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Rendez-vous cultural

Irreverência e vanguarda marcam retrospectiva da estilista Elsa Schiaparelli em Paris

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“Shocking!”, ou “Chocante!”, é a mostra em cartaz no Museu de Artes Decorativas, de Paris, sobre o trabalho da estilista italiana Elsa Schiaparelli (1890-1973), quase 20 anos depois da última grande retrospectiva (2004) sobre a designer de moda.

Capa Phoebus (1937-1938), em rosa-choque, de Elsa Schiaparelli.
Capa Phoebus (1937-1938), em rosa-choque, de Elsa Schiaparelli. © Patricia Moribe/RFI
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Elsa Schiaparelli foi um dos grandes nomes da vanguarda parisiense dos anos 1920 e 1930. Exuberante e inovadora, ela criou peças icônicas, como um chapéu na forma de sapato, luvas com apliques imitando unhas coloridas, além de batizar e popularizar uma cor – o rosa-choque.

Luvas de Elsa Schiaparelli, parte da retrospectiva "Shocking!", em Paris.
Luvas de Elsa Schiaparelli, parte da retrospectiva "Shocking!", em Paris. © Patricia Moribe/RFI

Schiaparelli nasceu em 1890, em Roma, em uma família de acadêmicos e aristocratas – o tio astrônomo Giovanni Schiaparelli foi homenageado em 2016, dando nome a uma sonda europeia lançada em direção a Marte. Viajando pela Europa, Elsa conhece o futuro marido, o conde William de Wendt de Kerlor, com quem se casa em 1914. O casal se instala em Nova York e depois em Boston. Nos Estados Unidos, ela conhece os artistas Marcel Duchamp e Man Ray.

Schiaparelli deixa o marido mulherengo e volta para a Europa com a filha do casal, Gogo, no começo dos anos 1920. Em Paris, fica amiga dos dadaístas e tem como mentor o estilista francês Paul Poiret. Em 1927, ela apresenta sua primeira coleção, tendo como destaques peças em malha tecidas com ilustrações de ilusão de ótica, como gravatas e laços, hoje um design tão banalizado. Ela tem colaborações de artistas como Jean Cocteau e Salvador Dalí, mas foi rival histórica de Coco Chanel, com quem vivia trocando agulhadas.

Tailleur de Elsa Scaparelli a partir de um desenho de Jean Cocteau, em exposição na retrospectiva "Shocking!", em Paris.
Tailleur de Elsa Scaparelli a partir de um desenho de Jean Cocteau, em exposição na retrospectiva "Shocking!", em Paris. © Patricia Moribe/RFI

“Estrangeira e italiana, ela se projeta na primeira metade do século 20, em uma cultura de moda necessariamente francesa”, ressalta Suzana Avelar, professora doutora dos cursos de graduação e mestrado em Têxtil e Moda (USP). “É um momento em que Paris recebe tantas pessoas do mundo todo, principalmente da Europa, bem como artistas das vanguardas modernas – e Elsa Schiaparelli faz parte desse grupo extenso de pessoas que vêm das artes, design e moda. Ela convive e está de acordo com essas notórias vanguardas”, acrescenta.

Além de subverter a função das roupas, Schiaparelli vai trabalhar outras fibras, não só as naturais, explorando materiais sintéticos e químicos. “Tanto ela, quanto Chanel, trazem isso para a alta costura”, diz a historiadora, que cita ainda uma coleção de estampas circenses, onde mais uma vez Schiaparelli contempla situações do cotidiano.

“A gente vê a moda como um reflexo da cultura, mas na verdade é preciso entender a moda como elemento de composição na nossa cultura”, observa a historiadora. “A moda é o que torna o nosso corpo culturalmente visível, como citam várias teóricas como Kaja Silverman e Elizabeth Wilson. Mulheres como Elsa Schiaparelli, Coco Chanel e madame Grès tornam o corpo da mulher visível, mas do ponto de vista das próprias mulheres”, explica Suzana Avelar.

Depois do apogeu entre as duas grandes guerras, a grife Schiaparelli viveu uma fase de declínio. A maison apresentou sua última coleção em 1954 e fechou as portas pouco depois. Elsa Schiaparelli morreu em 1973, em Paris, aos 83 anos.

Acessórios extravagantes fazem parte da retrospectiva de Elsa Schiaparelli em Paris.
Acessórios extravagantes fazem parte da retrospectiva de Elsa Schiaparelli em Paris. © Patricia Moribe/RFI

A marca Schiaparelli caiu em desuso durante algumas décadas, até ser comprada pelo italiano Diego Della Valle em 2007 e relançada com estardalhaço em 2012. Em 2019, o estilista texano Daniel Roseberry, 33 anos, foi escolhido para ser o novo diretor artístico da casa.

Desde então a grife passou a frequentar os holofotes com frequência. Lady Gaga vestiu uma criação quando cantou o hino nacional em Washington para a posse de Joe Biden, em janeiro de 2021. Assim como a cantora Beyoncé, quando recebeu seu 28° prêmio Grammy, em março do ano passado, ou a modelo Bella Hadid, no tapete vermelho de Cannes, também em 2021. E, mais recentemente, Anitta vestiu um Schiaparelli vermelho e ousado para receber o prêmio VMA (Video Music Awards) por "Envolver", em Newark (Nova Jérsey), no dia 28 de agosto.

O Museu de Artes Decorativas de Paris, uma referência em design, reuniu 520 peças para a exposição, incluindo vestidos, acessórios, objetos de decoração, quadros e fotografias assinadas por grandes nomes da época. Há peças emprestadas, como o vestido com estampa de lagosta, uma colaboração com Salvador Dali, do Museu de Arte da Filadélfia (EUA).

Vestido com lagosta, uma colaboração entre Elsa Schiaparelli e Salvador Dalí, em exposição em Paris.
Vestido com lagosta, uma colaboração entre Elsa Schiaparelli e Salvador Dalí, em exposição em Paris. © Patricia Moribe/RFI

Ao lado de peças originais, a retrospectiva mostra a influência de Schiaparelli sobre estilistas que vieram na sequência, como Yves Saint Laurent, Azzedine Alaïa, John Galliano, Jean-Paul Gaultier e Christian Lacroix. Saint-Laurent já revistou o rosa-choque, por exemplo, enquanto Galliano se inspirou nas gravatas com estampas de jornal para criar tailleurs. E é impossível não se lembrar das embalagens de perfume de Gaultier diante dos frascos de Schiaparelli, principalmente do mítico Shocking, de 1937.

Capa de Yves Saint Laurent, coleção outono-inverno 2000, em rosa-choque faz parte da exposição sobre o trabalho de Elsa Schiaparelli, em Paris.
Capa de Yves Saint Laurent, coleção outono-inverno 2000, em rosa-choque faz parte da exposição sobre o trabalho de Elsa Schiaparelli, em Paris. © Patricia Moribe/RFI

A filha da designer casou-se com um americano e teve duas filhas, a modelo e atriz Marisa Berenson (“Cabaré”, “Barry Lindon”, entre outros) e a modelo e fotógrafa Berry Berenson, que morreu aos 53 anos em um dos aviões sequetrados por terroristas em 11 de setembro de 2001, em Nova York.

“Shocking! – os mundos surrealistas de Elsa Schiaparelli” fica em cartaz até 22 de janeiro de 2023, no Museu de Artes Decorativas de Paris.

Vestido da coleção primavera-verão 2021 Daniel Roseberry para Schiaparelli, em exposição em Paris.
Vestido da coleção primavera-verão 2021 Daniel Roseberry para Schiaparelli, em exposição em Paris. © Patricia Moribe/RFI

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