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Revolução feminina no Irã: cada vez mais mulheres deixam de usar véu após morte de Mahsa Amini

Passados quase nove meses da morte da jovem Mahsa Amini, após ter sido presa pela polícia de moralidade por desrespeitar o uso do véu islâmico, o Irã vive uma revolução feminina sem precedentes, apesar da crise econômica. 

Uma mulher segura uma foto da iraniana Mahsa Amini durante um protesto.
Uma mulher segura uma foto da iraniana Mahsa Amini durante um protesto. AP - Francisco Seco
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Com informações da correspondente Siavosh Ghazi, da RFI em Teerã

Nas ruas da capital e de outras cidades do país, a mudança é visível. Cada vez mais jovens deixam de usar o véu, como observa Tanze, uma jovem engenheira iraniana de cerca de quarenta anos. “Sou uma das mulheres que quase nunca usou o véu. Antes, eu usava um véu no pescoço e colocava no cabelo somente quando necessário. Hoje, esse lenço está na minha bolsa e quando preciso, eu tiro”, relata.

“A sociedade está se polarizando, há quem queira tirar o véu de outras mulheres e quem queira impor seu uso. Mas a cara da cidade mudou, nos cafés e restaurantes, há cada vez mais mulheres sem véu. Mas eu sei que é uma batalha," completa.

Uma grande revolta teve início no Irã depois da morte de Mahsa Amini, 22 anos, em 16 de setembro de 2022. Natural do Curdistão, a jovem havia sido detida três dias antes em Teerã, acusada de "usar roupa inapropriada" pela polícia da moralidade, uma unidade responsável por observar o cumprimento do rígido código de vestimenta. 

As iranianas devem cobrir os cabelos e não têm o direito de usar peças curtas, acima dos joelhos, calças apertadas ou jeans rasgados. Uma realidade que, segundo relatos, começa a mudar.

“Mulheres estão mais ousadas”

Essa opinião é partilhada por Hasti, decoradora de 40 anos que acredita que a sociedade iraniana está mudando, embora ainda existam muitas mulheres que continuam a usar o véu.

“As mulheres agora estão mais ousadas. Não usar o véu cria uma espécie de unidade. Quando vemos mulheres na rua sem véu, temos a sensação de que elas se parecem conosco”, diz. “Algumas usam o véu em volta do pescoço, outras nem usam véu. Isso nos dá mais poder e a sensação de que podemos fazer isso. Mas não é apenas o véu, é como se tivéssemos criado uma nova linguagem entre nós", conclui.

Apesar da melhora aparente pelo menos nos costumes, uma crise econômica atinge duramente a classe média iraniana e muitos jovens pensam em sair do país, relata Reza, um engenheiro de 39 anos.

“O país caminha para a falência. A realidade é ainda pior do que vemos, tudo está dando errado. Quaisquer que sejam os negócios”, aponta o engenheiro. “Apenas os servidores públicos recebem seus salários, que estão longe de corresponder à inflação. O que mudou é a esperança. Quando você emigra, você mata a esperança. Ainda tenho esperança de que possamos mudar as coisas e fazer reformas”, completa. “O número de pessoas que partem ou querem ir embora aumentou muito. Eles saem por razões econômicas, mas fazem isso com lágrimas nos olhos”, finaliza.

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