Acessar o conteúdo principal
Linha Direta

Argentinos vivem clima de união e de confiança em torno do aguardado título

Publicado em:

Ambiente de festa tomou principais praças e avenidas do país, fazendo do futebol o elemento unificador do país em torno do objetivo comum: desentalar um grito de campeão preso há 36 anos. Polarização política e manifestações sociais ficam congeladas à espera do título que amenize a crise econômica.

Torcida argentina acompanha partida de semifinal contra a Croácia
Torcida argentina acompanha partida de semifinal contra a Croácia © Márcio Resende/RFI
Publicidade

Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

O passe à final do Mundial no Catar projetou a Argentina a uma dimensão raras vezes vista no país: uma contagiante euforia à espreita do tricampeonato capaz de adiar todos os males do país.

O título aparece a concretização de um sonho adiado por 36 anos, a ansiada revanche de 1990 e 2014 - quando a Argentina foi vice-campeã -, uma carícia na alma de um país assolado pela crise econômica e até uma eventual vingança da França - caso se classifique - pela eliminação da Argentina nas oitavas-de-final em 2018.

Nas principais cidades do país, milhares de pessoas passaram a noite cantando, pulando e comemorando. Multiplicaram o clima de euforia no qual vive o país desde que se recuperou da derrota para a Arábia Saudita logo na primeira partida, por 2x1.

"Eu me sinto feliz. Estou feliz de ter passado à final. Obrigado Messi. Obrigado Seleção. Te amo. Vamos ganhar a Copa", declara emocionada à RFI Yanina Sicilia, de 32 anos.

Daniel Troncoso espera que o título traga alegria para amenizar crise econômica
Daniel Troncoso espera que o título traga alegria para amenizar crise econômica © Márcio Resende/RFI

Daniel Troncoso, de 48 anos, resume este passe à final como a melhor coisa que lhe aconteceu na vida.

"Eu sinto que o meu coração vai explodir. É o melhor que já me aconteceu na vida. Você pode ter a melhor mulher, mas isto é imbatível. Isto não se compara com nada", descreve à RFI.

Nicolás Adi é referência na torcida argentina em Buenos Aires
Nicolás Adi é referência na torcida argentina em Buenos Aires © Márcio Resende/RFI

Nicolás Adi, de 28 anos, lembra que o milagre ainda não está completo e que, para o passo final, vale até apelar a Diego Maradona lá do céu.

"Que Diego lá de cima nos ajude, nos ilumine, que nos ajude a ganhar. Ainda falta um passo para o milagre", roga enquanto olha para o alto com as mãos erguidas.

Um país enfocado na taça

A eliminação do Brasil facilitou o caminho, reconhecem os argentinos, mas para o passe a cada nova fase do Mundial a chave chama-se Lionel Messi, louvado a cada nova exibição. Esta é a primeira Copa do Mundo em que Messi não é criticado nem pressionado pela torcida e pela imprensa no país. E, como poucas vezes, os jogadores também se mostram um grupo coeso.

Quem chega à Argentina nestes dias vê um país unido em torno do futebol e apaixonado, sem questionamentos, pela sua seleção em geral, e por Messi, em particular.

Outra raridade no país acontece nos terrenos político e social. A polarização e os protestos cederam espaço a uma inusual concórdia desde o começo do campeonato. Todos parecem remar na mesma direção, fazendo do futebol o único elemento de verdadeira paz social.

Leandro Caligaris aplaude exibição de Messi e vê união no país
Leandro Caligaris aplaude exibição de Messi e vê união no país © Márcio Resende/RFI

O torcedor Leandro Caligaris, de 33 anos, destaca essa repentina união.

"Vejo uma equipe unida, com muita felicidade, com muita garra e com muita vontade. Na verdade, há uma união que nunca se viu antes no país. É uma loucura poder viver isto", explica à RFI.

Um grito entalado há 36 anos

Para um país integrante da elite do futebol, 36 anos de jejum é muito sacrifício. Depois de 1986, a Argentina chegou a duas finais: em 1990, com Maradona; em 2014, com Messi. Nas duas perdeu para a Alemanha por 1 a 0. O grito de campeão é um incômodo na garganta.

O torcedor Diego Carol Lugones, de 38 anos, diz que a Argentina precisa desabafar.

"A minha expectativa é que a Argentina ganhe. Precisamos desabafar. Precisamos gritar", afirma.

E Leandro Caligaris acha que chegou a hora desse grito contido.

"Há 36 anos queremos ser campeões. A cada Mundial, o sonho de ganhar. E agora ver com essa aproximação, estou mais confiante do que nunca", aposta.

Um alívio social

Nenhum título no futebol pode acabar com uma crise econômica, mas uma alegria da dimensão do Mundial pode ser uma carícia na alma argentina.

O país deve fechar o ano com uma inflação em torno de 100%. A desvalorização do peso argentino nos últimos três anos ronda os 380%. A violência urbana faz estragos. Tudo no país esbarra em restrições.

A taça do mundo pode representar um refúgio social, um momento de felicidade coletiva e o resgate do orgulho nacional, pelo menos no futebol.

É no que acredita o torcedor Daniel Troncoso, de 48 anos, pintor de paredes.

"Vai ser uma grande alegria para o povo argentino, sobretudo para nós que somos trabalhadores e que vivemos o dia-a-dia para lutar, para chegar ao fim do mês. O que os políticos não fizeram, farão os jogadores", conclui.

Torcida argentina acaricia a taça
Torcida argentina acaricia a taça © Márcio Resende/RFI

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.