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Linha Direta

Guia trans do governo britânico para escolas e faculdades causa discussão no Reino Unido

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O novo documento não agrada nem aos mais conservadores e tampouco a comunidade LGBT+. A nova orientação para professores na Inglaterra em como lidar com trocas de nomes, pronomes, uso de uniforme e banheiro não é lei, mas espera-se que seja adotada como um guia prático, apesar dos pontos polêmicos introduzidos pelo departamento de educação. 

Cartaz durante protesto em Lisboa, no dia da visibilidade trans (imagem ilustrativa).
Cartaz durante protesto em Lisboa, no dia da visibilidade trans (imagem ilustrativa). AP - Armando Franca
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Yula Rocha, correspondente da RFI em Londres

O novo guia trans para as escolas na Inglaterra não agradou a Comissão de Equidade de Direitos Humanos, que deveria ter voz ativa durante o desenvolvimento do relatório feito pelo governo. Uma das mais antigas ONGs de apoio à comunidade LGBT+, a Mermaids, disse que o documento é absurdo e discriminatório porque não ouviu a comunidade e criou mais confusão para as escolas.

Já a ala mais à direita do partido conservador acha que o documento deveria ter validade legal. O novo texto visto por muitos como um avanço na questão de gênero não foi promulgado como lei, deve ser adotado como um guia para professores e diretores de escolas e faculdades lidarem com alunos em transição de gênero e que querem ser identificados com novos nomes ou pronomes, por exemplo.

Linguagem usada está no centro das discussões

O documento usa palavras como identidade de gênero associada a uma ideologia ou a uma crença, o que contradiz a Organização Mundial da Saúde, que em 2019 reconheceu que ser trans não é um transtorno mental ou comportamental. O termo também contradiz o próprio sistema público de saúde do Reino Unido, o NHS, que oferece tratamento hormonal e até mesmo o último censo da Inglaterra, que incluiu a palavra transgênero em seu questionário.

A estimativa do governo é que entre 200 mil e meio milhão de britânicos se identifiquem como trans. O número de crianças atendidas pelo serviço de identidade de gênero chegou a 5 mil entre 2021 e 2022, contra apenas 250 entre 2011 e 2012.

No entanto, o governo eximiu do guia a palavra transgênero para descrever uma criança ou adolescente porque segundo a lei britânica, menores de 18 anos não podem obter um certificado de reconhecimento de gênero e portanto legalmente não podem mudar de sexo.

O que muda na prática nas escolas da Inglaterra

O governo recomenda que a escola identifique a possibilidade desse aluno ou aluna ter mudado sua identidade de gênero como resultado de uma influência externa, como por exemplo mídias sociais ou até mesmo a pressão de colegas que não se identificam com o estereótipo associado a meninas ou meninos.

O ponto mais controverso deste guia é o envolvimento dos pais nessa conversa. A recomendação considerada prioritária para as escolas é que os pais devem ser notificados sobre a decisão do aluno ou aluna em transição de gênero. O guia recomenda engajar os pais e encoraja que o aluno ou aluna tenha essa conversa em casa. Mas abre uma exceção - se a integridade mental, emocional ou física do aluno ou aluna estiver em risco, os pais não devem ser avisados pelas escolas, mas não explica exatamente o que constitui esse risco e como identificar esse risco.

Uma pesquisa recente da ONG Just like us concluiu que cerca de 40% dos jovens não-binários ou transgêneros não seriam mais aceitos pelos pais.

O guia também sugere que fique a critério da escola ou do professor acolher ou não a escolha desse aluno ou aluna que quer mudar o pronome ou o uniforme que usa baseado no impacto que essa decisão terá sobre a escola como um todo. Mas também não está claro como mensurar esse impacto.

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Fase de consulta

O documento prometido há cinco anos pelo governo conservador só foi divulgado agora e está em fase de consulta até março. O departamento de educação espera ouvir a opinião de pais e mães, professores e diretores de escola, mas não dá voz aos próprios alunos trans e cisgênero.

A divulgação do guia coincide com um importante momento político, com expectativa de eleições gerais ocorrerem ainda em 2024. Esses temas culturais e sociais mais polêmicos, que racham o país entre conservadores e liberais, sem dúvida estarão na campanha.

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