"Risco para a democracia é real", diz cientista político francês sobre eleição no Brasil
Publicado em:
Ouvir - 05:59
"Brasil, um gigante derrubado?", foi o tema de um debate organizado, nesta terça-feira (27), pelo Instituto de Ensinos Avançados da América Latina da Universidade Sorbonne Nouvelle dentro da programação paralela da 31ª edição, do tradicional Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz. O evento focou os desafios e a tensão política no país às vésperas das eleições.
Um time de professores internacionais debateu o atual contexto brasileiro no Cassino Municipal de Biarritz. Este ano de 2022 é considerado crucial para o maior e mais populoso país da América Latina. Os pesquisadores da Suíça, França, Bélgica e Portugal abordaram a situação do Brasil pós-pandemia de Covid-19 e a luta para sair de uma profunda crise política, econômica e social.
O primeiro turno da eleição presidencial, em 2 de outubro, será acompanhado por todo o mundo. O atual presidente Jair Bolsonaro (PL), no poder desde janeiro de 2019, tenta a reeleição. Ele aparece em segundo lugar nas pesquisas eleitorais, lideradas pelo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011).
“A gente tenta pensar como Jair Bolsonaro chegou ao poder. E não foi de um dia para outro. Ele se insere em dinâmicas históricas, econômicas, sociais, culturais e raciais que já existem há muito tempo no Brasil”, explica Mélanie Toulhoat, historiadora, pós-doutoranda na Universidade Nova de Lisboa. Ela salienta, se referindo ao PT, que "falta autocrítica e reflexão interna sobre o que levou Bolsonaro ao poder e quais são os erros que não devem ser repetidos”.
Riscos para a democracia
Frédéric Louault, professor de ciência política da Universidade Livre de Bruxelas, diz que "o risco para a democracia é real" ao comentar a eleição presidencial do próximo domingo.
Ele acha que as Forças Armadas "não teriam interesse em intervir nesse processo diretamente”. Segundo Louault, “a questão mais importante é saber qual será a reação dos militantes do bolsonarismo e da ala mais radical desse movimento, pessoas que gostariam de fazer tudo para impedir um retorno de Lula e do PT ao poder”.
Frédéric Louault vai ainda mais longe. “Após o segundo turno, esse cenário de invasão do Congresso, como aconteceu nos Estados Unidos, em 2020, é um cenário provável, com distúrbios, e isso poderia ser instrumentalizado por Jair Bolsonaro para mobilizar as Forças Armadas e interromper o processo eleitoral e até o quadro democrático”, acredita.
Para o professor, caso o ex-presidente Lula seja reeleito, ele terá de enfrentar três desafios: “Primeiro, a recuperação democrática e a união da sociedade brasileira em torno de um novo projeto político; em segundo lugar, a revitalização da economia e a luta contra pobreza; e terceiro, a restauração da imagem do Brasil na área internacional”, conclui.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro