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Rendez-vous cultural

Com exposição "Aqua Mater", Sebastião Salgado lança novo alerta à crise climática em Paris

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Uma estrutura em bambu se destaca no meio dos arranha-céus de La Défense, o centro financeiro a oeste de Paris. É esta instalação com ares de oca que abriga "Aqua Mater", nova exposição do premiado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, que convida o público a uma experiência estética e sensorial em torno de um dos assuntos mais sensíveis à crise climática: os recursos hídricos.

"Aqua Mater", nova exposição de Sebastião Salgado, em La Défense (Paris), aborda o tema da água, e pode ser visitada até 22 de setembro de 2022. No detalhe, pescadores artesanais da Sicília, Itália.
"Aqua Mater", nova exposição de Sebastião Salgado, em La Défense (Paris), aborda o tema da água, e pode ser visitada até 22 de setembro de 2022. No detalhe, pescadores artesanais da Sicília, Itália. © RFI
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“Eu tive muita sorte de ter este espaço, no meio de uma área de concreto, aço e vidro. Um dos lugares mais áridos que eu já vi, e que tem essa flor de bambu no meio. Porque este pavilhão é muito belo”, declarou Sebastião Salgado, em entrevista ao canal francês France Inter. “É um prazer ter as fotos lá dentro, porque tem o formato de uma oca indígena. E dentro dela, as imagens têm outro significado. São imagens da natureza e de um elemento essencial a toda a humanidade”, completa.

São mais de 40 fotografias em exibição, a maioria inédita, todas do arquivo pessoal de Sebastião Salgado. Pescadores do Mediterrâneo, crianças da Etiópia, fiéis no Mali. Um cemitério de navios em Bangladesh, o encontro com um jaguar na Amazônia, geleiras da Antártida. Em todas as cenas, a água, ou a falta dela, prendem a atenção do fotógrafo.

“Em alguns casos, há água em abundância: cataratas, grandes rios, oceanos. E, em outros, há falta d’água. Algumas imagens me tocam muito. No deserto de Kalahari, tem uma mulher, num lugar onde havia caído uma pequena chuva, e ela suga com um canudo as pequenas gotas dentro de uma planta. Isso me toca o coração”, confessa o fotógrafo, vencedor do Prêmio Imperial do Japão em 2021, considerado o Nobel das Artes.

Sebastião Salgado é um dos premiados no 32º 'Nobel das Artes'
Sebastião Salgado é um dos premiados no 32º 'Nobel das Artes' AFP - JOEL SAGET

 

"A água é um elemento essencial. E nós a estamos perdendo"

“É uma exposição militante. Pois a água é um elemento essencial. E nós a estamos perdendo. Estamos perdendo todas as florestas do mundo. E não há nada, além das florestas, que seja capaz de manter a umidade no solo e criar as fontes de água que estamos perdendo numa velocidade enorme”, alerta Salgado.

A trilha sonora composta pelo músico francês François-Bernard Mâche, exclusivamente para a exposição, é outra importante contribuição para a experiência do público. O compositor se utiliza de sons da água, da natureza, para criar o ambiente sonoro de "Aqua Mater".

"Os raios, o som, a música é muito bonita, bem de acordo, podemos pensar que estamos sob a chuva”, descreve a aposentada Irene Cerquotti durante a visita. “A importância da água, como é explicado na entrada, mais a nossa relação carnal com a água, por meio do som e dessas diferentes formas. Água que bebemos, que nos banhamos, em forma de gelo. É muito sensorial”, ela observa.

A concepção do pavilhão transporta o visitante para longe, destaca o fotógrafo Michael Bodot, enquanto observa as obras de Salgado. “Fazemos uma imersão com os efeitos sonoros, temos a impressão de estarmos no meio da selva, com toda a ambientação e as fotos muito fortes. Quase podemos sentir a umidade e a chuva”, diz ele. “Exposições como essa são importantes porque nos fazem lembrar, a nós que temos água quando abrimos a torneira, que há muitas populações obrigadas a andar quilômetros para buscar água no poço. A água é a primeira riqueza que devemos preservar, porque é vital", completa.

Já a enfermeira Pascal Drivot enfatiza os contrastes da exposição. “São fotos esplêndidas, com um contraste maravilhoso em preto e branco. E também tem a maneira de apresentar a água. Há fotos em que temos a impressão de que a água é onipresente. Já em outras, como a da mulher que suga água gota a gota com um canudo, demonstra uma necessidade extrema”, compara.

Muito mais que uma experiência estética, a exposição é principalmente um chamado à consciência ambiental, alerta Sebastião Salgado. “Para mim, é muito importante que os franceses venham visitar esta exposição para ver como eles são privilegiados por terem água de boa qualidade que chega às suas casas, que sai de suas torneiras, enquanto há outras pessoas retratadas nessa exposição que esperam quase um dia inteiro para ter um pouco de água para beber”, sublinha o mestre das fotos em preto e branco.

A exposição "Aqua Mater" fica em cartaz até 22 de setembro 2022 na Esplanada de La Défense, na região parisiense.

A exposição Aqua Mater, de Sebastião Salgado, acontece dentro de um pavilhão temporário em bambu construído pelo arquiteto colombiano Simón Velez.
A exposição Aqua Mater, de Sebastião Salgado, acontece dentro de um pavilhão temporário em bambu construído pelo arquiteto colombiano Simón Velez. © RFI

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