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Brasil-Mundo

"A inteligência artificial na área da saúde mudará paradigmas" diz investidor brasileiro no Vale do Silício

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Há quase 25 anos no Vale do Silício, o brasileiro Amit Garg já viu a terra da inovação passar por diversas fases. Quando chegou, no final da década de 1990, era o boom das empresas PontoCom. Mas as gigantes de outrora já foram esquecidas quando o assunto é tecnologia de ponta. A renovação contínua e acelerada é a marca registrada da região mais rica do país mais rico do mundo. A expectativa agora é saber qual será o novo mapa do poder com a explosão do mercado da inteligência artificial.

O brasileiro Amit Garg
O brasileiro Amit Garg © Cleide Kclock
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Cleide Clock, correspondente da RFI em Los Angeles

O capixaba, filho de pais indianos, criou há quatro anos, no Vale do Silício, o próprio fundo de investimento: a Tau Ventures, com foco em fundo seed, como são chamados os primeiros aportes de uma empresa. Formado em Biologia e Computação pela Universidade de Stanford e com especialização em Negócios em Harvard, Garg sempre combinou as duas áreas e agora  aposta na inteligência artificial na área da saúde, conhecidas como health techs.

"Eu vejo as empresas de saúde usando a tecnologia para conseguir resolver problemas que antigamente eram muito mais difíceis de resolver ou que a gente nem teria como resolver. Por exemplo, na descoberta de novos medicamentos, o processo até hoje sempre foi o mesmo. Você testa uma molécula, gasta US$ 1 bilhão e talvez não dê certo", explica.

"Se a gente faz essa simulação no computador, consegue testar 100 vezes mais moléculas em 1/10 do tempo. Você muda o paradigma, nossa sociedade, vai ter tratamentos personalizados, para doenças que ainda estão sem solução ou até para curar o câncer. Não vamos conseguir resolver todos os problemas e muitas vezes teremos que dar três passos para frente e dois para trás, mas há possibilidades de avançar muito".

O brasileiro Amit Garg
O brasileiro Amit Garg © Cleide Kclock

Mais de 90% dos investimentos de Amit são em empresas dos Estados Unidos. Outros 10% vão para companhias brasileiras e indianas, dois países com quem ele tem conexão. Desde a criação da Tau, o foco sempre foi IA, mas o investidor conta que, apesar da tecnologia já existir há mais de 70 anos, não imaginava que a explosão fosse tão rápida.

"A gente tinha essa expectativa de que a IA poderia se tornar o que se tornou, mas esperava que levaria mais tempo. A diferença entre ontem e hoje é que você não precisa necessariamente desenvolver tudo do zero, pode usar todas essas plataformas que existem e aplicá-las para resolver qualquer problema que você está interessado", conta. 

"Vou dar um exemplo: a gente tem uma empresa que usa machine learning para fazer descoberta de medicamentos e uma outra que usa computer vision para fazer detecção de câncer. Essas empresas não poderiam existir há alguns anos porque elas teriam que ter desenvolvido tudo do zero. Agora elas conseguem alavancar o que estão fazendo porque já existem plataformas, tecnologias, gente, que permitem que elas comecem em etapas mais avançadas para ir até o fim", explica.

Para o investidor, o potencial da IA na área da saúde é infinito e vai mudar o mundo, remodelar processos administrativos, reduzir a burocracia do setor, mudar formas de diagnóstico, tratamentos e monitoramento dos pacientes. Assim como em tantas outras profissões, o trabalho do médico também está se transformando, ressalta.

"Os médicos terão que aprender, reaprender ou desaprender o que fazem, e vão ter certos tipos de coisas que eles não vão fazer mais e outras que vão fazer a mais. Acho que é uma transformação fundamental na natureza do trabalho, da mesma forma como aconteceu na Revolução Industrial e a Revolução Agrícola. A diferença é que essa evolução (da IA) é maior e muito mais rápida. Então o processo de adaptação para nós é muito mais crítico", diz.

Monitoramento constante

Além de empresas que desenvolvem novos medicamentos e aceleram diagnósticos de câncer com tecnologia de inteligência artificial, Amit cita diversas outras soluções que podem mudar nossas vidas. Acompanhar como está nosso organismo em tempo real, verificar os nutrientes que faltam ou estão em excesso ou o que precisamos neste exato momento pode ser um sonho próximo, por exemplo.

Mas, a cada instante, novas empresas e ideias surgem, neste que é um momento de explosão do uso da IA. O trabalho de Amit é fazer apostas: em novas empresas, descobertas e no que pode ser o futuro.

"A gente está criando a nova safra de empresas agora. Vamos permitir que médicos e pacientes entendam melhor sobre o seu corpo, tenham diagnósticos de doenças muito mais cedo, entendam como tratá-las, tenham melhor acompanhamento médico, e ajudem quem não tem acesso a tratamento ou a médicos. O que a IA em geral possibilita para as empresas de saúde especificamente é mudar um paradigma: o que era muito difícil virou fácil; o que era impossível virou possível; o que era implausível virou não só plausível, mas talvez um dever, um dever societal. Se a gente tem como fazer, devemos fazer", finaliza Amit.

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