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Brasil-África

Brasileiros buscam parcerias com nigerianos para impulsionar produções do audiovisual

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O maior produtor de petróleo africano também é um dos maiores produtores de filmes do mundo, graças a “Nollywood”, como é chamada a industria cinematográfica nigeriana, que produz mais de duas mil obras por ano, segundo publicações deste mercado. Lagos, a maior cidade do país, acaba de sediar a 12ª edição do African International Film Festival (AFRIFF), que reuniu nos últimos dias profissionais de diversos países, inclusive o Brasil.

Da esq.-dir.: Luiz Toledo, diretor de Investimentos e Parcerias Estratégicas da Spcine, Anderson Jesus produtor e diretor, Bárbara Magalhanis, escritora e diretora e Rodrigo Espíndola, assessor de Parcerias Estratégicas.
Da esq.-dir.: Luiz Toledo, diretor de Investimentos e Parcerias Estratégicas da Spcine, Anderson Jesus produtor e diretor, Bárbara Magalhanis, escritora e diretora e Rodrigo Espíndola, assessor de Parcerias Estratégicas. © Divulgação
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Vinicius Assis, correspondente da RFI no Egito

A escritora e diretora Bárbara Magalhanis e o produtor e diretor Anderson Jesus participaram do festival este ano. Bárbara entrou no audiovisual na época da pandemia, criando animações infantis. Apesar do “pouco tempo” de carreira, os projetos que ela já desenvolveu a levaram a dirigir curta metragens. A viagem para a Nigéria é a primeira dela ao continente africano e a brasileira garante que a participação no festival valeu muito a pena. “Está sendo tudo muito rico. Tem tudo a ver com um dos meus projetos. Eu trabalho com mitologia Yorubá. Conversei com muitas pessoas yorubás aqui. Eu acho que já enriqueceu totalmente o trabalho que eu desenvolvo no Brasil. Vai sair parceria daqui, sim”, disse.

Não é a primeira fez que Anderson vem ao continente africano. Ele volta ao Brasil muito otimista com essa passagem pela Nigéria. “O que me surpreendeu aqui foi a diversidade, as possibilidades, o aprendizado, o tamanho do evento, a quantidade de pessoas envolvidas, a estrutura e as produções. Infelizmente, nem todas chegam pra nós no Brasil”, contou.

Mercado nigeriano

Os dois profissionais fazem parte da Rede Afirmativa da Spcine, empresa pública de fomento ao audiovisual vinculada à Secretaria Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo, que os levou para o país africano. “Estar aqui na Nigéria é uma oportunidade para entender ainda melhor o mercado nigeriano, que é muito complexo, como o mercado brasileiro, e também uma grande oportunidade para conectar talentos”, disse Luiz Toledo, diretor de Investimentos e Parcerias Estratégicas da Spcine, que também contou com Rodrigo Espíndola, assessor de Parcerias Estratégicas, na delegação.

Luiz teve um painel incluído na programação do evento chamado “Oportunidades de colaboração cinematográfica internacional com cineastas nigerianos”, onde ele apresentou oportunidades de cooperação entre Brasil e Nigéria. Mas o brasileiro sabe que, em se tratando de parcerias internacionais, os Estados Unidos são um ator muito relevante e a França, principalmente, tem muita presença no continente africano no que diz respeito à produção de filmes. “Quando a gente apresenta o Brasil como potencial parceiro para produção de filmes, isso atrai muita atenção da indústria nigeriana, dos produtores nigerianos que veem no Brasil um aliado mais próximo para contar histórias que são próximas também”, destaca.

Ele lembra que os idiomas falados nos dois países são diferentes, o que pode ser encarado como um desafio, mas aposta nos laços históricos e culturais com o Brasil pra atrair o interesse nigeriano. “O nosso candomblé é completamente referenciado à cultura Yorubá. Os nigerianos amam o futebol brasileiro. Então, eu acho que, por ter uma cultura próxima e do ponto de vista econômico - a Nigéria e o Brasil são economias em desenvolvimento e com desafios bem parecidos - é muito natural que a produção brasileira e a nigeriana possam se aproximar para também encontrar formas de financiamento que não sejam o financiamento puro das plataformas de vídeos sobre demanda e dos principais estúdios americanos”, frisou.

Audiovisual "elitista"

Essa indústria nigeriana é majoritariamente financiada de forma privada, enquanto a indústria brasileira é muito financiada de forma pública, por incentivos e editais. “Que esses dois países encontrem soluções próprias para chegar à audiência global”, acrescentou. “O audiovisual é um mercado caro, elitista. Eu fui ter acesso ao audiovisual só após os 30 anos, eu tenho 45 hoje”, contou Anderson, que dirigiu a série Desaparecidos e aposta na democratização do setor.

Não foi a primeira vez, nos últimos meses, que uma missão brasileira cruzou o oceano atlântico para explorar possibilidades de parcerias com o mercado cinematográfico em países africanos, como África do Sul, Burkina Faso e Angola, de olho em parcerias futuras. Mas a Nigéria - onde o Luiz disse que esteve pela segunda vez este ano - é o maior foco. “A gente conversou com muitos produtores, órgãos de governo para conhecer melhor o mercado nigeriano, na nossa primeira viagem. Também fizemos encontros virtuais entre produtores nigerianos e brasileiros”, disse, ressaltando que produtores dos dois países já assinaram contratos de confidencialidade para começar a discutir projetos concretos. “Isso é o primeiro passo para fazer coprodução”, destacou.

Spcine

A Spcine funciona como um escritório de desenvolvimento, financiamento e implementação de programas e políticas para os setores de cinema, TV, games e novas mídias. O foco é estimular o potencial econômico e criativo do audiovisual paulista, mas também lembrando do impacto cultural e social. O diretor que fez parte da delegação sabe que esta indústria é majoritariamente conduzida por homens brancos, como ele. Mas diz que a empresa - que é presidida por uma mulher negra, se mostra comprometida em promover a diversidade nas missões que tem feito pelo continente africano. O movimento de aproximar o Brasil da África através desse setor é feito em parceria com a Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (APAN).

Internamente, a estrutura brasileira para o audiovisual, com editais, dificuldade de acessar bons equipamentos e se educar dentro do setor, acaba afastando muita gente deste ramo. “Nas periferias a gente sabe que existem muitos talentos que precisam e podem ser lapidados. E quem sabe dali podem sair muitas grandes e boas histórias, contadas pela perspectiva de diversidade”, disse Anderson Jesus. Mas ele destaca que para que mais prêmios saiam das periferias brasileiras, é preciso trabalhar esses talentos. “A gente precisa permitir que esses talentos tenham acesso aos meios de produção, conhecer o que está sendo feito no Brasil e fora do Brasil também. Que possam, principalmente, ter a visão de que é possível sobreviver e viver trabalhando de audiovisual e contando as suas próprias histórias”, finalizou.

Bárbara diz que é notório que as melhores oportunidades deste setor dificilmente estão voltadas para mulheres pretas como ela, embora se mostre otimista com um caminho que se inicia pra mudar este cenário. “Pessoas criativas a gente tem, mas para desenvolver alguma coisa ainda é um caminho muito difícil. A gente precisa cada vez mais de oportunidades e é importante ter contato com outras culturas e entender como outras produções estão sendo feitas”, ressaltou .

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