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Rendez-vous cultural

Bailarino brasileiro supera obstáculos da pandemia de Covid-19 e abre companhia de dança na França

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O bailarino gaúcho Norton Fantinel é um “habitué” dos palcos americanos, europeus e brasileiros. De Porto Alegre, onde nasceu, passou pela escola do Bolshoi, em Santa Catarina, e desde então, girou o mundo. Neste ano, superou vários obstáculos, como a crise sanitária que castigou a classe artística, e inaugurou recentemente a Arles Youth Ballet Company, em Fourques, no sul da França.

Os bailarinos Norton Fantinel e Karina Moreira fundaram juntos a Arles Youth Ballet Company, em Fourques, no sul da França.
Os bailarinos Norton Fantinel e Karina Moreira fundaram juntos a Arles Youth Ballet Company, em Fourques, no sul da França. © Arquivo Pessoal
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Tudo começou quando Norton tinha quatro anos de idade. Em entrevista à RFI, ele conta que o único jeito que os pais encontravam para acalmar o menino hiperativo eram os filmes de dança. “Um dia, minha mãe alugou ‘Momento de Decisão’, com Mikhail Baryshnikov, e eu me apaixonei. Eu disse: ‘que cara incrível, eu quero ser igual a ele quando eu crescer’. Então, minha mãe me matriculou em uma escola de balé e foi o início desse sonho”, relembra.

A abertura de sua própria companhia de dança no país berço do balé clássico é o salto mais alto da carreira de Norton Fantinel, de 33 anos. Do alto das sapatilhas, o gaúcho exibe um currículo brilhante: foi bailarino principal do Washington Ballet e do Tulsa Ballet, nos Estados Unidos, também da São Paulo Companhia de Dança, do Dortmund Ballet, na Alemanha, e do Ballet du Capitole, em Toulouse, na França. Nos palcos, encarnou protagonistas de grandes produções, como “Dom Quixote”, por Anne Marie Holmes, “Coppelia”, por Arthur Saint-Leon, “Le Corsaire” e “Gisèle”, por Kader Belarbi, “Quebra-Nozes”, por Septime Webre, “Lago dos Cisnes“, por Marius Petipa, entre tantos outros espetáculos.

Norton Fantinel foi o bailarino principal do Washington Ballet e do Tulsa Ballet, nos Estados Unidos, da São Paulo Companhia de Dança, do Dortmund Ballet, na Alemanha e do Ballet du Capitole, em Toulouse, na França.
Norton Fantinel foi o bailarino principal do Washington Ballet e do Tulsa Ballet, nos Estados Unidos, da São Paulo Companhia de Dança, do Dortmund Ballet, na Alemanha e do Ballet du Capitole, em Toulouse, na França. © Arquivo Pessoal

Norton conta que vinha alimentando, junto da esposa, a bailarina carioca Karina Moreira, “companheira dos palcos e da vida”, o sonho de abrir sua própria companhia de dança. O casal planejava concretizar os planos em alguns anos. Foi de forma inesperada e após um grave incidente que os dois revolveram antecipar o projeto.

Instalados na França há alguns anos, Norton e Karina estavam de malas prontas para a Escócia. O gaúcho deveria assumir a direção artística do prestigioso Ballet West Scotland, quando o diretor-geral da instituição foi acusado de abuso sexual de menores.

“Eu e minha esposa recusamos os empregos porque não queríamos nos vincular a esse caso. Foi então que os prefeitos de Arles e de Fourques nos convidaram para fazer, no sul da França, o mesmo que faríamos na Escócia. E assim abrimos a Arles Youth Ballet Company”, relembra.

Bailarinos e equipe da Arles Youth Ballet Company.
Bailarinos e equipe da Arles Youth Ballet Company. © Arquivo Pessoal

Norton lamenta o incidente, que sacudiu o universo da dança, em meados deste ano. A sequência dos fatos foi um tanto inesperada para Norton e Karina, que acolheram todos os bailarinos que, como eles, também iriam para a Escócia, além de outros profissionais que se uniram ao projeto do gaúcho e da carioca.

“Estávamos no lugar certo e na hora certa quando esse caso terrível aconteceu e que conseguimos transformar em algo maravilhoso. Hoje temos um grupo com bailarinos de mais de oito nacionalidades. Em apenas três meses, formamos essa equipe linda da qual temos muito orgulho”, comemora.

Filosofia vanguardista

O gaúcho conta que, em tempo recorde, organizou e, literalmente, ergueu a companhia de dança, “que começou do zero”. Norton participou até mesmo da construção do prédio que acolhe atualmente treze bailarinos, além de mais cinco que aguardam a abertura das fronteiras da União Europeia para poder entrar da França.

Ao lado de Karina, com quem compartilha a direção-geral da Arles Youth Ballet Company, além da secretária-executiva Cécile Arnaud e a fisioterapeuta Sofia Ornellas, o grupo determinou e trabalha dentro de uma filosofia vanguardista dentro do universo do balé.

“Valorizamos a humanidade. Cada bailarino é único e especial. Não quero profissionais que apenas façam passos, eu quero que eles se expressem através da nossa arte. Afinal, dançar não é apenas uma ginástica, mas trabalhar seus sentimentos e mexer com o sentimento do público. E sempre respeitando o colega porque a arte não é uma competição, mas uma ferramenta para conectar a humanidade”, diz.

Uma conexão cuja necessidade ficou ainda mais evidente durante a crise sanitária desencadeada pelo coronavírus. A classe artística francesa está há meses impossibilitada de organizar e realizar espetáculos devido à imposição do governo do fechamento dos locais culturais. “Nessa época de Covid-19, a cultura é o nosso remédio. A dança, a arte, os livros, os filmes, a música é o que nos mantêm sãos nesse período.”

Norton conta que teve de se adaptar para poder continuar trabalhando. Para poupar a saúde dos bailarinos, o grupo se isolou socialmente e vive em espaços organizados dentro da própria companhia. Eles se preparavam para apresentar o primeiro espetáculo neste fim de ano, mas o governo francês estendeu o fechamento dos locais de cultura até ao menos janeiro de 2021.

O bailarino gaúcho adiou os planos, mas também afirma que teve tempo para desenvolver novos projetos, como um Quebra-Nozes revisitado, que vai contar a história da cidade de Arles, colonizada por romanos em 123 A.C. Norton também investe na busca de patrocínio para obter a autorização de interpretar grandes balés e contratar coreógrafos internacionais. Mas o sentimento neste ano conturbado por obstáculos e a pandemia é de vitória.

“Estou muito realizado, mas ainda tenho muitos sonhos a realizar. Ao lado de meus bailarinos e minha esposa eu sinto que há muita coisa mais bela por vir”, conclui.

Um dos sonhos do bailarino Norton Fantinel era abrir sua própria companhia de dança.
Um dos sonhos do bailarino Norton Fantinel era abrir sua própria companhia de dança. © Arquivo Pessoal

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