Para revista francesa, "há duas faces da verdade" no conflito entre Israel e Palestina
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A guerra entre Israel e o Hamas, que reduz a ruínas a Faixa de Gaza, leva revistas semanais francesas a publicarem dossiês ricos em cartografia e fatos históricos dessa região ocupada por pessoas de diferentes crenças há 3 mil anos. "A trágica história da Terra Prometida [citada no livro sagrado israelense]" é descrita por historiadores, diplomatas e intelectuais ao longo de 57 páginas na revista L'Obs. Já a L'Express foca suas reportagens em "Três mil anos de paixões em Jerusalém".
Em seu editorial, a L'Obs constata que "a máquina infernal da guerra foi reativada no Oriente Médio, e ninguém sabe como pará-la". "Com foguetes, drones e notícias falsas, a fábrica de mártires está funcionando a todo vapor", escreve a publicação. Extremistas de ambos os lados alimentam o sonho mais ou menos declarado de estabelecer seu domínio sobre essa Terra Santa amaldiçoada, diz o texto. "Vítimas infelizes se veem aprisionadas em um conflito que vai além delas, que as precede, que as mata."
"Qual pode ser o resultado desse pesadelo, que está contaminando o planeta e afetando a todos nós?", indaga a revista francesa. Uma coisa é certa: nenhum futuro é possível sem enfrentar o passado, declara a publicação.
Isso é verdade em todos os lugares e particularmente no Oriente Médio. O presente tem raízes e, apesar de sua profundidade vertiginosa, apesar do sangue e das lágrimas, é preciso desenterrá-las para entender como, nos últimos 3 mil anos, elas se entrelaçaram para criar uma situação tão trágica.
O dossiê da L'Obs abrange desde os tempos míticos do Rei Davi até os eventos mais recentes, incluindo as primeiras diásporas judaicas, a construção do Domo da Rocha, as Cruzadas dos Francos, os Impérios Otomano e Britânico, os primeiros kibutzes, o início do Estado de Israel e, inevitavelmente, o que isso significou para centenas de milhares de palestinos forçados ao exílio. "Nessa história, a verdade tem duas faces", analisa o diretor-adjunto de redação, Grégoire Leménager.
A Europa precisou de dois mil anos de tragédias e massacres para alcançar a estabilidade e a harmonia que prevalecem hoje. A L'Obs espera que a paz entre israelenses e palestinos requeira menos tempo.
Expansão de Jerusalém
O desafio de combater a desinformação também motivou a L'Express a dedicar dezenas de páginas à história de Jerusalém. Na avaliação do diplomata Michel Foucher, autor de um dos artigos publicados na revista, desde 1967, a expansão de Jerusalém para o leste tem sido a prioridade dos governos de esquerda e de direita em Israel.
Ele recorda que "a Cidade Velha de Jerusalém é um quilômetro quadrado multiplicado por 3 mil anos de história". Entre os séculos 16 e 20, ela foi uma cidade do Império Otomano. Em dezembro de 1917, durante a Primeira Guerra Mundial, Jerusalém foi conquistada pelos britânicos com seus aliados australianos e neozelandeses. Com a partilha do antigo Império Otomano, em 1923, a Liga das Nações, primeira organização internacional criada para promover a paz, concedeu ao Reino Unido o Mandato Britânico da Palestina, que durou até 1948, quando as Nações Unidas oficializaram a criação do Estado de Israel, após o genocídio judeu promovido pelo regime nazista na Alemanha.
Entretanto, muito antes disso, desde o início do sionismo – um movimento político e religioso que surgiu na Europa Oriental na década de 1880, defendendo o retorno dos judeus à Palestina –, a formação do Estado de Israel tem sido a história de mil pequenos assentamentos em locais estratégicos. É uma estratégia na qual os israelenses ocupam pontos e depois os unem para formar blocos.
Nessa abordagem, devido à sua importância histórica e religiosa, Jerusalém é uma prioridade absoluta, muito mais do que a Cisjordânia ocupada, destaca o diplomata francês nas páginas da L'Express.
A guerra na Faixa de Gaza começou em retaliação a um atentado terrorista do movimento islâmico palestino Hamas no sul de Israel, que matou 1.140 pessoas, a maioria civis, em 7 de outubro. Cerca de 250 pessoas também foram sequestradas e levadas para o território palestino. Desses reféns, 129 ainda estão em Gaza, de acordo com o Exército de Israel. Cerca de cem pessoas foram libertadas como parte de uma trégua no final de novembro em troca de 240 prisioneiros palestinos encarcerados por Israel.
Na sexta-feira (29), o Ministério da Saúde do Hamas relatou 21.507 mortos desde o início do conflito mais sangrento já ocorrido no enclave palestino, incluindo 6.300 mulheres e 8.800 crianças, e mais de 55.915 feridos.
A agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA) anunciou, por sua vez, que desde 7 de outubro, 308 pessoas que haviam buscado refúgio em instalações das Nações Unidas morreram em decorrência dos bombardeios israelenses, enquanto outras 1.095 ficaram feridas.
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