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Radar econômico

Primeiro passo de projeto de moeda única do Brics deve ser com transações nas moedas nacionais

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Um dos focos da agenda econômica da 15ª Cúpula do Brics, na África do Sul, é o avanço das discussões sobre a adoção de uma eventual moeda única nas transações entre os países integrantes do bloco de emergentes. Um primeiro passo deve ser a ampliação dos fluxos nas moedas nacionais entre os países-membros, com um papel protagonista do chamado Banco do Brics nesta transição.

Avançar na ‘desdolarização’ das transações comerciais entre os países do Brics é uma das principais pautas da  cúpula do bloco que acontece em Joanesburgo, na África do Sul.
Avançar na ‘desdolarização’ das transações comerciais entre os países do Brics é uma das principais pautas da cúpula do bloco que acontece em Joanesburgo, na África do Sul. REUTERS - JAMES OATWAY
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Lúcia Muzell, enviada especial da RFI a Joanesburgo

Assim, em um primeiro momento, em vez de usar o dólar para a China investir no Brasil, os dois países poderiam escolher o yuan chinês – que, entre as cinco moedas do bloco, é a mais internacionalizada. O exemplo foi evocado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista nesta terça-feira (22).

Desde que assumiu o Planalto, ele tem reiterado o desejo de concretizar o projeto, um sonho antigo dos países em desenvolvimento que ganhou força desde que os juros americanos se estabilizaram em um patamar elevado.

“Por que eu faço negócio com a China e preciso de dólar? O Brasil e a China têm tamanho suficiente para fazer negócios nas suas moedas ou em outra unidade de conta, sem desvalorizar a moeda da gente e sem negar. Ela continua existindo, mas a gente cria uma moeda de comércio exterior”, explicou. “O que é importante é que a gente não pode depender de um único país que tem o dólar, e nós somos obrigados a ficar vivendo da flutuação desta moeda. Não é correto.”

O presidente ressaltou que o plano não representa “negar o dólar”, mas frisou que os países em desenvolvimento podem desviar da moeda americana para poderem, inclusive, se ajudarem entre si nos momentos de crise. “Há países, como a Argentina, que não podem comprar dólar agora, e estão em uma situação muito difícil, porque não têm dólar. Ora, para vender para o Brasil, não deveria precisar de dólar”, evocou.

Passo a passo

O presidente do Instituto do Brasil África, João Bosco Monte, acompanha em Joanesburgo o andamento das negociações de um projeto “complicado”, segundo ele, para sair do papel. “Os países têm, naturalmente, a capacidade de transações bilaterais entre si nas suas moedas, e isso talvez seja a gênesis de um novo captulo. A identificação de uma moeda comum é, por enquanto, um desejo que eles têm colocado sobre a mesa”, avalia.

Diante de uma plateia de empresários, industriais e integrantes do sistema financeiro, no Fórum Empresarial do Brics, Lula e o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, enfatizaram o papel do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês) para acelerar o projeto com as moedas nacionais. O brasileiro sonha que o NDB um dia será “mais forte que o FMI” nos empréstimos para as nações em desenvolvimento.

Já o presidente russo, Vladimir Putin, comentou, por videoconferência, que o processo de fim da hegemonia do dólar nas transações comerciais globais era "irreversível".  

Brics empresta em rands sul-africanos

Na semana passada, a instituição realizou a primeira venda de títulos da dívida em rands sul-africanos: um título de cinco anos de 1 bilhão de rands, o equivalente a US$ 53,1 milhões. A presidente do banco, Dilma Rousseff, declarou que o NDB espera emprestar até US$ 10 bilhões este ano para os países membros, dos quais cerca de 30% devem ser nas moedas locais – incluindo ainda o real brasileiro, o rublo russo e a rúpia indiana.

“Brigar com os Estados Unidos e o sistema financeiro mundial não é fácil. O fato de o Banco do Brics trazer essa agenda e puxar essa discussão favorece para que, eventualmente, as transações comerciais entre os países possam usar outras moedas. É possível? Sim, depende obviamente da conversa, do entendimento político, mas isso não é uma ação que se esgota nos dois dias de conversas em Joanesburgo”, salienta Bosco Monte.

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