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Linha Direta

Novo lockdown na Inglaterra conta com testagem maciça em Liverpool

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Em clima de melancolia, a Inglaterra amanheceu nesta quinta-feira (5) sob nova quarentena. Se tudo der certo, por quatro semanas. Com mais de 20 mil novos casos diários de contaminação pela Covid-19, o país acumula o maior número absoluto de mortes da Europa.

A praça Trafalgar, no centro de Londres, vazia como nunca na véspera do novo lockdown.
A praça Trafalgar, no centro de Londres, vazia como nunca na véspera do novo lockdown. © Vivian Oswald
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Vivian Oswald, correspondente da RFI em Londres

No centro de Londres – já esvaziado desde a primeira onda da pandemia –, a tradicional loja de chá Whittard manteve diante da vitrine, até ontem, o quadro negro com a mensagem: “Olá amigos, sentimos saudades”. Era véspera do novo lockdown e a tabuleta lembrava que a medida anterior ainda era recente. No mesmo dia, a rede varejista John Lewis e o banco Lloyds comunicavam cortes de 2.200 postos de trabalho. Tem sido assim: demissões são anunciadas aos milhares quase diariamente.

Rua quase deserta no centro de Londres e lousa com mensagem da casa de chá para seus clientes
Rua quase deserta no centro de Londres e lousa com mensagem da casa de chá para seus clientes © Vivian Oswald

“E será que vai funcionar agora? Não sei por quanto tempo meu patrão conseguirá manter o pub”, disse a garçonete Ann Simpson, por trás da viseira de acrílico que usa para se proteger do vírus desde o fim do primeiro lockdown.

O plano de restrições para as próximas semanas foi aprovado pelo Parlamento. Em princípio, ele vale até 2 de dezembro, quando será reavaliado. Mas tudo pode mudar, se o número de contaminações não baixar. O pior é que existe uma possibilidade não desprezível de se prorrogar a medida, como admitiu no fim de semana passado um ministro do governo. O número de mortes por Covid-19 nas últimas 24 horas já é o mais alto desde o final de maio.

Fachada da National Gallery com ruas quase desertas no centro de Londres.
Fachada da National Gallery com ruas quase desertas no centro de Londres. © Vivian Oswald

Enquanto discute maneiras de salvar a economia dos efeitos nocivos de mais um lockdown, o governo lança um projeto piloto de testagem em massa na cidade de Liverpool, uma das mais atingidas pela doença. A ideia é testar todos os habitantes, pouco mais de 550 mil pessoas. O objetivo é detectar os casos sintomáticos e sobretudo assintomáticos, para conter o alto índice de contaminação. Dois mil militares foram designados para ajudar a operação, que começa nesta sexta-feira. Quem estiver livre da doença poderá viver normalmente, sem restrições.

Se a iniciativa funcionar, o governo pretende repetir a estratégia em outros locais do país. Esta seria uma forma de permitir que se conviva com o vírus até a chegada de uma vacina, mantendo um mínimo de normalidade no cotidiano. A China tem feito isso. Na semana passada, testou cerca de dez milhões de pessoas na cidade de Qingdao durante cinco dias. Por outro lado, sem abrir mão de um aplicativo eficiente de rastreamento da população. É assim que Pequim vem conduzindo com sucesso a sua resposta à crise.

O problema é que o país tem estado às voltas com dificuldades no programa de testes, e não tem dado conta de cobrir a demanda. Espera-se que o novo lockdown dê ao governo inglês  tempo para consertar as falhas do aplicativo de testagem e rastreamento do NHS, o sistema gratuito de saúde pública.

A primeira quarentena, que aconteceu entre março e junho, foi mais restritiva. Desta vez, escolas e universidades permanecem abertas. Os ingleses não poderão se encontrar em bares, pubs ou restaurantes, que estarão fechados. Nem em casa. Mas poderão estar com uma pessoa de outro núcleo familiar desde que em local aberto.

Os cientistas que aconselham o governo queriam que as medidas restritivas tivessem sido anunciadas semanas atrás. Mas diante dos efeitos nocivos para a economia, o governo tentou adiar ao máximo esse recurso. Nesse meio-tempo, os casos dispararam e os hospitais começam a registrar um índice de ocupação de leitos preocupante.

O primeiro-ministro Boris Johnson já avisou que este Natal não será como os outros. E esse é o maior medo das pessoas na data que é uma verdadeira obsessão entre os ingleses: passar as festas longe dos amigos e dos parentes depois de um ano tão difícil.

Apoio econômico

Nesta quinta-feira, o governo decidiu prorrogar até março de 2021 o programa a partir do qual paga 80% dos salários das pessoas que não podem trabalhar em home office para evitar novas demissões. Outras linhas de crédito foram concedidas para ajudar as empresas, sobretudo as de menor porte. Mas muitas fecham as portas. Por mais que o governo conservador de Johnson esteja sendo generoso com os pacotes de estímulo, os recursos não são ilimitados.

Em setembro, caiu o índice de confiança dos empresários. Com receio de perder seus empregos, as pessoas preferem poupar, o que complica a previsão de vendas do comércio (que ainda por cima permanecerá fisicamente fechado por pelo menos um mês) para o Natal. A economia do país encolheu 20,4% no segundo trimestre por conta do primeiro lockdown.

Nos últimos dias, os ingleses aproveitaram para ir a restaurantes – estava difícil conseguir mesa – justamente por não saber por quanto tempo terão de ficar trancados em casa. Mas o movimento já não era o mesmo. Nem na praça Trafalgar, sempre tomada pela agitação de turistas e locais, que costumam se concentrar em frente à National Gallery, um dos museus mais visitados de Londres. Contavam-se nos dedos os passantes.

Por enquanto, o País de Gales, a Irlanda do Norte e a Escócia estão fora das regras anunciadas pela equipe de Boris Johnson e que entraram em vigor nesta quinta-feira em toda a Inglaterra. As três nações podem usar suas políticas autônomas. Gales e Irlanda do Norte já estavam em lockdown. A Escócia decidiu manter um sistema de 5 níveis de risco de contaminação e também está parcialmente em lockdown. Especula-se, no entanto, que um confinamento total possa ser anunciado muito em breve.

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