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O Mundo Agora

Dois ausentes dominaram o Fórum Econômico Mundial em 2024: Trump e Putin

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Na semana passada realizou-se a 54ª edição do encontro anual promovido pelo Fórum Econômico Mundial na cidade de Davos, nos Alpes suíços. O Fórum Econômico Mundial é uma Organização Não-Governamental criada em 1971 pelo empresário e professor de Economia Klaus Schwab, de nacionalidade alemã, com sede na cidade de Cologny, também na Suíça, perto de Genebra. Schwab preside a ONG e o encontro até hoje.

Com a queda do muro de Berlim em 1989 e a dissolução da União Soviética em 1991 o Fórum de Davos tornou-se uma menina dos olhos do capitalismo triunfante na Guerra Fria.
Com a queda do muro de Berlim em 1989 e a dissolução da União Soviética em 1991 o Fórum de Davos tornou-se uma menina dos olhos do capitalismo triunfante na Guerra Fria. AP - Markus Schreiber
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Flávio Aguiar, analista político

Entre os objetivos da ONG está o de promover iniciativas de governança global baseadas em princípios do liberalismo econômico. Para tanto reúne anualmente cerca de 3.000 empresários, governantes, acadêmicos, lideranças globais, jornalistas e demais “influenciadores” (para usar uma palavra da moda) que durante cinco dias debatem temas da atualidade em centenas de mesas.

Com a queda do muro de Berlim em 1989 e a dissolução da União Soviética em 1991, o Fórum de Davos tornou-se uma "menina dos olhos" do capitalismo triunfante na Guerra Fria. Naquele momento, o cientista político norte-americano Francis Fukuyama chegou a proclamar o “fim da história”, afirmando que o capitalismo liberal do Ocidente e sua forma de democracia eram o estado social definitivo da humanidade.

Ao lado dos entusiastas do Fórum Econômico Mundial cresceram também seus críticos, vendo nele a formação de uma elite “desnacionalizada” sem compromissos sociais que não os de natureza apenas retórica. Fruto destas críticas nasceu seu contraponto, o Fórum Social Mundial, criado em 2001 em Porto Alegre, no Brasil. O FSM reuniu desde sempre um número expressivo de ONGs, sindicalistas, militantes de movimentos sociais e políticos em geral de esquerda. Já na sua primeira edição o FSM reuniu cerca de 20.000 participantes.

Em alguns momentos em que as datas de realização dos dois fóruns coincidiram, chegou a acontecer um diálogo virtual entre os participantes de cada um. Neste ano o FSM se reunirá no Nepal, na Ásia, entre 15 e 19 de fevereiro. Aliás, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, é dos poucos líderes mundiais com presença marcante em ambos os Fóruns, embora estivesse ausente nesta edição do de Davos em 2024.

Inteligência Artificial

Desta vez, vários comentaristas concordaram que a grande estrela dos debates foi a Inteligência Artificial, suas vantagens, conquistas e também seus problemas. Ressaltou-se a sua capacidade relâmpago de criar “fake news” e mundos imaginários num ano em que processos eleitorais de grande alcance envolvem 40% da humanidade, em todos os continentes regularmente habitados.

Também foram marcantes as presenças do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, como sempre passando seu chapéu em busca de financiamento e mais armas para a guerra de seu país contra a Rússia, e a do recém-empossado presidente da Argentina, o ultra-liberal Javier Milei, propagandeando seu anarco-capitalismo e chegando ao ponto de afirmar que o próprio Fórum de Davos se apresentava contaminado por algo que chamou de “coletivismo” e “socialismo” - coisa que provocou aplausos e risos ao mesmo tempo.

Mas houve duas outras "presenças marcantes" nas mesas, nos corredores e nos encontros sociais do Fórum: os ausentes Donald Trump e Vladimir Putin. 

Trump foi uma espécie de aparição fantasmagórica, com o risco de seu retorno à Casa Branca e seus princípios de “America First” e desprezo por fóruns internacionais - o que, de certo modo, inclui Davos. 

Por outro lado, Putin - que já foi convidado ao Fórum e dirigiu-lhe a palavra em 2009 - foi eleito pelos comentários gerais como o inimigo n* 1 dos princípios de Davos.

Foi tal a hostilidade em relação ao presidente russo que circulou nos corredores, de modo insistente, a proposta de expropriar os 350 bilhões de dólares das reservas internacionais da Rússia para aplicá-los na guerra e na recuperação da Ucrânia.

Uma ideia semelhante já ocorrera antes em relação às reservas em ouro da Venezuela no Banco da Inglaterra, para entregá-las ao então líder oposicionista Juan Guaidó, hoje desacreditado por seus próprios ex-seguidores. 

Tais propostas contêm um paradoxo. Aparentemente a expropriação de capitais, uma prática antes defendida por organizações revolucionárias de esquerda, passou a ser uma bandeira seletiva de lideranças do Ocidente capitalista, para ser aplicada contra quem considerem um inimigo.

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