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Rendez-vous cultural

Clarice Lispector é tema de recital estrelado por Maria Fernanda Cândido e Sonia Rubinsky em Paris

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A escritora brasileira Clarice Lispector faria 102 anos no próximo dia 10 de dezembro. Nascida em 1920 em Tchetchelnik, na Ucrânia, ela chegou ao Brasil ainda bebê, com a sua família, que fugia do Pogrom, um massacre institucional dos judeus da região. Suas memórias de infância, assim como trechos da sua vasta obra – crônicas e romances – dão vida ao recital dramático "Clarice, Ballade au-dessus de l’Abîme", em cartaz em Paris com a atriz Maria Fernanda Cândido e a pianista Sonia Rubinsky.

Sonia Rubinsky, ao piano, e Maria Fernanda Cândido, em pé, estrelam o espetáculo "Clarice, Ballade au-dessus de l'Abîme" em Paris.
Sonia Rubinsky, ao piano, e Maria Fernanda Cândido, em pé, estrelam o espetáculo "Clarice, Ballade au-dessus de l'Abîme" em Paris. © Paloma Varón/RFI
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Por Paloma Varón, da RFI

Um diálogo entre a literatura e a música: assim pode ser definido o espetáculo "Clarice, bailando acima do abismo", em tradução livre para o português. Composto de trechos de crônicas e livros como "Felicidade Clandestina" e "Laços de Família", com adaptação de Catarina Brandão e direção de Antonio Interlandi, o recital será apresentado mais duas vezes em Paris, nos dias 6 e 13 de dezembro. 

Entusiasmada, a atriz Maria Fernanda Cândido contou à RFI sobre o seu novo trabalho: "Eu sinto que esse recital é uma grande declaração de amor ao Brasil, à cultura brasileira e à Língua Portuguesa que a Clarice faz: através de vários textos, contos, passagens, ela vai deixando muito clara esta paixão que ela tem pelo Brasil – que eu divido com ela. Isso é algo que me habita também, é a minha cultura, o meu país. Então, fazer esta grande declaração de amor aqui em Paris, para o público francês, é realmente um grande privilégio, uma honra e um grande prazer".

A atriz conta como se reconhece no universo da escritora: "Eu me aproximo muito de Clarice quando entro em contato com esses textos que abordam o mundo feminino de maneira tão intensa, tão brilhante e tão sensível. E a Clarice traz também a espiritualidade como tema em sua obra. Entao eu acho que tudo isso - esse amor pelo Brasil, esse feminino, essa sensibilidade - ressoa em mim", descreve.

Cartaz do recital dramático "Clarice, Ballade au-dessus de l'Abîme", sobre a escritora brasileira Clarice Lispector.
Cartaz do recital dramático "Clarice, Ballade au-dessus de l'Abîme", sobre a escritora brasileira Clarice Lispector. © Divulgação

Trechos autobiográficos se misturam aos contos

"Eu gosto muito de todos os trechos autobiográficos, eu acho que ele são muito bem selecionados e conseguem realmente criar um retrato da Clarice; a gente consegue enxergar essa mulher", completa Maria Fernanda Cândido.

A obra de Clarice Lispector foi traduzida para o francês e é publicada na França desde 1978. Maria Fernanda Cândido, que estreia o seu primeiro monólogo em francês, falou à RFI sobre a experiência de atuar neste idioma - que ela já fala em casa com o marido (francês) e os filhos (franco-brasileiros), que também falam português - mas não usava como língua de trabalho. 

"Este trabalho para mim é muito novo. É a primeira vez que eu faço isso, essa dupla com a Sonia Rubinsky, grande pianista, sendo acompanhada por ela, fazendo isso de maneira muito entrelaçada, muito costurada, e em francês", disse a atriz, que já atuou no cinema em inglês, francês e italiano, mas no teatro, ao vivo diante do público, é a primeira vez. 

Intimidade com a obra clariciana

A atriz já tinha intimidade com a obra de Clarice Lispector. No cinema ela interpretou a protagonista G.H., do famoso livro "A paixão segundo G.H.", filme dirigido por Luis Fenando Carvalho, que deve estrear nos cinemas no ano que vem.

Para o recital, a pianista Sonia Rubinsky fez uma escolha de peças musicais que dialogam perfeitamente com os trechos escolhidos por Catarina Brandão.

"A Catarina conseguiu fazer uma costura de textos da vida da Clarice com os contos. O resultado é incrível, porque a linguagem da Clarice é forte, enigmática, misteriosa, e com essa costura com a vida dela ficou muito interessante, dá uma perspectiva bem mais completa. E aí entra a música, que também dá essa perspectiva completa do mundo das emoções, porque afinal a música fala quando a linguagem acaba", analisa Rubinsky. 

A atriz Maria Fernanda Cândido e a pianista Sonia Rubinsky no espetáculo "Clarice, Ballade au-dessus de l'Abîme".
A atriz Maria Fernanda Cândido e a pianista Sonia Rubinsky no espetáculo "Clarice, Ballade au-dessus de l'Abîme". © Paloma Varón/RFI

A pianista explica como vai de Rachmaninoff a Villa-Lobos, passando por Alberto Nepomuceno: "Eu insisti para que a gente começasse com a Sonata #2, de Rachmaninoff, que é uma das peças mais difíceis do repertório de piano. E, como a Clarice nasceu na Europa, em Tchetchelnik, tem tudo a ver com música eslava, russa, ucraniana".

"Eu começo com esta música, que é extremamente dramática – porque a vida da Clarice é dramática – e depois a gente costura com a ideia de Carnaval, que tem a ver com Recife, onde ela morava, então tem a ver com Carnaval, Villa-Lobos e o seu 'Carnaval das Crianças'", aponta.

O diretor do espetáculo, Antonio Interlandi, que também é brasileiro e está radicado na França há 28 anos, comenta sobre a escolha do formato.

"É um meio caminho entre a peça de teatro e a leitura propriamente dita. E, justamente, a montagem desses textos deu um movimento a este trabalho de mise-en-scène, premitindo que houvesse uma interação entre a pianista e a atriz, entre a música e o texto, e nos permitiu usar o espaço do Accord Parfait, que é uma sala tão insólita, diferente."

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