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A Semana na Imprensa

Às vésperas da eleição presidencial francesa, revistas do país destacam desinteresse de eleitores

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A França está exausta pela pandemia de Covid-19 e preocupada com a guerra na Ucrânia. Neste contexto, a eleição presidencial deste domingo (10) se apresenta como “incerta” e de “alto risco”, escreve a revista semanal L’Obs, em sua reportagem de capa. Será que os eleitores vão entrar no “jogo democrático” ou vão “se abster em massa?”, questiona a publicação francesa. O assunto também é analisado pela L'Express, que tenta entender as razões que motivam os abstencionistas. 

Candidatos ao Palácio do Eliseu. O primeiro turno à eleição presidencial acontece neste domingo (10).
Candidatos ao Palácio do Eliseu. O primeiro turno à eleição presidencial acontece neste domingo (10). © Julio PELAEZ
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O canal de televisão francês TF1 pretende encerrar a cobertura eleitoral mais cedo do que em outros anos, destaca o texto da L'Obs, citando que institutos de pesquisa estimam uma abstenção em torno de 29% no primeiro turno, mas que pode chegar a 43%, entre os jovens.

A L’Obs explica que entre as causas do desinteresse eleitoral estão “uma desconfiança cada vez maior em relação à classe política, a pandemia que afastou as pessoas da vida pública e o sentimento de uma eleição que já decidida". O lado positivo foi o aumento no número de inscritos para votar: 48,8 milhões, contra 47,2, em 2017, o que pode ser explicado pelo crescimento demográfico e a inscrição pela internet, segundo a reportagem.

A força do populismo de extrema direita

A revista também analisa o crescimento da extrema direita na França. “Depois de Trump, nos Estados Unidos, do Brexit e da reeleição de Viktor Orbán, na Hungria, a França seria poupada?” questiona a L’Obs.

Uma das razões do desempenho da extrema direita, explica o texto, “é o crescimento da sua esfera de influência”, com mais espaço na mídia e dois candidatos a presidente: Marine Le Pen e Eric Zemmour, que juntos somam 30% das intenções de votos.

“Marine Le Pen se tornou a porta-voz quase hegemônica dos franceses que pedem uma proteção contra a globalização, seja econômica, cultural ou política”, afirma o cientista político Pascal Perrineau, citado pela L’Obs.

A revista ainda cita que os dois partidos tradicionais franceses, o PS (Partido Socialista), à esquerda, e o LR (Os Republicanos), à direita, que durante muito tempo estruturaram a política francesa, agora lutam por sua sobrevivência. Ao mesmo tempo, a esquerda radical “está bem instalada” no cenário político nacional, diz o texto, sem que o candidato da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, consiga, no entanto, reunir todos os eleitores de esquerda. “Há um enorme cansaço do sistema partidário que se aplica, também, ao LREM”, partido de Emmanuel Macron, segundo reconhecem os próprios partidários do presidente, que se destacou, em 2017, justamente ao se aproveitar do esfacelamento partidário.

O paradoxo dos abstencionistas

O desânimo da população francesa com a eleição presidencial também é um dos assuntos principais da revista L’ Express que chega às bancas. “A 2.000 quilômetros da Ucrânia, onde a população luta por sua liberdade, certos franceses não pretendem aproveitar de um de seus direitos fundamentais: o do voto”, compara a reportagem.

A revista entrevistou vários eleitores que não pretendem comparecer às urnas. É o caso de Sarah, que trabalha numa confeitaria. “Não vejo o interesse de votar”, diz ela. “Quando digo isso, me sinto julgada por todos”, completa a jovem de 26 anos, que já comprou passagem para viajar no domingo e nem pensou em deixar uma procuração de voto.

A cada eleição, “a taxa de abstenção pode servir como um termômetro da saúde da democracia francesa”, observa L’Express. E seu crescimento aparece “como sintomas de um país doente”, analisa a reportagem. Porém, não se pode explicar tudo pelo desgosto em relação à política.

"Não tenho tempo de votar"

“Quando entrevistamos os abstencionistas, um quarto deles não exprime nenhuma insatisfação”, explica Pierre Bréchon, professor emérito de ciências políticas do Instituto de Estudos Políticos de Grenoble. “A abstenção é puramente individualista, o voto não lhes interessa ou eles têm coisa melhor a fazer neste dia”, diz.

“Eu não tenho tempo de ir”, diz Leo, um técnico de laboratório de 23 anos inscrito em Limoges. “É cansativo, e como me mudei depois de me inscrever, não quero atravessar a cidade para votar”, afirma Thomas, 30 anos e morador da capital. “É uma perda de tempo”, acredita.

Para Pierre Bréchon, "é um símbolo da individualização da nossa sociedade". Entretanto, não significa que os abstencionistas estão indiferentes aos outros. "Eles apenas não utilizam as eleições para exprimir seu sentimento de coletividade", conclui o cientista político. 

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