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Mortes de civis durante distribuição de ajuda em Gaza geram indignação mundial

A França e a China condenaram nesta sexta-feira (1) a morte de cerca de 112 pessoas durante uma distribuição de ajuda humanitária em Gaza, após ataques do Exército israelense. O incidente também teria deixado pelo menos 760 feridos, segundo o grupo Hamas.

Nesta captura de tela tirada de um vídeo e divulgada pelo exército israelense na quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024, palestinos cercam caminhões de ajuda no norte de Gaza, no que as autoridades descreveram no dia anterior como a primeira grande entrega em um mês.
Nesta captura de tela tirada de um vídeo e divulgada pelo exército israelense na quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024, palestinos cercam caminhões de ajuda no norte de Gaza, no que as autoridades descreveram no dia anterior como a primeira grande entrega em um mês. AP
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A França pediu a abertura "de uma investigação independente" nesta sexta-feira após a tragédia ocorrida nesta quinta-feira (29) no enclave palestino. Os disparos israelenses atingiram a multidão faminta, que aguardava a distribuição de mantimentos.

Em um comunicado oficial divulgado nesta sexta-feira (1) o Ministério das Relações Exteriores francês pediu um cessar-fogo duradouro e a investigação do caso. Em entrevista à rádio France Inter, o chanceler francês, Stéphane Séjourné, reiterou a necessidade de esclarecer o drama.

"Quero que fique claro: pediremos explicações e uma investigação independente para determinar o que aconteceu", disse. O ministro francês também lembrou que não poderia haver “dois pesos e duas medidas na reação da França.”

Segundo ele, "a França diz o que pensa. Ela se pronuncia quando qualifica o Hamas de organização terrorista. Mas também se pronuncia quando acontecem atrocidades em Gaza”, alfinetou.

O presidente francês, Emmanuel Macron, já havia publicado uma mensagem na rede X (ex-Twitter) na madrugada desta sexta, condenando o tiroteio de civis "atingidos por soldados israelenses". O chefe de Estado francês pediu "verdade" e "justiça".

O Ministério das Relações Exteriores chinês também condenou a tragédia.  “A China está profundamente triste com este incidente e o condena de maneira firme”, declarou a porta-voz do ministério das Relações Exteriores chinês, Mao Ning.

Houve uma forte indignação nos países árabes: a Arábia Saudita denunciou "um ataque a civis sem defesa" e os Emirados Árabes Unidos lembrou que o incidente ocorreu em um momento em que "as pessoas esperavam ajuda humanitária".

A Jordânia afirma que o massacre ocorre em um momento em que não há um posicionamento internacional para acabar com a guerra. 

Soldados teriam se sentido "ameaçados"

Segundo um oficial do Exército israelense, os soldados se sentiram ameaçados e, na debandada geral, dezenas de moradores acabaram sendo mortos e feridos, “alguns atropelados por caminhões de ajuda”.

O drama, reconheceu o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, complicará as negociações para obter uma trégua no território palestino, destruído após quase cinco meses de conflito e ameaçado pela fome.

Nesta quinta-feira, o embaixador palestino na ONU também pediu ao Conselho de Segurança que condenasse a tragédia." O Conselho de Segurança deveria dizer basta", declarou Riyad Mansour à imprensa.

"Este massacre mostra que, enquanto o Conselho de Segurança estiver paralisado e for vetado, estará destruindo povo palestino", afirmou.

Os Estados Unidos, membro do Conselho permanente, utilizou três vezes seu poder de veto para impedir a aprovação de resoluções pedindo um cessar-fogo imediato no enclave palestino. O país é o maior aliado de Israel.

Mansour disse que se reuniu mais cedo nesta quinta-feira com a embaixadora americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield. "Implorei para que o Conselho de Segurança condene esta matança e puna os responsáveis por este massacre", contou. "O Conselho de Segurança precisa ter coragem e determinação para impedir que estes massacres se repitam, precisamos é de um cessar-fogo", afirmou.

O Conselho de Segurança se reuniu em caráter de urgência na tarde desta quinta-feira, a portas fechadas, a pedido da Argélia, para discutir a situação em Gaza. O conflito já é, de longe, o pior dos cinco que ocorreram entre Israel e o Hamas desde que o movimento islâmico tomou o poder em Gaza, em 2007.

O chefe da ONU, António Guterres, pediu "uma investigação independente eficaz" para identificar os responsáveis e se disse “chocado” com os acontecimentos. 

Surto de violência

De acordo com a ONU, 2,2 milhões de pessoas, a grande maioria da população, estão passando fome na Faixa de Gaza, principalmente no norte, onde os palestinos relataram contaram ter sido obrigados a abater animais usados em carroças e outros veículos para comer.

O Exército israelense tem bombardeado o enclave sem trégua e lançou uma ofensiva terrestre em 27 de outubro. A guerra também levou a um surto de violência na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel desde 1967.

Em Gaza, civis são diariamente alvo de combates e bombardeios israelenses que devastaram bairros inteiros e forçaram 1,7 milhão de pessoas a fugir de suas casas. Segundo a ONU, quase 1,5 milhão de deslocados fugiram para Rafah, e a população agora está acuada nesta cidade perto da fronteira fechada com o Egito.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, no entanto, diz que está determinado a lançar uma ofensiva terrestre no que diz ser um "último reduto".

O incidente desta quinta se soma ao total de mortes de palestinos que, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, superou 30.000, a maioria mulheres e crianças.

A guerra começou em 7 de outubro com um ataque sem precedentes do Hamas que causou a morte de cerca de 1.160 pessoas em Israel, a maioria civis, segundo números israelenses.

(Com AFP)

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