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Apesar de conflitos mundiais, número de jornalistas mortos em 2023 é o mais baixo em 11 anos

A contagem soa paradoxal: enquanto o conflito entre Israel e o Hamas se revela particularmente mortal para os jornalistas, com 17 profissionais assassinados enquanto faziam o seu trabalho, e da guerra entre Ucrânia e Rússia ter entrado no segundo ano, o número total de repórteres mortos no mundo nunca foi tão baixo desde 2002. O balanço foi divulgado nesta quinta-feira (14) pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

Des journalistes, des parents et des amis prient sur le corps du journaliste de Palestine TV Mohamed Abu Hatab et de onze membres de sa famille, le lendemain de leur mort lorsque leur maison a été tou
Palestinos lamentam a morte do jornalista Mohamed Abu Hatab, durante um bombardeio israelense em Khan Yunes, no sul da Faixa de Gaza, em 3 de novembro de 2023. AFP - MAHMUD HAMS
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Em 2023, 45 jornalistas perderam a vida no cumprimento de seu dever, em comparação com 61 no ano passado, de acordo com o relatório anual publicado pela entidade. 

Em 2002, 33 repórteres morreram em coberturas jornalísticas, mais de um terço das perdas estão ligadas ao conflito no Médio Oriente, incluindo 13 só em Gaza. “Isto não reduz de forma alguma a tragédia em Gaza, mas observamos um declínio regular, longe dos mais de 140 jornalistas mortos em 2012 e depois em 2013”, principalmente devido às guerras na Síria e no Iraque, explica o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire.

De acordo com a entidade, as causas para essa diminuição podem ser múltiplas: uma luta mais intensa contra a impunidade, o trabalho de organizações intergovernamentais, ONGs, dos próprios meios de comunicação ou simplesmente maior cautela, enumera a RSF. 

A contagem global, interrompida em 1º de dezembro, “não inclui jornalistas mortos fora de suas funções, aqueles que não foram mortos como tais, nem aqueles cujas circunstâncias de morte permanecem desconhecidas”, especificam os Repórteres sem Fronteiras.

Crimes de guerra

Desde o início do conflito Israel-Hamas, em 7 de outubro, a RSF listou um total de “63 jornalistas mortos” no Oriente Médio, relacionados ou não com a sua profissão. Além de 13 jornalistas que morreram “sob o fogo israelense” em Gaza, segundo a RSF, a guerra provocou a morte de três jornalistas baseados no Líbano e outro em Israel, mortos pelo Hamas.

Em novembro, a RSF apresentou uma queixa ao Tribunal Penal Internacional por “crimes de guerra” cometidos contra jornalistas em Gaza e contra o jornalista israelense. 

Uma investigação da AFP, publicada na semana passada, sobre o atentado que matou o cinegrafista da Reuters, Issam Abdallah, no sul do Líbano, em 13 de outubro, e feriu outras seis pessoas, incluindo a fotógrafa da AFP Christina Assi, aponta que eles foram vítimas da explosão de um projétil lançado por um tanque israelense. 

Questionado sobre o assunto, um porta-voz do Exército israelense sublinhou que o local onde os jornalistas se encontravam era “uma zona de combate ativo”.

Explicações “não satisfatórias”, na opinião de Christophe Deloire, que acredita que “há muitos elementos para Israel enfrentar suas responsabilidades”.  

Menos repórteres mortos na América Latina   

O relatório da RSF aponta que em 2023 houve uma “queda notável” no número de mortes de repórteres na América Latina: seis perderam a vida, em comparação com 26 em 2022.

Depois de Gaza, o México é o país mais mortal para a profissão. No total, foram 4 mortes em 2023, em comparação com 11 no ano anterior. Porém, isto não significa que a segurança da imprensa esteja melhorando, “como demonstram os três sequestros de repórteres e os ataques armados contra quatro jornalistas no final de 2023”, observa o relatório.

O diretor da RSF para a América Latina, Artur Romeu, explica em entrevista à RFI que alguns jornalistas no México “começaram a fazer uma análise mais rigorosa dos riscos, a medir a sua exposição a esses riscos durante as coberturas”. Para a organização, “houve um processo de autocensura”, por medo, o que acaba tendo “reflexo para toda a sociedade”.   

De um total de 84 jornalistas desaparecidos, quase um em cada três é mexicano, observa a ONG.

Já o número de jornalistas detidos em todo o mundo subiu para 521, face aos 569 em 2022, com a Belarus sendo “uma das três maiores prisões do mundo” para repórteres, juntamente “com a China e a Birmânia”, enquanto a Turquia e o Irã também praticam detenções repetidas.

Em 2023, 54 jornalistas foram mantidos reféns, em comparação com 65 em 2022.

(Com informações da RFI e da AFP)

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