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'Macroleão': como os russos veem a recente guinada do presidente francês na guerra da Ucrânia

No início da guerra na Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, o presidente francês Emmanuel Macron defendeu o diálogo com seu colega russo, Vladimir Putin, mas dois anos depois ele se tornou um "inimigo" de Moscou, que o rotulou de belicista, e o chamou ironicamente de "Macroleão", mistura do nome do chefe de Estado com um antigo predecessor imperialista, o todo-poderoso Napoleão. 

Há várias semanas, Emmanuel Macron vem alertando contra o endurecimento das posições do Kremlin e pedindo um "avanço", chegando até a mencionar a possibilidade de enviar tropas terrestres à Ucrânia.
Há várias semanas, Emmanuel Macron vem alertando contra o endurecimento das posições do Kremlin e pedindo um "avanço", chegando até a mencionar a possibilidade de enviar tropas terrestres à Ucrânia. © Tobias Schwarz / AFP
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"O que aconteceu com Emmanuel Macron, ele perdeu a cabeça?", perguntou o apresentador pró-Kremlin Dmitry Kisilev a Putin na quarta-feira (13). "Trata-se de um ressentimento em relação à crescente influência da Rússia na África", respondeu o todo-poderoso chefe russo.

Moscou critica principalmente as observações do presidente francês em 26 de fevereiro, quando ele não descartou a possibilidade de enviar tropas para a Ucrânia, gerando controvérsia internacional e mesmo doméstica.

Putin lhe prometeu que, se ele passasse das palavras aos atos, aconteceria com ele o mesmo que aconteceu com o imperador francês Napoleão, que foi derrotado em sua tentativa de invadir o Império Russo em 1812.

"As consequências de tais intervenções seriam realmente trágicas", acrescentou o líder russo, para quem uma guerra nuclear seria uma "ameaça real". Ambos os países são potências nucleares, vale lembrar.

Macron, a reviravolta

Mesmo antes de suas declarações controversas, a embaixada russa na França denunciou "a irresponsabilidade e o perigo do crescente envolvimento de Paris no conflito ucraniano".

Para Tatiana Kastouéva-Jean, especialista em Rússia do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri), a reviravolta de Macron em relação a Putin desencadeou essa tendência.

"Há uma falta de compreensão: como passamos de alguém que quer dialogar com a Rússia, ser o mediador, para alguém que assume a liderança do lado mais duro contra ela?", resume a especialista.

"Na Rússia, eles ouviram 'tropas terrestres' e, para eles, isso significava claramente enviar a Otan para ajudar a Ucrânia", acrescenta.

Desde os tempos soviéticos, na visão russa, a Aliança do Atlântico Norte representa uma "ameaça existencial".

"Macroleão"

O presidente francês esclareceu sua posição na noite de quinta-feira (14). Para Macron, a guerra na Ucrânia é uma ameaça "existencial" à Europa, e a Rússia é "o adversário".

"Nunca tomaremos a iniciativa" de combater a Rússia, mas "se a situação se degradar, (...) estaremos prontos para tomar as decisões que forem impostas para que a Rússia nunca vença", acrescentou.

Embora tenha elevado o tom com Moscou desde 2023, ele tem sido muito mais alarmista desde sua última reunião com seu colega ucraniano, Volodimir Zelenski, em 16 de fevereiro, em Paris, e adverte que, se Moscou vencer," Putin não vai parar" na Ucrânia.

"Acho que ele percebeu que Putin mentiu para ele", disse Zelenski à emissora francesa BFMTV na segunda-feira.

"Humilhado"

Macron se sentiu "humilhado" porque "nunca pensou que Putin mentiria tanto para ele", disse o filósofo Pascal Bruckner, segundo o New York Times.

O gabinete do líder francês se limita a explicar que ele "atingiu o limite" do que é possível com Putin. "Foi o Kremlin que mudou, não ele", afirma.

Uma versão rejeitada em Moscou. "Foi a posição de Macron que mudou radicalmente", diz Sergey Markov, diretor pró-Kremlin do Instituto Russo de Estudos Políticos. "Ele se tornou o líder do campo da guerra. Nós o chamamos de Macroleão", disse, referindo-se a Napoleão.

(Com AFP)

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