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O Mundo Agora

Quais os cenários para Putin diante da resistência dos ucranianos e das sanções contra a Rússia ?

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Apesar de não enviar soldados da OTAN para combater ao lado do exército ucraniano contra soldados russos, diversos países estão mostrando um nível de retaliação econômica e financeira contra a Rússia, como nunca havíamos visto nas últimas décadas.

O presidente russo, Vladimir Putin durante pronunciamento à nação, no dia 24/02/2022.
O presidente russo, Vladimir Putin durante pronunciamento à nação, no dia 24/02/2022. © Russian Presidential Press Service via AP
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Thiago de Aragão, de Washington

 A velocidade com o qual o mundo isolou uma parte considerável do universo comercial e financeiro da Rússia, bem como importantes tomadores de decisão, empresários e seus familiares, chamou a atenção de muitos em todo o mundo e, em especial, de Vladimir Putin. 

Putin até duas semanas atrás, se encontrava em um jogo onde a vantagem era dele. Ao posicionar um volume monstruoso de suas tropas ao longo da fronteira ucraniana, o líder russo tinha líderes de toda a Europa, além dos Estados Unidos, buscando oferecer incentivos para que ele abandonasse a ideia de invasão.

O presidente americano Joe Biden chegou a oferecer uma “paralisia” no processo de adesão da Ucrânia a OTAN, de vários anos. Boris Johnson, do Reino Unido, Emmanuel Macron, da França, Olaf Scholz, da Alemanha: todos tentaram tudo que era possível para que Putin fosse demovido da ideia de invasão.

Putin surpreendido?

Nesse momento, Putin tinha uma vantagem comparativa bem ampla em relação à Ucrânia e aos principais países da OTAN: todos estavam dispostos a negociar, a China havia firmado um acordo comercial forte com a Rússia e a alta nos preços das commodities beneficiavam as próprias exportações russas. 

Em questão de dias, Putin viu tudo desmoronar, num movimento onde seu blefe foi mal dado, seu serviço de inteligência não antecipou a forma como o exército e o povo ucraniano defenderiam seu país, nem como outros países colaborariam com equipamentos militares e dinheiro para sustentar a defesa ucraniana. 

Putin sempre transmitiu a imagem de ser o líder mais meticuloso e bem preparado entre os países relevantes do mundo. Se tinha um que demonstrava “saber de tudo”, esse era Putin. Sua capacidade de conduzir operações psicológicas no universo da geopolítica, o fez ter o ex-Presidente americano, Donald Trump no bolso (como na histórica coletiva de imprensa em Helsinque), o fez expandir a dependência europeia no gás russo via Nordstream 2, e o fez ser temido e respeitado. 

Reação de desespero

Putin ainda é temido e respeitado, mas pela primeira vez mostrou a faceta de vacilante. No momento em que coloca seu operativo nuclear em estado de alerta, Putin não demonstra um movimento estratégico, mas um movimento de quem está desesperado e contra a parede.

Enquanto os principais canais de televisão russos narram um processo de vitória na Ucrânia (diferentemente da realidade) e o governo russo insiste na narrativa de “operação de paz”, Putin demonstra que precisa exageradamente da ficção para poder aliviar a realidade. 

Impacto das sanções contra Moscou

Na lista de sanções, algumas merecem destaque. As sanções contra Putin têm um peso extraordinário. Primeiro, que o próprio Putin disse que caso países “ocidentais” aplicassem sanções contra ele, se arrependeriam. Na ânsia de desestabilizar o processo pessoal de tomada de decisões, sanções contra Putin foram aplicadas logo após a votação na Duma (câmara baixa do Parlamento russo) para a independência de Lugansk e Donetsk. 

Sanções contra bancos russos (e bielorrussos) já eram esperadas, uma vez que essa é a movimentação clássica no universo das sanções. Em cima disso, as decisões que atingem o Banco Central russo inibem o uso das reservas internacionais para ações que visam driblar sanções. 

A exclusão do sistema de interconexão bancária Swift é provavelmente a mais impactante no universo econômico financeiro, até o momento. Vários bancos russos estarão desconectados do sistema financeiro internacional, tornando o fluxo de transações entre a Rússia e vários outros países bem mais complexo. 

As sanções não parecem frear o ímpeto de Putin de conquistar a Ucrânia. Na verdade, não está claro nem o objetivo final de Putin em relação ao seu vizinho. Seria uma anexação total ou uma troca de governo, para que os desejos de Moscou fossem bem alinhados as decisões de Kiev? Isso tudo ainda está em aberto, pois os objetivos são traçados à medida que os planos fracassam ou não.

O grande problema é que a medida que alguns planos fracassam ou se tornam mais difíceis, as decisões estratégicas passam a ser feitas com o “fígado”, aumentando o risco do erro de cálculo e colocando o mundo mais perto de uma guerra.

Opções de Putin

Putin, para continuar sendo o Putin que conhecemos desde 1999, tem poucas opções na sua frente: não ceder em nada e avançar com tudo em cima da Ucrânia, sem medo ou temor da destruição que causará e do isolamento que assolará a Rússia. Ele poderá também chegar a um cessar fogo e colocar todo o recurso criativo russo para fabricar cenas e narrativas de vitória, a fim de não dar o braço a torcer. 

Há sempre a possibilidade de Putin deixar de ser o Putin que conhecemos. Para isso, basta ele personalizar ainda mais essa guerra, como se estivesse lutando sozinho contra tudo que considera ruim do “Ocidente”.

Nesse cenário, moram as possibilidades mais nefastas. Uma guerra que não acaba, pois a aceitação de uma derrota (ou até mesmo de uma não vitória), simplesmente não é tolerada por Putin.

À medida que as sanções aumentam, o líder russo acredita que a resposta deve ser maior, a vitória avassaladora e que todos os envolvidos deverão se arrepender. Nesse cenário, a derrota se torna inevitável, mas no caminho para a derrota, o lastro de destruição tende a ser inesquecível.

Ao longo dos próximos dias, veremos qual dos cenários se desenvolverá e qual Putin entrará para a história. Independentemente de qual seja, seu lugar não será dos mais agradáveis.

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