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Linha Direta

Matança de visons na Dinamarca provoca disputa política e temor de crise econômica no país

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Partidos que fazem oposição ao governo social democrata dinamarquês questionam a legalidade da medida, que determinou, na semana passada, o abate de 17 milhões de visons. O impasse acende o alerta de uma possível crise na economia, já que o Reino Unido, um dos principais parceiros comerciais do país escandinavo, fechou suas fronteiras para cidadãos e produtos dinamarqueses.

Protesto dos criadores de vison, depois que foi constatado que o Governo de Mette Frederiksen (do partido Social Democrata), não tinha base legal para determinar o abate desses mamíferos fora das zonas de risco de coronavírus especificadas. 06/11/2020
Protesto dos criadores de vison, depois que foi constatado que o Governo de Mette Frederiksen (do partido Social Democrata), não tinha base legal para determinar o abate desses mamíferos fora das zonas de risco de coronavírus especificadas. 06/11/2020 AFP - BO AMSTRUP
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Fernanda Melo Larsen, correspondente da RFI em Copenhague

O Governo da Dinamarca está enfrentando duras críticas por parte da oposição no Parlamento e dos criadores de visons. O motivo é que o governo de Mette Frederiksen, do Partido Social Democrata, não teria base legal para determinar o abate dos animais fora das zonas de risco de coronavírus determinadas pelo governo.

As autoridades de saúde do país identificaram uma mutação do coronavírus nos visons, chamada de "cluster 5" pelos virologistas, que pode ser resistente a uma futura vacina. Até setembro, apenas 12 pessoas foram contaminadas por essa nova forma do vírus, mas o governo preferiu adotar uma quarentena ampla, enquanto pesquisadores analisam o fenômeno. Outros cinco países europeus identificaram a variante SARS-Cov-2 em visons.

A situação abriu caminho para que partidos de oposição ao governo, pedissem a renúncia do Ministro da Agricultura, Mogens Jensen. "O ministro da Agricultura deve renunciar ao posto e dar maiores explicações sobre o caso”, disse o líder do Partido do Povo Dinamarquês (conservador), Kristian Thulesen.

Em entrevista a uma TV dinamarquesa, o Ministro da Agricultura, Mogens Jensen, reagiu: "Não cabe a mim assumir as consequências sobre a matança dos visons". Enquanto isso, a primeira-ministra Mette Frederiksen pediu desculpas e reconheceu que a decisão “foi um erro lamentável”.

Para tentar resolver esse impasse juridicamente, o governo apresentou, no começo desta semana, um projeto de lei que proíbe a criação de visons no país até 31 de dezembro de 2021. Para que ele seja aprovado, será necessário obter maioria simples dos votos, ou seja, um pouco mais de 90 dos 179 representantes do Parlamento.

Escândalo do Vison pode ter consequências na economia

O “escândalo dos visons” como está sendo chamado pela imprensa local, vem preocupando o Ministro das Finanças, Nicolai Wammen. Ele sublinhou recentemente a grande importância das exportações dinamarquesas de peles de vison para a economia do país e pediu para que os parlamentares chegassem a um acordo para que os animais possam ser sacrificados de forma legal. 

A pele de vison é a terceira maior fonte de exportação do país, responsável pela produção de 40% desse produto do mundo. De acordo com o ministério da Agricultura dinamarquês, a matança de 17 milhões de visons, nas mais de 1.000 fazendas de produção desse animal em todo país, vai custar aos cofres públicos cerca 5 bilhões de coroas dinamarquesas, aproximadamente R$ 4,4 bilhões.

“Cada dia que passa sem que o Parlamento aprove legalmente a matança dos visons é mais um dia que aumentamos o risco de diminuirmos a confiança no exterior de que nós, na Dinamarca, sabemos lidar com as coisas de maneira inteligente”, acrescentou o ministro.

Para a indústria dinamarquesa, a crise dos visons representa uma séria ameaça  às exportações do setor. De acordo com Lars Sørensen, presidente nacional do setor da indústria da Dinamarca, a mutação do vírus da Covid-19 no animal envolve risco real e sério de contaminação nos homens. Por essa razão, disse ele, as recomendações das autoridades de saúde devem ser cumpridas.“A Dinamarca precisa continuar a manter sua imagem de alto padrão de qualidade dos produtos exportados", incluindo o setor de alimentos que é um dos melhores do mundo”.

Crise do vison aumenta isolamento do país

Reino Unido, Irlanda e Noruega aumentaram as restrições para a entrada de cidadãos dinamarqueses ou pessoas provenientes da Dinamarca. No Reino Unido, também foi proibido o ingresso de navios de carga e de caminhoneiros provenientes do país escandinavo, para impedir que a nova variante da Covid-19, encontrada nos visons dinamarqueses, se espalhe pelo país.

As mudanças foram ampliadas para tripulantes de cabine e pilotos de aviões que estiveram na Dinamarca, e não estão mais isentos das regras de quarentena. Eles terão que se isolar como qualquer britânico que tenha visitado o país escandinavo nos últimos dias. A Dinamarca é um dos maiores parceiros comerciais do Reino Unido: só no ano passado exportou para o país cerca de £ 6,8 bilhões de libras esterlinas (aproximadamente 85 bilhões de reais) em bens de consumo e serviços.

Já a Irlanda e a Noruega retiraram a Dinamarca da lista de países seguros, e desaconselham qualquer viagem de seus cidadãos ao país, além de uma quarentena de 14 dias e testes de detecção da Covid-19 nas pessoas provenientes do país nórdico. A Comissão de Saúde da União Europeia diz que acompanha de perto o problema da contaminação dos visons da Dinamarca.

Segundo Stella Kyriakides, Comissária de Saúde da União Européia, “a infecção em rebanhos de visons também foi detectada em outros Estados-Membros como a Holanda, Suécia e Espanha, que também tiveram que matar criações de visons infectados pelo coronavírus”.

Animais estão sendo enterrados em valas coletivas

Até o momento, cerca de dois terços de todos os visons dinamarqueses foram abatidos nas fazendas de criação no norte do país, região mais afetada pelo coronavírus. De acordo com a Polícia da Jutlândia do Norte, os criadores de visons devem se "livrar" dos animais mortos o mais rápido possível. É por isso que as autoridades de saúde e de segurança da região optaram por cavar grandes valas para que os animais sejam enterrados com rapidez.

A Agência Dinamarquesa de Segurança da Saúde alertou para os "odores incômodos " nas regiões onde esses mamíferos estão sendo enterrados. O órgão de saúde afirmou, no entanto, que esse mau cheiro não representa nenhum tipo de perigo para os seres humanos.

 

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