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Reportagem

Brasileiros contam como se adaptam às ondas de calor cada vez mais frequentes na França

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Com as temperaturas cada vez mais altas no verão europeu e sem infraestrutura para enfrentar as ondas de calor, os brasileiros que moram na França têm de mudar velhos hábitos para conseguir se adaptar.

Duas mulheres próximas de uma fonte na França. Os brasileiros têm que se acostumar às altas temperaturas cada vez mais comuns no país.
Duas mulheres próximas de uma fonte na França. Os brasileiros têm que se acostumar às altas temperaturas cada vez mais comuns no país. Reuters
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Em 2017, o vídeo do ator cearense Max Petterson sobre o calor parisiense viralizou nas redes sociais. Reclamando das altas temperaturas do verão em Paris, ele aconselhava os brasileiros a não visitarem a França nos meses de julho e agosto.

Cinco anos depois, a França atravessa outra onda de calor. Na terça-feira (19), os termômetros na capital francesa devem marcar 41°C. No sul do país, as temperaturas também vão ultrapassar os 40°C.

Ao contrário de países do sul da Europa, como Espanha e Portugal, a França, e sobretudo Paris, são conhecidas pelos invernos rigorosos. Talvez por isso seja difícil até para quem vem de um país tropical se adaptar aos tórridos verões franceses.

Esse é o caso do cearense Carlos Bardawill, que mora na capital francesa. "Durante os meses de julho e agosto eu tenho bastante dificuldade, e tento adaptar um pouco minha rotina. Eu gosto muito de praticar esportes, costumo correr ao meio dia ou no final da tarde. Mas tenho que me adaptar e começo a correr mais cedo, por volta de 6h ou 7h da manhã, pra tentar fugir do clima mais quente", explica.

Ele morou sete anos na França, entre 2006 e 2013, e depois de um período no Brasil, voltou a se instalar em Paris este ano e não lembra de temperaturas tão altas.

"Está bem pior. A gente já tinha morado aqui sete anos. Nesses sete anos, a gente pegou uma semana de um calor intenso, em agosto. Agora já é a segunda semana com temperaturas acima de 36° ocorrendo no final de maio, início de junho, o que é bem atípico", diz.

A percepção de Carlos reforça o que dizem os especialistas: ondas de calor como a dessa semana serão cada vez mais comuns na França e vão acontecer por períodos cada vez mais longos devido às mudanças climáticas.  

Falta de infra-estrutura e mudança de hábitos

Ao chegar em Paris, a primeira preocupação dos brasileiros é com o inverno, como observa a esposa de Carlos, Raquel Rolim. "Quando a gente veio morar aqui, amigos franceses disseram para a gente se preocupar com janelas com duplo vidro, com o aquecimento do apartamento, então são essas as preocupações quando a gente vai alugar apartamento, considerando as temperaturas muito baixas no inverno. De fato, nunca pensamos nesse período do verão. E, quando chega no verão, as casas não têm ar condicionado como a gente tem o costume no Brasil”, diz.

O casal cearense Raquel Rolim e Carlos Bardawil que tenta se readaptar ao calor do verão parisiens.
O casal cearense Raquel Rolim e Carlos Bardawil que tenta se readaptar ao calor do verão parisiens. © Arquivo pessoal

Na França, as cidades não estão adaptadas para as altas temperaturas. Poucas árvores, imóveis pensados para guardar o calor para os dias mais frios, lojas e restaurantes sem ar condicionado aumentam a sensação de abafamento. Então, é necessário lutar com as armas que existem no mercado. “A gente comprou um ventilador e tenta manter a casa fresca", diz Raquel.

Também é necessário mudar hábitos brasileiros e ouvir os conselhos e dicas dos franceses. A paulista Cristina Dorgan mora há sete anos em Paris. Casada com um carioca, ela já passou muitos verões no Rio de Janeiro.

"No Rio de Janeiro você pensa que você está numa sauna. Aí você pensa, vou para a Europa, hemisfério Norte, lá o verão vai ser normal”, diz, lembrando como se enganou. “Quando eu cheguei aqui, em 2015, eu já notei que o verão não era normal. Aqui é seco, não venta como no hemisfério Sul no verão, então a sua sensação é de que você está no deserto”, compara.

"No primeiro ano, quando cheguei, o que a gente fazia era abrir as janelas. Aqui não tem ar condicionado, então usavamos muito ventilador com as janelas abertas”, conta.

"No nosso segundo ano de verão, a zeladora veio em casa para entregar umas correspondências. Quando eu abri a porta, ela olhou e disse: ‘Vocês são loucas? Não pode deixar a janela aberta’”, diz. Ela explica que aprendeu então que nos momentos de ondas de calor muito intensa, janelas, persianas e cortinas devem ficar fechadas.

“Eu pensei que ia morrer asfixiada dentro de casa”, conta, rindo, mas, para sua grande surpresa, funcionou. Depois daquele dia, nas ondas de calor, ela já sabe o que fazer: “De manhã, eu acordo, fecho todas as persianas, as janelas de vidro, as cortinas, no escuro, e a casa fica super fresca", afirma.

A paulista Cristina Dorgan que aprendeu a enfrentar o verão parisiense com janelas fechadas e muita água.
A paulista Cristina Dorgan que aprendeu a enfrentar o verão parisiense com janelas fechadas e muita água. © Arquivo pessoal

"Esse é um erro de brasileiro quando vem pra cá”, diz a paulista Patrícia Bressan, sobre o hábito de abrir as janelas para ventilar a casa. “Eu acho que no Brasil tem sempre um vento e chuva. Pelo menos em São Paulo, quando chega 5 ou 6 horas da tarde, tem aquela chuva de verão que dá uma refrescada", diz.

Cuidado com mais frágeis

Patrícia é mãe de uma bebê de dois anos e por isso deve redobrar os cuidados. "Eu fui pegá-la na creche ontem, eram 16h30. Eu queria ficar passeando com ela no parque, mas foi impossível, tive que voltar pra casa e ficar com o ventilador ligado dentro de casa. Eu evito expô-la na rua quando está mais de 30 graus”, afirma.

A paulistana Patrícia Bressan que tem uma bebê de dois anos e prefere evitar sair de casa quando faz mais de 30°C.
A paulistana Patrícia Bressan que tem uma bebê de dois anos e prefere evitar sair de casa quando faz mais de 30°C. © Arquivo pessoal

Durante o verão, o governo francês faz campanhas para a proteção dos mais frágeis, sobretudo pessoas idosas, principais vítimas das altas temperaturas.  

“Temos uma vizinha do primeiro apartamento que tínhamos em Paris, ela é uma senhora de 97 anos e mora sozinha. Hoje a gente acordou pensando que temos que ligar para ela para saber se está precisando de alguma coisa, e como ela está lidando com este momento", diz.

Cristina lebra que os pets também precisam de atenção redobrada. Passeios só nas primeiras horas da manhã ou quando o sol se põe, o que acontece somente depois das 21h30.

Mudanças nas férias

As fortes ondas de calor fizeram até Cristiane mudar a organização das férias. Ela conta que costumava ir com a família ao Brasil no fim do ano, quando é inverno no hemisfério Norte, para aproveitar o verão da Europa no meio do ano. Mas com as ondas de calor no na Europa os invernos mais amenos, está pensando em passar a viajar para o Brasil no meio do ano, para fugir do verão europeu.

Mas nem tudo é calor no verão na França, como lembra Raquel. "Eu acho que a cidade fica mais agradável, as pessoas estão mais coloridas nas ruas, são mais simpáticas, os bares com mesas nas calçadas; eu gosto muito do clima do verão aqui de Paris", diz.

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