Acessar o conteúdo principal
Rendez-vous cultural

Celebrado na França, romance de senegalês é premiado no Brasil e será lançado depois da Flip

Publicado em:

Criado em 1903 em homenagem aos irmãos Goncourt, os escritores Jules e Edmond, o Choix Goncourt premia anualmente o melhor romance escrito em língua francesa. Em 2022, 12 universidades públicas do Brasil participaram desse projeto internacional, coordenado pela prestigiosa instituição francesa Prix Goncourt, com apoio da embaixada da França no Brasil. Nesta 4ª edição do prêmio, o laureado foi o romance "La plus sécrète mémoire des hommes", que será traduzido para o português.

Deliberação e anúncio do prêmio Choix Brésil Goncourt.
Deliberação e anúncio do prêmio Choix Brésil Goncourt. © Divulgação
Publicidade

"Este ano, o Choix Goncourt Brésil aconteceu logo antes da Flip, o que possibilita encontrar escritores e dialogar com os atores do livro no mercado brasileiro", aponta Émilie Audigier, professora e coordenadora do projeto na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), que participa pela primeira vez da premiação.

"O fato do júri estudantil poder assistir à feira literária, coincidindo com as datas da premiação, foi muito importante. Pela primeira vez esse ano, o projeto acontece de forma presencial em Paraty, o que facilita muito os contatos, os diálogos e as possibilidades de interação", diz.

Marion Loire, coordenadora do Escritório do Livro na embaixada francesa, explica que a tradução do livro vencedor para o português do Brasil é uma tradição do Goncourt Choix Brésil. "É uma das regras impostas pela Academia Goncourt para os Choix Goncourt internacionais, mas é também uma condição que nos parece fundamental", afirma. "É com a tradução que se alcança um público em geral, maior, e não necessariamente francófono e nem francófilo", avalia Loire.

Ela aponta que a tradução é um dos principais eixos da diplomacia da França para promover a literatura do país no Brasil. Um programa favorece a publicação de até 25 títulos por ano, há mais de 25 anos.

Entre os quatro finalistas do Choix Brésil de 2022, um já era traduzido, o 'Milwaukee Blues', do Louis-Philippe Dalembert. "O vencedor desse ano, 'La vie sécrète mémoire des hommes', do Mohamed Mbougar Sarr (vencedor do Goncourt 2021 na França), já tem editora no Brasil, mas ainda não posso dizer qual é, e será lançado em 2023 também com apoio da embaixada", conta Loire.

Deliberação e anúncio do prêmio Choix Brésil Goncourt.
Deliberação e anúncio do prêmio Choix Brésil Goncourt. © Divulgação

O primeiro Goncourt Choix Brésil foi anunciado em 2019 na Feira Internacional do Livro de Paraty – um dos maiores eventos de promoção da literatura no Brasil e um grande parceiro da embaixada da França. Nos dois anos seguintes, a premiação aconteceu online devido à pandemia. Em 2023, será no Congresso Sul-Americano dos Professores de Francês, que vai reunir professores de 24 países da América Latina em Brasília, antecipa Marion Loire. 

A professora francesa Émilie Audigier, coordenadora do projeto na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), acredita que o prêmio é muito importante por estimular os leitores e alunos de francês e literatura francófona a ler. "É um desafio; o que está em jogo é a formação de uma leitura crítica. Além disso, essa projeção internacional foi muito importante para os alunos de São Luís do Maranhão", conta. "O evento dinamiza bastante o curso. É um projeto que tem uma vida pela frente justamente por dialogar com o contemporâneo, e também a literatura de hoje que se escreve em língua francesa. Acho fundamental a participação dos jovens que gostam de literatura, mas que nem sempre têm acesso em língua original", sublinha Audigier.

O escritor francês Philippe Claudel, presidente do Goncourt, em videoconferência com a equipe do Choix Goncourt Brésil.
O escritor francês Philippe Claudel, presidente do Goncourt, em videoconferência com a equipe do Choix Goncourt Brésil. © Divulgação

Esse ano, 12 universidades brasileiras participaram do Goncourt Choix Brésil. "O projeto permite também valorizar o trabalho dos 36 departamentos de língua e literatura francesa das universidades públicas brasileiras, que são parceiros importantes para os serviços de cooperação educativa linguística, mas também para os serviços de cooperação universitária", diz Marion Loire. 

Esse ano, o romance do Mohamed Mbougar Sarr foi escolhido pelos estudantes, mas a deliberação demorou bastante porque não houve consenso, apesar de ter uma maioria dos votos, conta Émilie Audigier. "Na minha opinião, trata-se de um grande romance, que realmente dialoga com diversos gêneros literários como a narrativa policial, a questão de ser um livro dentro de um livro, o escritor dentro de um escritor, e tem essa questão da mis-en-abîme", avalia.

"É um livro circular, labiríntico, que vai dialogar com vários tipos de personagens e linguagens, trazendo outras referências literárias; também pelo fato de ser um autor do Senegal, com toda essa relação e o olhar crítico sobre a França e o meio literário francês, além de ser extremamente humorístico e poético. É um livro que tem várias formas de ser lido, e por isso, com certeza, ele seduziu os leitores brasileiros", acredita.

Uma das juradas dessa edição 2022 do Goncourt Choix Brésil, a estudante maranhense Jeane Souza Santana, de 23 anos, que participa pela primeira vez do evento, achou que 'La plus sécrète mémoire des hommes' "é extraordinário e tem muitos temas dentro da obra, que é dividida em três partes, como se fossem três livros", argumenta. "O que interessou a maioria de nós [estudantes] foi a forma de escrita, extremamente envolvente, fascinante, muito poética, que utiliza de muita metalinguagem, fazendo descrições precisas dos lugares, além de trazer sempre reflxões sobre os lugares e a pessoas. Ele tem uma narração envolvente, e se utiliza dessa narração, que também nos lembra muito o francês oral", avalia a estudante.

Jean Santana conta que foi preciso passar por uma seleção para integrar o júri do Choix Brésil Goncourt, com uma prova oral e escrita sobre a literatura, a experiência e intimidade com a literatura francesa clássica e contemporânea. "Sobretudo foi também avaliado o nosso nível de francês. Em seguida, começamos a fazer reuniões mensais, para discutir as quatro obras finalistas", detalha. "A importância desse processo para mim foi enorme, porque o projeto entra para nos trazer essa nova perspectiva da literatura contemporânea francesa, nos oferece mais intimidade com essas literaturas, e fortalece essa multitude de olhares, porque a literatura se constrói o tempo inteiro, se renova, ela é mágica", afirma.

Evento do Choix Brésil Goncourt na livraria da Travessa, no Rio de Janeiro.
Evento do Choix Brésil Goncourt na livraria da Travessa, no Rio de Janeiro. © Divulgação

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.