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Brasil-Mundo

Padre artista brasileiro cria obras com patrimônio do Vaticano, tecidos e objetos reutilizados

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A sociedade humana tende a descartar tudo o que não atende aos critérios de eficiência. Em contraste com a cultura do desperdício, o padre brasileiro Sindival Fila propõe a "arte de reutilizar e a harmonia". O paranaense, de 60 anos, manifestou interesse pelas artes plásticas já na adolescência. Estudou a tradição artística da Idade Média, do Renascimento e do Barroco, mas se sentiu atraído pelo moderno, do impressionismo ao cubismo. 

Sidival FIla, padre e artista
Sidival FIla, padre e artista © Arquivo pessoal
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Gina Marques, correspondente da RFI em Roma

Sidival foi para a Itália em 1985, para aprofundar o estudo da pintura e da escultura. Depois de cinco anos em Roma, ingressou na Ordem dos Frades Menores de São Francisco de Assis. Ele foi ordenado sacerdote em 1999, mas nunca abandonou sua vocação artística.

Hoje o frei franciscano é também um artista contemporâneo renomado. Suas obras fazem parte de coleções privadas na França, no Principado de Mônaco, na Suíça e outros países. Agora ele participa da Exposição "(Re)Versus, Reutilização e Redenção", na galeria da Biblioteca Apostólica do Vaticano, onde conversou com a RFI.

“Meu trabalho é recuperar tecidos antigos, não para reutilizar, mas para resgatar o tecido. Eu acredito que a matéria, quando tirada da sua funcionalidade, tem a força da arte e da expressão. Eu trabalho muito com os tecidos antigos”, conta o artista.

Fila nos mostra uma das suas obras expostas. Um grande tear de 130 x 258 cm feito com um maravilhoso tecido do século XVIII. Ele recortou as flores da estampa e as costurou cuidadosamente como um bordado suspenso no ar.

“Esse tecido de 1.700 foi recuperado, cortado e costurado, mantendo toda intensidade e suspensão. Essa obra foi exposta na Bienal de Veneza em 2019”, explica.

Transformação da natureza

Sindival Fila não trabalha só com tecidos antigos. Na sua outra instalação, em uma sala escura da galeria, a única luz do teto ilumina uma árvore em um vaso dourado. O título da obra é "Natura Artificialis".

“Essa instalação é um carvalho, uma árvore morta que eu recuperei. A árvore e o vaso são dourados para ressaltar o estado de metamorfose, de transformação e de passagem. A ideia de fundo é sensibilizar as pessoas pela natureza. A natureza também é sujeita à redenção da vida. Essa natureza é transformada. O ouro a transforma em transcendência pura", diz o franciscano.

O artista brinca com a funcionalidade e a transformação estética dos objetos, como com uma pesada mesa barroca, com os pés de madeira entalhada e dourada e tampo de mármore.

“Sobre a funcionalidade, eu quis tirar a força da mesa, que é uma mesa barroca. Eu substituí a pedra do tampo por um quadro costurado, rendendo frágil a superfície, com movimento em relação aos pés, fazendo que a mesa não seja mais uma mesa, mas sim uma escultura”, esclarece. 

Logo na entrada da galeria da Biblioteca Apostólica do Vaticano, outra instalação do padre brasileiro é exibida. Ele realizou uma armação cúbica em torno de uma antiga estátua de Santo Hipólito e enrolou esta estrutura em tecido transparente.

“Esta é uma instalação que cobre, em parte, a estátua de Santo Hipólito com esses fios, desestruturando a imagem, escondendo e revelando a imagem”, diz. 

Mensagem do papa Francisco

“O patrimônio milenar da Biblioteca Apostólica com o trabalho do artista brasileiro e padre franciscano Sidival Fila: dois caminhos se cruzam para superar a ‘cultura do desperdício’ de uma forma tão criativa quanto poética, e temperada com uma saudável ironia.” escreveu o papa Francisco em uma mensagem enviada na inauguração da exposição.

“O papa fala de uma apologia integral que é muito importante porque significa a palavra inteira, que não é separável. Aprender e perceber o ser humano não como um ser isolado no mundo, mas como integrante. Integrar as nossas relações com as pessoas, as nossas relações com Deus, com a natureza e tudo aquilo que comporta. Mas é também uma relação funcional, saber que eu faço parte da natureza. Nunca serei uma pessoa completa se não estiver em relação com os outros e com o mundo”, enfatiza Sidival Fila.

O papa ressaltou também dois conceitos presentes simbolicamente no trabalho artístico do sacerdote brasileiro: a redenção, simbolizada pelos fragmentos de seda recuperados pelo padre, e a reutilização, presente nas obras artísticas restauradas. Francisco salientou que o trabalho de Sidival Fila oferece elementos de reflexão para passar da “cultura do desperdício” à “cultura da harmonia”.

A Exposição "(Re)Versus, Reutilização e Redenção" no Patrimônio da Biblioteca do Vaticano e na Arte de Sidival Fila está aberta ao público até o próximo 15 de julho.

 

A Exposição (RE)VERSUS. Reutilização e Redenção no Patrimônio da Biblioteca do Vaticano e na Arte de Sidival Fila está aberta ao publico até o próximo 15 de julho.
A Exposição (RE)VERSUS. Reutilização e Redenção no Patrimônio da Biblioteca do Vaticano e na Arte de Sidival Fila está aberta ao publico até o próximo 15 de julho. © Arquivo pessoal

 

  

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