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Para diretora da Unesco, questões estratégicas levam EUA a voltar à organização

Em entrevista exclusiva à RFI, a diretora-geral da Unesco, a francesa Audrey Azoulay, felicitou a decisão dos Estados Unidos de reintegrar a organização. Washington resolveu cortar os laços com a Unesco em 2018, durante o governo de Donald Trump, por seu "persistente viés anti-israelense", como indicou na época. Mas a necessidade de participação em questões estratégicas trouxeram o país de volta, indicou a ex-ministra. 

A diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, durante anúncio do pedido dos Estados Unidos para voltar a integrar a instituição. Paris, 12 de junho de 2023.
A diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, durante anúncio do pedido dos Estados Unidos para voltar a integrar a instituição. Paris, 12 de junho de 2023. AFP - ALAIN JOCARD
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Para Azoulay, não há dúvidas: a decisão dos Estados Unidos de reintegrar a Unesco é "o reconhecimento da missão" da instituição "nas questões relacionadas à educação, ciências e cultura". Além disso, ela avalia que "havia um custo aos Estados Unidos de não estar nesta mesa", como não poder participar de discussões sobre assuntos estratégicos.

De fato, o pedido dos Estados Unidos chega em um contexto de rivalidade cada vez mais intensa com a China, que não esconde seu desejo de transformar a ordem multilateral internacional criada após a Segunda Guerra Mundial, da qual a Unesco faz parte. Em 2021, após debates entre representantes dos 193 países-membros, a organização elaborou recomendações sobre ética e inteligência artificial na qual a administração do atual presidente americano, Joe Biden, acredita que Pequim teve uma forte influência. 

Segundo Azoulay, na carta que recebeu de Washington solicitando a reintegração, os Estados Unidos lamentam a ausência em debates importantes. "Por exemplo, inteligência artificial e a questão da ética nesta área", diz. "Eu sei que os Estados Unidos gostariam de ir até o final dessa discussão da qual participaram como especialistas, mas sem poder agir como Estado", explica.

Dívida de US$ 619 milhões

Apesar de terem deixado a Unesco em 2018, os Estados Unidos suspenderam seu financiamento em 2011, em protesto à admissão dos territórios palestinos à organização. No total, 22% do orçamento da Unesco vinham de Washington. A grande questão é se o país aceitará quitar sua dívida de US$ 619 milhões. 

Em carta enviada à organização, que é sediada em Paris, Washington informou que solicitou ao Congresso americano a liberação de US$ 150 milhões para o exercício fiscal de 2024, uma contribuição que continuará nos anos seguintes "até a liquidação dos atrasos".

"O retorno deles ocorre junto a um plano de financiamento muito concreto: a retomada das contribuições obrigatórias a partir de julho de 2023, mas também da liquidação das consideráveis dívidas", diz Azoulay. 

A ex-ministra francesa comemora a decisão: "É uma excelente notícia para todos". Para ela, o retorno vai consolidar as dinâmicas políticas, estratégicas e orçamentárias da Unesco. 

Essa não foi a primeira vez que os Estados Unidos deixaram a organização. Em 1984, durante a presidência de Ronald Reagan, Washington considerou que integrar a Unesco era inútil e caro. Mas o país retornou em 2003.

Questão israelo-palestina 

Tradicional aliado dos Estados Unidos, Israel também deixou a Unesco em 2018, afirmando que a organização tomava decisões favoráveis aos palestinos. Admitidos em 2011, eles puderam defender dossiês que diziam respeito a seu patrimônio - principalmente arqueológico - nos territórios ocupados por Israel. 

Questionada sobre o posicionamento da organização sobre a questão israelo-palestina, Azoulay frisa que "as portas estão abertas" a Israel. "Como uma organização das Nações Unidas, nossa vocação é o universalismo", salienta. 

A ex-ministra também lembra que desde 2018 "foi possível encontrar consenso sobre as resoluções relativas ao Oriente Médio, que foram problemas sérios na história da Unesco", diz. 

"A volta dos Estados Unidos é uma vitória do multilateralismo. É uma agenda positiva para a educação, a ciência, e a cultura, mas também crucial para as questões globais do futuro. Acredito que cada um tem seu espaço", ressalta.

Azoulay informou as intenções de Washington aos 193 países-membros da organização. Eles agora devem decidir por maioria - em uma votação prevista para julho - se aceitam o reingresso.

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