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Linha Direta

Itália quer conter imigração ilegal, mas empresários alertam para escassez de mão de obra

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O Conselho de Ministros da Itália se reúne nesta quinta-feira (9) em Cutro, na região da Calábria no sul do país para tratar do tema da imigração. O governo de extrema direita liderado por Giorgia Meloni quer adotar medidas mais rígidas contra a imigração ilegal, mas empresários fazem um apelo: a Itália precisa de pelo menos 200 mil imigrantes para trabalhar em diversos setores do país.

A primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, ao centro, no Senado italiano. Em 14 de dezembro de 2022.
A primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, ao centro, no Senado italiano. Em 14 de dezembro de 2022. AP - Roberto Monaldo
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Gina Marques, correspondente da RFI na Itália

A primeira-ministra Giorgia Meloni quer dar um sinal forte sobre a questão da imigração ilegal no país. O recente naufrágio na costa de Steccato di Cutro, que causou a morte de 72 imigrantes, dos quais 28 menores, entre eles crianças, comoveu a opinião pública. O governo recebeu duras críticas dos partidos de oposição. Muitos se perguntam se esta tragédia poderia ter sido evitada. 

Na reunião desta quinta-feira, o governo discute o decreto sobre fluxos migratórios para regularizar a entrada de imigrantes na Itália. Os empresários italianos fizeram um apelo porque falta mão de obra na Itália. Há carência de 200 mil trabalhadores em diversos setores: na indústria, na agricultura e principalmente cuidadores de idosos. O ministro da Agricultura, Francesco Lollobrigida, recentemente declarou que o Executivo traria quase meio milhão de imigrantes legais à Itália, mas depois voltou atrás na sua declaração. A hipótese é que o governo autorize a entrada anual de quase 100 mil imigrantes nos próximos três anos. 

Situação dos imigrantes ilegais na Itália

O número de imigrantes que chegam ilegalmente na Itália tem aumentado. Segundo dados atualizados divulgados pelo ministério do Interior, 104.061 pessoas chegaram no país ano passado, em comparação com 67.034 em 2021 e 34.000 em 2020. Há muitos menores estrangeiros desacompanhados (12.687 em 2022; 10.053 em 2021, 4.687 em 2020). Os países de origem dos migrantes são principalmente Egito, Tunísia, Bangladesh, Síria e Afeganistão.   

Assim que os imigrantes ilegais chegam na Itália, eles são levados aos centros de acolhimento onde é feita uma triagem para verificar quem tem direito a fazer o pedido de asilo. Segundo o ministro do interior Matteo Piantedosi, “o sistema dos centros de acolhimento de imigrantes no território está em colapso”.

O estatuto de refugiado econômico não é reconhecido. Repatriar os imigrantes ilegais também não é fácil, pois é preciso que haja um acordo assinado com o país de proveniência para que o migrante possa ser mandado de volta.

Medida do governo contra a imigração ilegal

A coalizão de direita e extrema direita do governo (formada pelos partidos Irmãos da Itália, Liga, Forza Italia e Independentes) foi eleita em grande parte pelas suas posições contra a imigração fora da Europa. Uma das primeiras medidas já aprovada na Câmara dos Deputados foi o chamado Decreto ONG, que estabelece uma série de obstáculos para as organizações não governamentais socorrerem imigrantes em barcos superlotados com risco de naufrágio no mar Mediterrâneo.

Recentemente, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, disse que o decreto da ONG do governo Meloni sobre a ajuda aos migrantes pode causar mais mortes no mar. Mas o governo italiano respondeu que se trata de: “Críticas ideológicas e infundadas”.

Imigrantes ilegais e a carência de mão de obra

Para a integração dos imigrantes é preciso considerar diversos fatores. Eles têm que compreender e saber falar a língua italiana, dependendo do trabalho, fazer um curso de formação. Isso requer tempo e investimento. A Itália está a beira do abismo com sua dívida pública que supera € 2,7 trilhões, aproximadamente 15 trilhões de reais. O número de pessoas em situação de pobreza absoluta triplicou em 15 anos, as famílias italianas comuns carregam o peso de uma crise econômica e crise de energia.

Um dos setores que mais solicita trabalhadores é o doméstico, principalmente cuidadores de idosos. O outro é a agricultura e também nas fábricas.

No entanto, os empregadores querem, sobretudo, mão de obra barata. Uma recente pesquisa realizada pelo Centro de Estudos Investimentos Sociais (Censis) em uma amostra de famílias associadas à Associação Nacional de Empregadores de Trabalho Doméstico (Assindatcolf), revela que 59% dos entrevistados acham que a despesa para o cuidador tornou-se insustentável ou parcialmente insustentável. Metade das famílias envolvidas na pesquisa declaram pagar mais de € 1.100 por mês por cuidador.

Em diversos setores existe um mercado paralelo de trabalhadores irregulares que recebem um salário mais baixo. Nos campos agrícolas no sul da Itália, muitos imigrantes africanos trabalham na colheita de laranjas ou de tomates por apenas € 2 por hora, cerca de R$ 10, em vez de €10 por hora, aproximadamente R$ 55, que seria o pagamento regular.

Portanto, para o governo de extrema direita a eclosão de imigrantes deixa de ser problema de identidade, segurança ou sociedade, mas apenas um problema de legalidade. Se milhares de estrangeiros querem entrar legalmente no país para trabalhar por um salário no limite da escravidão, então a imigração é benéfica. É o velho ditado que se repete na Itália “precisamos de imigrantes para fazer o trabalho que os italianos não querem fazer”. Na verdade, os italianos não pretendem fazer trabalhos extenuantes por salários miseráveis que não lhes permitem chegar ao final do mês.

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