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Brasil-Mundo

Associação criada em Portugal ajuda a comunidade brasileira LGBTQI+

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Associação sem fins lucrativos, a Queer Tropical oferece apoio à comunidade brasileira LGBTQI+ residente em Portugal e também no Brasil.

Logotipo da associação
Logotipo da associação © Queer Tropical
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Fábia Belém, correspondente daRFI em Lisboa

A mineira Débora Ribeiro, diretora e uma das fundadoras da entidade, mora em Portugal há 14 anos. Ela conta que o trabalho da associação começou em 2018, ano em que Jair Bolsonaro foi eleito presidente do Brasil. À época, quando soube do resultado das urnas, ela entrou “em desespero” porque começou a receber mensagens de amigos brasileiros da comunidade LGBTQIA+ que queriam deixar o país e vir para Portugal. As pessoas não se sentiam mais seguras no Brasil.

O Brasil é um país extremamente homofóbico, desde sempre. Isso só escalou com o governo do Bolsonaro porque se você tem um presidente que legitima essas ideias, você passa também a não ter vergonha de mostrá-las”, afirma Débora.

Assim como muitas pessoas da comunidade LGBTQIA+, Gláucia Manzzaneira e a esposa também foram vítimas de ações homofóbicas. Em 2018, elas moravam na capital paulista e passaram a viver assombradas pelo medo depois de serem atingidas por esse tipo de violência. Gláucia conta que ao atravessar a rua e ajudar a esposa, que “estava com o pé quebrado” e havia saído de uma sessão de fisioterapia, “passou um carro grande, uma Land Rover muito próxima a gente", recorda. "[Quem dirigia] acelerou o carro, abriu o vidro quando chegou bem perto da gente, quase nos atropelou, e gritou bem alto, falando que o Bolsonaro ia ‘acabar com aquela putaria’. Aquilo nos chocou muito”, lembra.

Ao comentar os casos de violência e insegurança vividos no Brasil, Débora explica que, em Portugal, a comunidade LGBTQI+ brasileira encontra “um país que propicia uma segurança para nossa comunidade”, e tem sido esse o principal fator que as pessoas buscam quando cruzam o Atlântico.

Ajudando pessoas

Para ajudar pessoas como Glaucia e a esposa, Débora criou, primeiro, um grupo no Facebook. O passo seguinte foi divulgar numa página LGBTQIA+, que tinha muitos seguidores, o que estava disposta a fazer.

Escrevi que eu era uma mulher lésbica, que eu vivia em Portugal há dez anos e que eu estava disposta a passar informações para as pessoas da comunidade LGBTQIA+ que quisessem sair do Brasil e vir para Portugal, que essas pessoas podiam entrar neste grupo e que eu ia tentar fazer de tudo para ajudar, passando informações sobre custo de vida, vistos e essas coisas todas”, relata.

A postagem teve tanta repercussão que em poucas horas recebeu mais de três mil curtidas, dois mil comentários, além de muitas mensagens “de pessoas me mandando fotos de agressões”. Mais tarde, o grupo do Facebook virou coletivo, e há dois anos se constituiu como uma associação.

Ainda sem espaço físico, a Queer Tropical conta com o trabalho de 14 pessoas voluntárias. Glaucia Manzzaneira é uma delas. Depois do que aconteceu em São Paulo, ela e a esposa se mudaram para Portugal.  A Queer ajudou no processo de integração do casal ao novo país, onde conheceram pessoas “com quem a gente se identificava, pessoas brasileiras LGBTs, e isso nos deu bastante suporte para achar alguma identificação nesse lugar e fazer com que fizesse sentido estar aqui”, revela a paulistana, que é responsável pela organização dos eventos promovidos pela associação.

Por e-mail ou pelo Instagram da entidade, a equipe da Queer responde aos pedidos de ajuda que chegam de norte a sul de Portugal e também do Brasil. Embora o governo Bolsonaro tenha acabado, continuam a aparecer pedidos de informações sobre como viver em Portugal legalmente. “Nós passamos essas informações, que estão disponíveis em sites oficiais”, frisa Débora Ribeiro.   

“A gente precisa ter muito cuidado porque Bolsonaro saiu, mas o bolsonarismo continua", adverte a mineira. Não só o bolsonarismo, mas outras formas de violência da extrema direita. "Isso existe na sociedade e a nossa comunidade é uma das mais afetadas por essa violência. Então, a gente tem sempre de estar atenta”, alerta a ativista.

Serviços em Portugal

Pessoas da comunidade brasileira LGBTQI+ residentes em Portugal recorrem à Queer Tropical para pedir apoio social, jurídico, psicológico, bem como informações relacionadas ao mercado de trabalho. “Muitas vezes, essas pessoas estão numa situação muito fragilizada em nível de documentação ou têm situações que são muito específicas: [por exemplo] pessoas que estavam em abrigos sofrendo violências homofóbicas, xenofóbicas, racistas”, explica a diretora da associação.

Para resolver os casos que aparecem, a Queer Tropical trabalha com associações não governamentais portuguesas financiadas ou pelo Estado ou pela iniciativa privada, e que oferecem os serviços. 

Planos para o futuro

Atualmente, a Queer Tropical está fazendo um levantamento para saber quantas pessoas já conseguiu atender. Por meio das redes sociais, foram ao menos 7 mil pessoas.

Sobre o futuro, “o propósito”, segundo Débora, é ter um espaço físico e conseguir ajudar diretamente a comunidade LGBTQI+: “Ter um psicólogo e um advogado, e que a gente consiga também pagar essas pessoas”, espera a brasileira.

“Não desanimem”

A diretora da Queer Tropical diz que é muito difícil ser imigrante, LGBTQIA+ e mulher em Portugal, mas garante: “Vocês não estão sozinhos”. A quem precisa de ajuda, Débora deixa um recado: “Não hesitem, mandem mensagem, expliquem as situações, não desanimem”, pois a associação vai tentar ajudar “da melhor forma possível”.

Os pedidos podem ser enviados por meio do Instagram da entidade e também pelo endereço eletrônico queertropical@gmail.com.

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