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O Mundo Agora

2023: um ano marcado por guerras e extremos

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2023 termina como um ano marcado por extremos, para onde quer que se olhe. Guerras e conflitos armados, internacionais e intranacionais, ou sua ameaça, estiveram e estão presentes em todos os cinco continentes regularmente habitados. Dois destes conflitos se destacaram durante este ano. São: a já prolongada guerra na Ucrânia, envolvendo diretamente este país e a Rússia e indiretamente os aliados e fornecedores de armamentos e recursos para o primeiro; e a guerra recentemente iniciada ou reiniciada entre Israel e o grupo Hamas, conflito que também arrisca ser prolongado.

Soldados israelenses se reúnem em torno de tanques perto da fronteira com a Faixa de Gaza, no sul de Israel, em 24 de dezembro de 2023, em meio a batalhas contínuas entre Israel e o grupo militante Hamas.
Soldados israelenses se reúnem em torno de tanques perto da fronteira com a Faixa de Gaza, no sul de Israel, em 24 de dezembro de 2023, em meio a batalhas contínuas entre Israel e o grupo militante Hamas. AFP - MENAHEM KAHANA
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Flavio Aguiar, analista político

A guerra na Ucrânia entrou num impasse. O ano começou com uma planejada contraofensiva por parte da Ucrânia, que prometia ser espetacular. Ela empacou, para dizer o mínimo, sem conseguir ganhos significativos até o momento. Na frente econômica e política, o conflito também empacou.

As sanções econômicas e políticas impostas ao presidente Vladimir Putin e à Rússia não parecem ter abalado nem o prestígio interno daquele nem o desempenho desta. Ambos se aproximaram mais da China e as sanções não contam com um apoio significativo de países fora do círculo dito ocidental, liderado pelos Estados Unidos.

Além disso, a guerra na Ucrânia se viu ofuscada pela emergência do segundo conflito entre Israel e o Hamas. No momento, o governo de Kiev luta por manter-se à tona nas atenções mundiais, diante da fadiga provocada pelo prolongamento do conflito, seu alto custo financeiro e a falta de ganhos significativos no campo de batalha.

Israel x Hamas

A guerra entre Israel e o Hamas começou desta vez pelo ataque terrorista deste grupo em 7 de outubro, invadindo aquele país e produzindo cerca de 1.200 mortos, na maioria civis israelenses. O ataque provocou uma reação imediata de apoio a Israel.

Entretanto, este apoio vem perdendo força rapidamente, devido à brutalidade e a extensão da resposta do governo de Benjamin Netanyahu, atingindo de modo indiscriminado a população civil da Faixa de Gaza e também, ainda que em menor escala, na Cisjordânia ocupada, provocando cerca de duas dezenas de milhares de vítimas fatais, em grande parte crianças e mulheres.

Também chama a atenção o elevado número de mortes entre médicos, paramédicos e jornalistas em Gaza, além da destruição de grande parte da sua infraestrutura e do deslocamento forçado de sua população civil.

Na Europa, este conflito estimulou a intensificação do tradicional antissemitismo contra judeus e suas instituições, como sinagogas e cemitérios, mas também estimulou a islamofobia. Esta última forma de intolerância ganhou mais força graças à tendência, em quase todo o continente, de partidos e movimentos de extrema direita para “cancelar” seu passado antissemita e aproximar-se de Israel.

Por outro lado, em muitos países europeus registraram-se manifestações massivas em favor dos direitos dos palestinos e de um cessar-fogo humanitário em Gaza. Muitas vezes esses manifestantes foram reprimidos pela polícia e condenados por autoridades sob a alegação de que supostamente abririam espaço para manifestações em favor do Hamas ou antissemitas.

A extrema direita continuou crescendo na Europa, em duas frentes. Em eleições, ela vem ganhando cada vez mais espaço e votos, como na Holanda, onde o Partido da Liberdade, liderado por Geert Wilders, foi o mais votado no recente pleito nacional.

Ao mesmo tempo, ela vem tendo sucesso em liderar a pauta anti-imigrantes e refugiados oriundos de fora do continente, com muitos países adotando medidas cada vez mais duras e restritivas contra eles. Por outro lado, ela perdeu o governo polonês, em favor de uma coligação mais próxima do centro, liderada por Donald Tusk.

Inteligência Artificial e Meio Ambiente

Na área tecnológica, 2023 foi um ano marcado pelas discussões éticas em torno do uso da chamada Inteligência Artificial. Louva-se seu uso prático em áreas como saúde e pesquisas científicas, dentre outras.

Entretanto, manifesta-se preocupação pela possibilidade de seu uso repressivo no campo político, como as técnicas de reconhecimento facial, que podem abrir caminho para racismos e outras formas de discriminação. Neste mês de dezembro a Comissão e o Parlamento Europeu anunciaram que adotarão em breve um código de ética para o setor, que seria o primeiro no gênero em todo o mundo.

Na frente climática, 2023 foi um ano marcado por um sem número de inundações no planeta, sintoma do crescente aquecimento global. A realização da COP28 em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, renovou a esperança de que algo venha de fato a ser feito para contê-lo. Apesar da timidez dos termos da declaração final, foi a primeira vez em que o tema dos combustíveis de origem fóssil e de seus problemas esteve no centro das atenções. 

Por último, mas não menos importante nesta rápida resenha de 2023, cabe registrar o retorno significativo do Brasil à cena política mundial, depois dos anos de ostracismo e isolamento, devido à  mediocridade da política externa do governo anterior.

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