Juliana Sícoli traz à França obras sobre a resiliência e coragem da luta feminina
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“Still I speak” ou “Ainda assim falo”. É o nome da primeira exposição solo da artista plástica mineira Juliana Sícoli no exterior. A luta da mulher contra a opressão, preconceitos e violência dá o tom às peças, entre fotografias, intervenções, bordados e instalações. Quem apresenta o trabalho é a galeria Ricardo Fernandes, em Saint-Ouen, ao norte de Paris.
Por Patrícia Moribe
As 14 obras expostas são um apanhado dos trabalhos que a artista fez nos últimos dez anos. “Todos esses trabalhos são amarrados pelo mesmo conceito; todos eles falam sobre a força da mulher, sobre a sobrevivência da mulher ao longo da história”, explica Juliana Sícoli.
“Foi um belíssimo encontro descobrir o processo criativo da artista”, conta a curadora Ioana Mello. “Ela trabalha com uma pesquisa muito profunda sobre o papel da mulher ao longo da história, na nossa sociedade patriarcal. Ela perpassa por questões pessoais, referências literárias, filosóficas e pesquisas de arquivos”.
A curadora cita o trabalho feito por Sícoli no hospital psiquiátrico de Juqueri, na região metropolitana de São Paulo. “Ela transforma arquivos de fotos de mulheres que foram colocadas no hospital psiquiátrico porque eram fora do padrão. Mulheres que queriam se divorciar, não queriam se casar e com isso eram consideradas loucas. Ela também trabalha com as cartas que elas escreveram e que nunca foram enviadas. Com isso ela faz peças fortíssimas, de uma sensibilidade incrível e questionando justamente a representação dessas mulheres, a voz dessas mulheres e a invisibilidade dessas mulheres ao longo da história”.
Psicanálise
“Eu sou artista visual e estudante de psicanálise, então a psicanálise para mim é uma grande base para as minhas criações artísticas, onde eu questiono questões psíquicas e questões humanas existenciais”, explica a artista, que também é filha de psicólogos. “Acho que isso fez bastante diferença. Para mim sempre foi muito natural questionar o mundo e questionar a mim mesma. Então a arte foi um caminho que eu achei de poder colocar isso para fora, de poder mostrar para o mundo esses meus questionamentos”.
Uma das instalações junta bonecas Barbies e se chama “Dez Amores”, um trabalho baseado em denúncias reais feitas por vítimas de violência doméstica. “São denúncias feitas por mulheres atacadas, violentadas sempre por pessoas muito próximas seja o marido, o ex-marido, companheiro, os pais dos filhos - a maioria sendo dentro de casa. É um questionamento sobre essa privacidade velada, sobre esse silêncio velado que existe em torno de uma casa e onde acontecem situações terríveis”.
O galerista Ricardo Fernandes diz que se interessou em retomar o debate a respeito da opressão machista sobre a mulher e sobre a necessidade de uma igualdade social e de gênero. “Existe uma pegada estética bem interessante no trabalho dela, que dialoga e interpela em relação a uma temática tão profunda”, explica.
“Essas mulheres somos nós. A pesquisa da Juliana, que é incrível, traz detalhes, histórias, relatos que até hoje são incrivelmente presentes na nossa sociedade. E ela faz isso de maneira muito sensível e muito forte”, arremata a curadora Ioana Mello.
"Still I speal" ou "Ainda assim falo" fica em cartaz na galeria Ricardo Fernandes até 28 de agosto de 2023.
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