Acessar o conteúdo principal
Linha Direta

Campanha de atores que ironiza lockdown gera controvérsia na Alemanha

Publicado em:

Ao menos 50 conhecidos atores alemães participam de uma campanha com vídeos em tom satírico no YouTube, ironizando as medidas restritivas do governo alemão contra o coronavírus. A ação, lançada na semana passada, provocou uma avalanche de críticas, mas recebeu elogios da extrema direita e de negacionistas da pandemia.

Captutra de tela do Youtube com um dos participantes da criticada campanha que satiriza o lockdown rígido na Alemanha.
Captutra de tela do Youtube com um dos participantes da criticada campanha que satiriza o lockdown rígido na Alemanha. © DR
Publicidade

Márcio Damasceno, correspondente da RFI em Berlim

A campanha, chamada "Alles dicht machen" ("Vamos fechar tudo", em tradução livre), traz vários monólogos curtos de 53 atores diante da câmera. O que une as peças é o tom de ironia e um certo cinismo em relação às restrições da pandemia. Na maioria dos clipes, os artistas sugerem sarcasticamente que o confinamento seja ainda mais duro.

Em uma das gravações, um ator expira num saco e inspira num outro, dizendo que "faz isso para evitar aerossóis" e não transmitir a Covid-19. Outro protagonista pede para que tudo seja fechado de vez, até serviços essenciais, para que a população morra e o coronavírus não possa mais ser transmitido. Uma outra diz que não vai mais abrir a porta de casa para "mostrar responsabilidade" e não ter mais contato com ninguém. Também há ironias contra um suposto "alarmismo" da grande mídia. 

A responsável pelo projeto é uma produtora de Munique, no sul da Alemanha, que não comenta sobre a intenção da campanha, só se limitando a dizer que "é arte". O diretor de TV Dietrich Brüggemann, considerado um dos iniciadores do projeto, classificou as críticas de exageradas. Ele disse que a ação foi mal interpretada, garantiu ter recebido muitos elogios e agradecimentos e prometeu lançar ainda uma segunda campanha do tipo.

Alguns dizem que a iniciativa visa chamar atenção para o modo que a classe artística foi afetada pelo fechamento de teatros, cinemas e casas de espetáculo. Esses lugares permanecem fechados na Alemanha desde novembro passado e até agora não há previsão de reabertura.

Entretanto, a maioria das reações foi negativa. Alguns classificaram a campanha de "cínica", "insensível com os que perderam parentes para o coronavírus". Sobretudo grande parte da mídia criticou duramente os vídeos, diante dos mais de 80 mil mortos pela pandemia no país.

Aplausos da extrema direita

Um ponto especialmente problemático foram os aplausos vindos de políticos da extrema direita e de negacionistas da pandemia. A deputada Alice Weidel, uma das líderes do partido de extrema direita AfD, não poupou elogios à iniciativa.

Muitos acusam os atores de estarem colaborando com aqueles que pregam o desrespeito às regras restritivas, que são contra o uso de máscara e comparam as recomendações de distanciamento social a uma ditadura.

Após a polêmica, cerca de um terço dos participantes resolveu retirar seus vídeos do ar, dizendo não terem tido o intuito de serem instrumentalizados por movimentos negacionistas da pandemia. Outros atores pediram desculpas. Alguns não lamentaram a ação, mas deixaram claro que não têm nada a ver com radicais de direita nem são adeptos de teorias da conspiração.

Outros membros da classe artística que não participaram da ação criticaram duramente os colegas, dizendo sentir vergonha. Um deles escreveu no Twitter que os participantes devem "pegar essa ironia deles e enfiar pelo respirador adentro".

Campanhas de oposição

A campanha teve repercussão nas mídias sociais, com a criação de hashtags contrárias aos vídeos. Um grupo de médicos lançou um movimento nas redes propondo que os atores passem um dia trabalhando numa UTI, para verem o que é a realidade da pandemia. A médica e blogueira Carola Holzner, autora da ideia, disse que os atores passaram dos limites.

Esse debate surge após quase seis meses de lockdown rígido na Alemanha, com taxas de infecção que, apesar de tudo, não recuam. Também acontece no momento em que entra em vigor o chamado "freio de emergência", medida que unifica nacionalmente as políticas de prevenção e reforça algumas medidas, impondo até toque de recolher noturno em regiões com alta circulação do vírus. Mesmo assim, a maioria da população aprova as medidas. De acordo com sondagem recente, 67% dos alemães apoiam as novas restrições.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.