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Reportagem

Ao reconhecer rapidamente a independência do Brasil, EUA queriam afastar europeus e "liderar" região

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O rápido reconhecimento da independência do Brasil foi motivada pela Doutrina Monroe, diretriz de política externa criada pelo ex-presidente James Monroe, 1817-1825, que defendia “a América é para os americanos”.

Jornal antigo sobre serviço consular dos Estados Unidos fala sobre a abertura da embaixada brasileira no Rio de Janeiro após a independência em 1927.
Jornal antigo sobre serviço consular dos Estados Unidos fala sobre a abertura da embaixada brasileira no Rio de Janeiro após a independência em 1927. © Divulgação
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A doutrina tinha como estratégia fortalecer os laços dos Estados Unidos e os novos países americanos que, assim como Brasil, estavam se tornando independentes. O objetivo era afastar qualquer influência dos colonizadores europeus, visando conquistar aliados e benefícios econômicos.

Oficialmente, os Estados Unidos foram a primeira nação a reconhecer a independência do Brasil. O reconhecimento foi em maio de 1824, quando o então presidente norte-americano James Monroe recebeu José Silvestre Rebello, o primeiro brasileiro a ser nomeado chanceler do Brasil nos Estados Unidos. 

Entretanto, o interesse dos vizinhos da América do Norte no país já aparecia antes, ainda nos tempos de colônia portuguesa. Em 1815, os Estados Unidos abriram o primeiro consulado estrangeiro em território brasileiro, no Brasil Colônia, em Recife, Pernambuco.

“Com as boas relações e reconhecimento das independências, os Estados Unidos podiam obter benefícios econômicos, e acordos comerciais que favorecem mais a eles que os europeus", explica o historiador brasileiro Lucas Martins, especialista nas relações entre Estados Unidos e América Latina. "Além disso, a doutrina se baseava no imaginário americano filosófico que imprimia a questão do destino manifesto como se eles fossem responsáveis por conduzir as Américas a partir da independência de cada um deles”, destaca o historiador, que vive nos Estados Unidos e cursa doutorado na Temple University, na Filadélfia. 

Visita de Dom Pedro II

Além do próprio reconhecimento da independência brasileira, com o tempo as relações entre os dois países foram se solidificando entre acordos comerciais e de cooperação mútua. Um evento importante foi a celebração do centenário da independência dos Estados Unidos em 1876. Na época, o convidado de honra foi o imperador Dom Pedro II, que foi até a Filadélfia em uma viagem oficial, a primeira visita de um chefe da nação brasileira aos Estados Unidos. A celebração aconteceu menos de 15 anos depois do fim da guerra civil norte-americana separatista entre o norte e sul.

Nesse mesmo período, Dom Pedro II já tinha demostrado interesse em desenvolver, por exemplo, o cultivo do algodão no Brasil, e foi com o vizinho do hemisfério norte que o imperador encontrou o apoio necessário. “Os Estados Unidos, principalmente na região sul, tinham uma tradição muito forte na produção do algodão e do tabaco. E uma vez que Dom Pedro II tinha interesse em desenvolver essa economia no Brasil, ele convida alguns americanos para virem ao Brasil e se estabelecerem no país para desenvolver essa cultura do algodão”, explica Martins. “Por isso que hoje você vê em regiões de Santa Barbara do Oeste e Americana, no interior de São Paulo, descendentes dessa leva de imigrantes produtores de algodão”, ressalta o historiador. 

Brasil-EUA e as guerras mundiais

Já na primeira metade do século 20, o Brasil aproximou-se também em questões militares aos Estados Unidos e seus aliados na primeira e Segunda Guerra Mundial. Em 1942 Getúlio Vargas decidiu entrar em acordo com o presidente americano Franklin D. Roosevelt sobre a participação brasileira na batalha contra o regime nazista e enviou mais de 25 mil soldados à Europa.

A relação Vargas-Roosevelt é um ponto importante da história de aproximação entre os dois países. O presidente norte-americano visitou o Brasil três vezes em 1936 e em 1943. Em um trecho do discurso gravado durante sua visita ao Rio de Janeiro em novembro de 1936, Roosevelt defendeu que a relação entre os dois países fosse ainda mais estreitada, do ponto de vista econômico, intelectual e cultural.

Neste trecho da gravação do discurso no Congresso brasileiro, conservada pelo acervo da biblioteca de Roosevelt, o norte-americano declarou: “Nenhuma nação pode viver inteiramente somente por si mesma. Cada um de nós aprendeu sobre as glórias da independência. E vamos permitir também que aprendamos sobre as glórias da interdependência”.

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