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A Semana na Imprensa

Para revista francesa, "há duas faces da verdade" no conflito entre Israel e Palestina

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A guerra entre Israel e o Hamas, que reduz a ruínas a Faixa de Gaza, leva revistas semanais francesas a publicarem dossiês ricos em cartografia e fatos históricos dessa região ocupada por pessoas de diferentes crenças há 3 mil anos. "A trágica história da Terra Prometida [citada no livro sagrado israelense]" é descrita por historiadores, diplomatas e intelectuais ao longo de 57 páginas na revista L'Obs. Já a L'Express foca suas reportagens em "Três mil anos de paixões em Jerusalém". 

Homem chora no hospital Nasser, em Khan Yunis, após saber da morte de um familiar atingido por um bombardeio israelense no sul da Faixa de Gaza. 27 de dezembro de 2023
Homem chora no hospital Nasser, em Khan Yunis, após saber da morte de um familiar atingido por um bombardeio israelense no sul da Faixa de Gaza. 27 de dezembro de 2023 AFP - -
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Em seu editorial, a L'Obs constata que "a máquina infernal da guerra foi reativada no Oriente Médio, e ninguém sabe como pará-la". "Com foguetes, drones e notícias falsas, a fábrica de mártires está funcionando a todo vapor", escreve a publicação. Extremistas de ambos os lados alimentam o sonho mais ou menos declarado de estabelecer seu domínio sobre essa Terra Santa amaldiçoada, diz o texto. "Vítimas infelizes se veem aprisionadas em um conflito que vai além delas, que as precede, que as mata." 

"Qual pode ser o resultado desse pesadelo, que está contaminando o planeta e afetando a todos nós?", indaga a revista francesa. Uma coisa é certa: nenhum futuro é possível sem enfrentar o passado, declara a publicação.

Isso é verdade em todos os lugares e particularmente no Oriente Médio. O presente tem raízes e, apesar de sua profundidade vertiginosa, apesar do sangue e das lágrimas, é preciso desenterrá-las para entender como, nos últimos 3 mil anos, elas se entrelaçaram para criar uma situação tão trágica. 

O dossiê da L'Obs abrange desde os tempos míticos do Rei Davi até os eventos mais recentes, incluindo as primeiras diásporas judaicas, a construção do Domo da Rocha, as Cruzadas dos Francos, os Impérios Otomano e Britânico, os primeiros kibutzes, o início do Estado de Israel e, inevitavelmente, o que isso significou para centenas de milhares de palestinos forçados ao exílio. "Nessa história, a verdade tem duas faces", analisa o diretor-adjunto de redação, Grégoire Leménager. 

A Europa precisou de dois mil anos de tragédias e massacres para alcançar a estabilidade e a harmonia que prevalecem hoje. A L'Obs espera que a paz entre israelenses e palestinos requeira menos tempo. 

Expansão de Jerusalém

O desafio de combater a desinformação também motivou a L'Express a dedicar dezenas de páginas à história de Jerusalém. Na avaliação do diplomata Michel Foucher, autor de um dos artigos publicados na revista, desde 1967, a expansão de Jerusalém para o leste tem sido a prioridade dos governos de esquerda e de direita em Israel.

Ele recorda que "a Cidade Velha de Jerusalém é um quilômetro quadrado multiplicado por 3 mil anos de história". Entre os séculos 16 e 20, ela foi uma cidade do Império Otomano. Em dezembro de 1917, durante a Primeira Guerra Mundial, Jerusalém foi conquistada pelos britânicos com seus aliados australianos e neozelandeses. Com a partilha do antigo Império Otomano, em 1923, a Liga das Nações, primeira organização internacional criada para promover a paz, concedeu ao Reino Unido o Mandato Britânico da Palestina, que durou até 1948, quando as Nações Unidas oficializaram a criação do Estado de Israel, após o genocídio judeu promovido pelo regime nazista na Alemanha.

Entretanto, muito antes disso, desde o início do sionismo – um movimento político e religioso que surgiu na Europa Oriental na década de 1880, defendendo o retorno dos judeus à Palestina –, a formação do Estado de Israel tem sido a história de mil pequenos assentamentos em locais estratégicos. É uma estratégia na qual os israelenses ocupam pontos e depois os unem para formar blocos.

Nessa abordagem, devido à sua importância histórica e religiosa, Jerusalém é uma prioridade absoluta, muito mais do que a Cisjordânia ocupada, destaca o diplomata francês nas páginas da L'Express.

A guerra na Faixa de Gaza começou em retaliação a um atentado terrorista do movimento islâmico palestino Hamas no sul de Israel, que matou 1.140 pessoas, a maioria civis, em 7 de outubro. Cerca de 250 pessoas também foram sequestradas e levadas para o território palestino. Desses reféns, 129 ainda estão em Gaza, de acordo com o Exército de Israel. Cerca de cem pessoas foram libertadas como parte de uma trégua no final de novembro em troca de 240 prisioneiros palestinos encarcerados por Israel.

Na sexta-feira (29), o Ministério da Saúde do Hamas relatou 21.507 mortos desde o início do conflito mais sangrento já ocorrido no enclave palestino, incluindo 6.300 mulheres e 8.800 crianças, e mais de 55.915 feridos.

A agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA) anunciou, por sua vez, que desde 7 de outubro, 308 pessoas que haviam buscado refúgio em instalações das Nações Unidas morreram em decorrência dos bombardeios israelenses, enquanto outras 1.095 ficaram feridas. 

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