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A Semana na Imprensa

“Roupa sexy também pode ser feminista?”, questiona revista francesa

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A revista Week-End, suplemento do jornal econômico francês Les Echos, traz em sua edição desta semana uma reportagem sobre as mudanças recentes na moda feminina. O texto aponta como, após terem sido criticadas durante anos, as roupas consideradas sexy voltaram a ser usadas em 2021. Mas, desta vez, com uma significação bem mais política e até mesmo feminista.

Les Echos fala de moda em sua revista semanal : "O sexy, uma arma feminina?", questiona a publicação, que conta a polêmica em torno da capa da revista Vogue britânica com a cantora Billie Eilish.
Les Echos fala de moda em sua revista semanal : "O sexy, uma arma feminina?", questiona a publicação, que conta a polêmica em torno da capa da revista Vogue britânica com a cantora Billie Eilish. © Fotomontagem RFI/ Les echos/ vogue.co.uk
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A reportagem começa contando um dos episódios que deram o que falar nas últimas semanas na cena pop mundial: a imagem da cantora Billie Eilish na capa da versão britânica da revista Vogue do mês de junho. A jovem artista aparece na primeira página da publicação, que já está nas bancas, usando uma saia justa, luvas longas de látex, lingerie rendada aparente e decote desenhado por um corset, em uma composição retrô toda em tons de rosa, claramente inspirada das pin-ups do passado.

A foto provocou surpresa e algumas críticas, já que a cantora de 19 anos, conhecida por seu look descontraído, com roupas largas e moletons, sempre evitou mostrar suas curvas, seguindo uma tendência A-gender adolescente, na linha do NormCore inspirado nos anos 1990. Em resposta aos comentários, Billie Eilish defendeu a ideia de mostrar seu corpo “se ela quiser e quando quiser”.

“É preciso inverter a situação e se apropriar novamente desse discurso. Nada deve tirar o respeito que as pessoas devem ter como você, qualquer que seja a nossa escolha em termos de vestuário, mostrando ou não seu corpo e sua pele”, declarou a cantora.  

Paradoxal

“Isso pode parecer paradoxal, quando se sabe que essas representações do sexy foram durante muito tempo consideradas asfixiantes para as mulheres”, resume a jornalista do Les Echos, Claire Touzard. O texto lembra como, durante muito tempo, essa estética de sensualidade exacerbada já era criticada por perpetuar uma imagem ditada pelo patriarcado, vista como uma “injunção à magreza, à perfeição e à beleza seguindo critérios muitos restritos”.

No entanto, em 2021, “o sexy não é inocente, e sim consciente”, explica a revista, lembrando que muitas das grifes que investem nessa estética são marcas de moda feminina criadas por mulheres para mulheres. “Não fazemos roupas para agradar os outros, e sim a nós mesmas”, comenta Laurie Arbellot, cofundadora da jovem grife francesa Minuit.

A revista Week-End explica ainda que esse movimento é bem diferente do chamado pornô chic do início dos anos 2000, quando a dimensão sexy tinha um objetivo comercial mas era, acima de tudo, apresentado de um ponto de vista masculino. Em 2021, a mulher deixa de ser um objeto e passa a ser o sujeito, lança a reportagem. “É ela quem institui a sua visão do sexy, de sua sexualidade e de sua nudez”, completa.

“Nudity is not sexuality”

A reportagem ressalta que a questão vem ganhando contornos políticos. Como quando, em setembro passado, adolescentes francesas reivindicaram o direito de usar saias curtas nas salas de aula, em resposta ao pedido feito pelo ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, para que as estudantes respeitassem um vestuário mais pudico, considerado mais “republicano”. “Essas jovens defendiam que o problema não vem da roupa que usam, e sim do olhar sobre elas”, comenta o texto, que faz referência ao combate da artista engajada Habibitch, cujo trabalho defende uma desexualização do corpo feminino, martelando que “nudity is not sexuality”.

Além disso, comenta a revista, o sexy versão 2021 defende o empoderamento da mulheres e suas diferenças, com “corpos longe dos critérios [tradicionalmente] impostos, mostrando as imperfeições com orgulho”. Segundo a reportagem, essa moda se apresenta como “uma liberação do corpo, um ativismo assumido por pop stars, intelectuais, influenciadores e novas marcas”.

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