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Linha Direta

Estudo inédito na Igreja Evangélica da Alemanha revela milhares de casos de pedofilia desde 1946

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Um estudo apresentado na quinta-feira (25) revelou milhares de casos abusos sexuais de menores desde 1946 na Igreja Evangélica da Alemanha. A investigação contabilizou mais de 2.200 casos, envolvendo 1.259 supostos abusadores. Mas segundo uma estimativa da equipe disciplinar que realizou a pesquisa, mais de 9.300 menores podem ter sido vítimas de abusos sexuais na Igreja Evangélica da Alemanha nas últimas décadas. Pela primeira vez um estudo traz números de abusos de menores dentro da Igreja Evangélica.

Um casal mostra cartazes com os dizeres "Quantos abusadores mais vocês protegem?" (esq.) e "Pedofilia é assassinato da alma das crianças" durante um protesto silencioso de vítimas de abuso e iniciativas da igreja na Catedral de Essen, oeste da Alemanha, em 21 de janeiro de 2022.
Um casal mostra cartazes com os dizeres "Quantos abusadores mais vocês protegem?" (esq.) e "Pedofilia é assassinato da alma das crianças" durante um protesto silencioso de vítimas de abuso e iniciativas da igreja na Catedral de Essen, oeste da Alemanha, em 21 de janeiro de 2022. AFP - INA FASSBENDER
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Márcio Damasceno, correspondente da RFI em Berlim

A pesquisa, realizada por uma equipe multidisciplinar, estimou que o número de menores abusados por membros da Igreja Evangélica da Alemanha (DEK, na sigla em alemão), ou Igreja Luterana do país, pode chegar a 9.355. A estimativa foi feita com base na análise de casos envolvendo ao menos 2.225 vítimas de abusos, e 1.259 potenciais abusadores desde o ano de 1946.

A média de idade das vítimas era de 11 anos no momento da primeira agressão, sendo que cerca de dois terços delas são do sexo masculino. Dentre os acusados, um terço são clérigos ou assistentes eclesiásticos. Ainda no estudo, foi identificado que a média de idade entre os abusadores, quase todos homens, é de 45 anos.

Mas os investigadores destacaram que esse número provavelmente não passa "da ponta da ponta do iceberg", porque eles não conseguiram examinar todos os arquivos, já que muitas igrejas não enviaram documentos.

O relatório, contendo mais de 800 páginas, foi encomendado pela própria Igreja Luterana alemã, que é a maior organização protestante do país, e preparado por especialistas de diferentes universidades e institutos alemães.

Pela primeira vez um estudo traz números de abusos de menores dentro da Igreja Evangélica. Até agora só eram conhecidos no país os números referentes à Igreja Católica. Um estudo de 2018 comissionado pela Conferência dos Bispos da Alemanha concluiu que 3.677 menores sofreram abuso sexual por membros do clero católico na Alemanha entre 1946 e 2014.

Mas, como no caso agora dos protestantes, a estimativa é que o número real de vítimas seja bem maior, já que os autores do estudo não conseguiram acessar todos os arquivos da instituição. Também no caso da Igreja Evangélica não foi possível acesso a todos os documentos eclesiásticos.

Imagem arranhada e perda de financiamento

Os escândalos de pedofilia na Igreja Católica fizeram com que a instituição perdesse muitos fiéis na Alemanha. O mesmo também pode acontecer agora com relação à Igreja Evangélica, mas ainda é algo difícil de prever.

A perda de seguidores pelas igrejas na Alemanha é especialmente preocupante para essas instituições porque, diferentemente de como é no Brasil, por exemplo, parte do financiamento dessas igrejas vem diretamente de uma taxa paga pelos fiéis. O chamado Kirchensteuer, funciona como um tipo de dízimo e, segundo o portal Jusbrasil, se trata de uma taxa de 8% ou 9% calculada em cima do imposto de renda, ou um percentual semelhante sobre os impostos por ganhos de capital, como investimentos em renda fixa, por exemplo.

Então, a partir do momento que uma pessoa na Alemanha declara formalmente seu desligamento da Igreja, seja da Católica ou da Evangélica, ela deixa de pagar, através do Estado alemão, a taxa referente ao imposto eclesiástico, com isso, a igreja em questão recebe menos dinheiro vindo dos impostos.

O que é certo é que a imagem da Igreja Evangélica da Alemanha, a Igreja Luterana, sai bastante arranhada depois da divulgação dos números. Já que durante os escândalos de pedofilia na Igreja Católica, a Luterana nutria a imagem de ser mais democrática, mais participativa, mais liberal, menos rígida e descentralizada. Entretanto, a pesquisa revela que os protestantes alemães têm os mesmos tipos de problema.

E para aqueles que ligavam a pedofilia na Igreja Católica ao celibato dos padres, agora veem que aparentemente uma coisa não necessariamente tem relação com a outra. Os pastores evangélicos podem se casar. Inclusive, cerca de três quartos dos supostos abusadores nos casos registrados pelo estudo eram casados na época da primeira agressão.

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