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Alcorão profanado: indignação se espalha pelo mundo muçulmano, mas Suécia permanece em silêncio

Manifestantes saíram às ruas no Iraque, Irã e Líbano nesta sexta-feira (21) para denunciar a autorização da Suécia para reuniões organizadas com o objetivo de profanar o Alcorão, em um cenário de tensões diplomáticas entre Estocolmo e vários países muçulmanos. A diplomacia sueca disse que havia repatriado temporariamente para Estocolmo as operações e a equipe de sua embaixada em Bagdá, que foi incendiada no dia anterior por partidários do influente líder religioso iraquiano Moqtada Sadr.

Salwan Momika em frente à embaixada do Iraque na Suécia antes de profanar uma cópia do Alcorão em 20 de julho de 2023.
Salwan Momika em frente à embaixada do Iraque na Suécia antes de profanar uma cópia do Alcorão em 20 de julho de 2023. AP - Oscar Olsson
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Em resposta ao seu apelo, centenas de pessoas se manifestaram em Bagdá após as orações desta sexta-feira (21), bem como na cidade de Nassiriya e em Najaf, cantando "Não, não à Suécia" e "Sim, sim ao Alcorão", de acordo com fotógrafos da agência AFP. O ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir-Abdollahian, disse que enviou uma carta ao secretário-geral da ONU desaprovando a profanação do Alcorão e pedindo que "condene imediatamente esse ato e tome as medidas necessárias o mais rápido possível para evitar que se repita".

As autoridades iranianas convocaram manifestações em todo o país após as orações para denunciar a "profanação do Alcorão Sagrado", de acordo com a televisão estatal. Em Teerã, centenas de manifestantes agitaram bandeiras iranianas e cópias do Alcorão. Outros atearam fogo à bandeira do país escandinavo e jogaram ovos e tomates na embaixada sueca, antes de se dispersarem.

A Suécia é o alvo desses manifestantes depois de dois eventos organizados para profanar o Alcorão. Na quinta-feira (20), Salwan Momika, um refugiado iraquiano na Suécia, pisoteou e quebrou várias vezes um exemplar do livro sagrado dos muçulmanos. No dia anterior, ele havia anunciado sua intenção de incendiá-lo, o que levou a uma manifestação de protesto no Iraque organizada por partidários do turbulento líder religioso Moqtada al-Sadr, durante a qual a embaixada sueca em Bagdá foi incendiada. 

Esse não é o primeiro incidente causado pelo homem: no final de junho, ele já havia queimado algumas páginas de um exemplar do Alcorão em frente à maior mesquita de Estocolmo durante uma manifestação autorizada pela polícia sueca.

Em Bagdá, protegidos do sol escaldante por um mar de guarda-chuvas, os fiéis reunidos em uma avenida no bairro pobre de Madinet Sadr gritavam "Sim, sim ao Islã", agitando retratos de Moqtada Sadr, de acordo com um correspondente da AFP.

Os manifestantes atearam fogo a bandeiras do arco-íris, o que Moqtada Sadr viu como a melhor maneira de irritar os ocidentais e denunciar um "padrão duplo" que, segundo ele, consiste em defender as minorias LGBTQIA+, mas permitir a profanação do Alcorão.

"Por meio dessa manifestação, queremos (...) a criminalização de qualquer profanação de livros sagrados, do Islã, do cristianismo e do judaísmo: todos são livros sagrados", explicou Amer Shemal, funcionário municipal.

Hezbollah reage

Em Beirute, na noite de quinta-feira (20), o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, pediu a expulsão do embaixador sueco no Líbano. "Protegeremos o Alcorão com nossos corações e sangue": este é o slogan sob o qual o Hezbollah lançou uma vasta campanha de mobilização nesta sexta-feira (21) para denunciar a nova profanação do livro sagrado do Islã. A mídia do Hezbollah transmitiu ao vivo os sermões dos imãs e dos pregadores que criticaram severamente os ataques aos valores espirituais e às crenças religiosas dos muçulmanos. 

Em resposta ao chamado de Hassan Nasrallah, centenas de pessoas se reuniram do lado de fora dos locais de culto em Beirute e em outras partes do Líbano, brandindo cópias do Alcorão e faixas em louvor ao Islã, segundo o correspondente da RFI em Beirute, Paul Khalifeh.

O exército libanês mobilizou uma grande força de segurança preventiva em frente à embaixada sueca e à residência do embaixador sueco em Beirute.  Ao nível oficial, o Ministério das Relações Exteriores pediu "às autoridades suecas que tomem as medidas necessárias para pôr fim a todos os atos que alimentam o ódio, a islamofobia, o racismo, a incitação à violência e os ataques às religiões".

A Organização de Cooperação Islâmica (OIC) falou de um "novo ato provocativo", com seu secretário-geral, Hissein Brahim Taha, pedindo a Estocolmo que "pare de emitir permissões para reuniões de grupos e indivíduos extremistas".

O Iraque também anunciou que havia suspendido a licença da gigante sueca Ericsson. No entanto, o governo recuou nesta sexta-feira: um assessor do primeiro-ministro, Farhad Alaaldin, garantiu aos jornalistas da imprensa estrangeira que "os acordos contratuais" concluídos por Bagdá "serão respeitados", assim como "nenhuma empresa foi suspensa, nem mesmo a Ericsson".

Suécia em silêncio

O governo sueco já disse em várias ocasiões que queimar um texto considerado sagrado por alguns, era "inapropriado" e "islamofóbico", porém não era ilegal, relata a correspondente da RFI em Estocolmo, Carlotta Morteo.

Não se trata de alterar a Constituição sueca, que protege o direito de manifestação e de expressão de opinião, pois isso abriria a porta para a introdução do direito à blasfêmia, advertiram vários editorialistas nesta sexta-feira (21). 

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