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O Mundo Agora

Berlinale 2024: mais uma vez o cinema domina Berlim

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Desde o dia 15 deste mês, até o dia 25, acontece a edição de número 74 do Festival Internacional de Cinema de Berlim, mais conhecido como “Berlinale”. Lançado em junho de 1951 e realizado desde 1978 no mês de fevereiro de cada ano, ele integra o chamado “Trio de Ouro” dos festivais de cinema na Europa, com o de Cannes, na França, que acontece em maio, e o de Veneza, na Itália, no fim de agosto ou começo de setembro.

Berlinale 2024: mais uma vez o cinema domina Berlim
Berlinale 2024: mais uma vez o cinema domina Berlim AFP - JOHN MACDOUGALL
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Flávio Aguiar, analista político

Pode-se dizer que o Festival de Berlim é neto da Segunda Guerra Mundial e filho da Guerra Fria. Berlim estava dividida em quatro setores, ocupados pelos Estados Unidos, Inglaterra e França, do lado capitalista-Ocidental, e pela União Soviética, do lado comunista-Oriental.

Em Berlim Ocidental, o número de jovens e de jovens adultos era relativamente escasso, pois a maioria havia morrido ou partido devido à guerra. Havia muitas mulheres de todas as idades, crianças e muitos homens idosos. As autoridades de Berlim Ocidental e os ocupantes tomaram algumas medidas para atrair jovens e jovens adultos. Por exemplo, o jovem que viesse morar na cidade cercada pela Alemanha Oriental, comunista, ficava isento do serviço militar.

Criara-se também, em 1948, a Universidade Livre de Berlim, com financiamento dos Estados Unidos, já que a existente - hoje Universidade Humboldt - ficara do lado Oriental. Neste contexto, o oficial norte-americano Oscar Marley, que nascera na atual Bielorrússia e fora jovem para os Estados Unidos, convenceu o Alto-Comissariado de seu país para Berlim que uma destas iniciativas poderia ser um festival internacional de cinema, já que a antiga capital alemã tivera uma longa tradição cinematográfica. Foi assim que nasceu a Berlinale.

Daqueles três festivais europeus, a Berlinale tem a estrutura mais original. Embora tenha um centro nervoso, na Praça Marlene Dietrich, na região da Potsdamer Platz, onde se realizam o desfile das celebridades e autoridades convidadas no tapete vermelho, a abertura e a premieção final, o festival ocupa a cidade inteira, graças à promoção Berlinale goes Kietz, “A Berlinale vai para os bairros”. A competição principal se dá em torno do cobiçado troféu “Urso de Ouro”, atribuído ao melhor filme e dos “Ursos de Prata” atribuídos ao melhor diretor, melhor ator e atriz, etc. Quem o atribui é o júri internacional, neste ano composto por sete membros e presidido pela atriz queniana, nascida no México, Lupita Nyong’o. Vinte filmes estão na competição.

Entretanto, o festival distribui muitas dezenas de outros prêmios, alguns deles atribuídos por entidades associadas, como a Anistia Internacional. E reúne centenas de outros filmes, distribuídos entre várias seções e mostras paralelas, como a voltada para crianças e para adolescentes, ambas com seus próprios júris, formados por membros infantis e jovens, respectivamente. Há mostras retrospectivas, temáticas, como a voltada para temas LGBTQIA2S+, e inúmeras mesas de debate e seminários para jovens cineastas.

Há ainda prêmios para diferentes gêneros cinematográficos, como curtas-metragens e documentários. Será apresentado ainda o prêmio de público, escolhido em votação direta. Neste ano haverá uma homenagem especial, um Urso de Ouro Honorário concedido ao veterano cineasta norte-americano Martin Scorsese, pelo conjunto de sua obra. E há apresentações e debates paralelos, como o que acontecerá, no Instituto Ibero-Americano, sobre o filme que está sendo produzido sobre a biografia do brasileiro Frei Betto, o frade dominicano que, com outros, se destacou na resistência contra o regime da ditadura civil-militar oriunda do golpe de Estado de 1964.

O cinema brasileiro costuma ter uma presença marcante na Berlinale. Dois filmes brasileiros ganharam o Urso de Ouro: Central do Brasil, dirigido por Walter Salles, em 1998, cuja atriz-protagonista, Fernanda Montenegro, ganhou o Urso de Prata de melhor atriz, e Tropa de Elite, de José Padilha, em 2008. Porém, raro é o ano em que algum filme brasileiro deixa de ganhar pelo menos um prêmio dentre os muitos distribuídos.  

Neste ano, o cinema brasileiro está representado por quatro filmes: os longas "Betânia", de Marcelo Botta, e "Cidade Campo", de Juliana Rojas; e os curtas "Lapso", de Carolina Cavalcanti, e "Quebrante", de Janaína Wagner. Além disto, o Brasil estará presente em duas coproduções: "Shikun", inspirado na peça Os rinocerontes, de Eugène Ionesco, e "Dormir de Olhos Abertos", sobre trabalhadores chineses explorados em Recife.

A Berlinale costuma também ter um forte apelo político e 2024 não é exceção. Políticos de extrema direita do partido alemão Alternative für Deutschland foram impedidos de participar da sessão de abertura do festival. Durante sua realização, houve protestos contra racismo. E antes divulgou-se um manifesto assinado por participantes e trabalhadores do festival pedindo apoio para a população palestina da Faixa de Gaza.

Last, but not least, deve-se registrar que a pujança, a variedade e o alcance da Berlinale junto às novas gerações ajudam a entender por que, em Berlim, cinema de rua não vira bingo, estacionamento, igreja ou supermercado. 

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