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Linha Direta

Cúpula da Celac parece feita sob medida para regresso de Lula ao cenário internacional, diz cientista político

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Em seu segundo dia na Argentina, o presidente Lula participa nesta terça-feira (23) da reunião de cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), reunião na qual o presidente brasileiro será o protagonista para a inserção internacional do Brasil. É o contrário da política isolacionista do ex-presidente Jair Bolsonaro, que havia retirado o Brasil do único foro em que Cuba tem voz. 

Lula será o protagonista na reunião de cúpula da Celac, nesta terça-feira (24), à qual o Brasil retorna para liderar.
Lula será o protagonista na reunião de cúpula da Celac, nesta terça-feira (24), à qual o Brasil retorna para liderar. AP - Gustavo Garello
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atrai todos os holofotes na reunião dos 33 países latino-americanos e caribenhos por três motivos: devido ao regresso do Brasil a esse foro regional, aos recentes ataques antidemocráticos em Brasília e à falta de um líder influente na América Latina, um espaço vazio que Lula pretende preencher.

“Com Lula, o Brasil terá um protagonismo internacional do mais alto nível, em sintonia com o seu peso econômico e com a sua importância na América do Sul. Esta viagem de Lula à Argentina é parte dessa reaparição em grande escala do Brasil no sistema internacional”, indica à RFI o analista internacional argentino, Jorge Castro. 

Em 2010, ao lado do ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez, Lula ajudou a construir a Celac. Treze anos depois, Lula volta a colocar o Brasil como membro da organização, depois que o ex-presidente Jair Bolsonaro retirou o Brasil, em janeiro de 2020. O objetivo do líder da extrema direita foi esvaziar a importância da Celac, mas, sobretudo, silenciar a voz de Cuba, Venezuela e Nicarágua, os regimes autoritários da região.

“Com a liderança de Lula, o protagonismo internacional do Brasil torna-se muito elevado em comparação com os quatro anos de Bolsonaro, no qual o Brasil ficou praticamente isolado”, compara Castro.

Para o cientista político argentino Sergio Berensztein, esta reunião parece feita sob medida para o regresso de Lula ao cenário internacional. “Numa região sem lideranças influentes, não há nenhum outro líder, nem nenhum outro país que faça sombra a Lula. O Brasil é hoje o único país em condições de liderar a região”, afirma Berensztein à RFI.

Quando um país lidera uma região, a sua capacidade de inserção global aumenta porque passa a representar uma série de nações nos foros internacionais onde se tomam decisões. Os atores globais lideram as suas regiões. A América Latina é a plataforma natural do Brasil para voltar ao papel de ator global. Essa lógica foi descrita pelo próprio presidente Lula no seu discurso de posse no Congresso brasileiro em 1° de janeiro.

“Nosso protagonismo se concretizará pela retomada da integração sul-americana, a partir do Mercosul, da revitalização da Unasul e das demais instâncias de articulação soberana da região. Sobre esta base poderemos reconstruir o diálogo altivo e ativo com os Estados Unidos, a Comunidade Europeia, a China, os países do Oriente e outros atores globais, fortalecendo os Brics, a cooperação com os países da África e rompendo o isolamento a que o país foi relegado”, descreveu Lula.

Maduro cancela participação na cúpula

Outro protagonista, mas por motivos diferentes, teria sido Nicolás Maduro, mas o venezuelano cancelou a sua participação no evento. O líder bolivariano também deveria se encontrar com Lula  na tarde de segunda-feira (23) em Buenos Aires, mas, em cima da hora, a reunião foi cancelada.

O motivo foram os protestos contra Maduro previstos em Buenos Aires, mas, especialmente, a possibilidade de que a Justiça argentina emitisse uma ordem de prisão contra ele por violação aos direitos humanos, a partir da denúncia de particulares e políticos opositores. Cidadãos venezuelanos na Argentina também testemunharam sobre violação aos direitos humanos que teriam sofrido na Venezuela.

Maduro ensaia uma saída do isolamento internacional, a partir da nova relevância da produção petrolífera da Venezuela como consequência da crise energética do mundo, provocada pela guerra na Ucrânia.

“O governo de Joe Biden está em negociação com Maduro para retirar as sanções impostas pelos Estados Unidos ao governo da Venezuela, desde que permita o pleno desempenho das empresas petrolíferas no território venezuelano. Isso permitiria a Maduro uma nova legitimidade no sistema internacional e presença na reunião da Celac em Buenos Aires”, observa Jorge Castro.

Quem está em Buenos Aires e terá uma reunião nesta terça-feira (24) com Lula é o cubano Miguel Díaz-Canel, outro acusado de violar os direitos humanos na América Latina. Assim como com a Venezuela, Lula também quer recompor relações com Cuba.

Tentativa de golpe no Brasil

Todos os países da região condenaram os ataques antidemocráticos no Brasil em 8 de janeiro. No entanto, não há menções oficiais contra os regimes autoritários de Cuba, Nicarágua e Venezuela. 

Por outro lado, Bolívia, Argentina, México e Colômbia defendem, por exemplo, o destituído presidente peruano Pedro Castillo. O esquerdista tentou um golpe de Estado no Peru em 7 de dezembro passado.

O governo argentino, o mesmo que condena a tentativa de golpe no Brasil, quer destituir os juízes do Supremo Tribunal do país.

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