos meus irmãos brasileiros. E acho que a literatura é um dos meios mais interessantes para aprender a cultura do outro", acrescentou Mora. 

Além de descobrirem um livro novo a cada sessão, os participantes também descobrem novos espaços em Paris. "Uma parte que foi muito gostosa neste projeto, uma vez decididos os escritores, foi encontrar o local que tivesse a ver com cada escritor especificamente. Por exemplo, quando lemos Jorge Amado, fizemos o encontro no Espaço Krajcberg. Krajcberg era polonês, mas morou na Bahia, então o espaço é como 'a Bahia em Paris'. A ideia era sempre encontrar um vínculo entre o escritor e o espaço que nos acolheria", destaca Rafaela Vincensini. 

Para participar do Clube, basta ficar atento ao perfil "Brésil en France" no Facebook e Instagram. O último encontro da temporada acontece neste sábado (14), na Biblioteca Nacional da França, em torno do livro "Brás, Bexiga e Barra Funda: notícias de São Paulo", de Antônio de Alcântara Machado.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.