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Conflito na Ucrânia evidencia a criação de uma "Guerra Fria" entre capitalistas, diz analista

O conflito na Ucrânia está próximo de completar um ano no próximo dia 24 de fevereiro. Se a guerra foi praticamente previsível, com muitos sinais, provocações e atritos, sua duração surpreende e o mundo inteiro sofre as consequências. “O mundo não vai mais ser o mesmo”, diz Gunther Rudzit, professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo.

Uma cratera no solo, apó um ataque de míssil russo em um bairro residencial em Kramatorsk, Ucrânia (2/2/23).
Uma cratera no solo, apó um ataque de míssil russo em um bairro residencial em Kramatorsk, Ucrânia (2/2/23). © Yevgen Honcharenko / AP
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As consequências da guerra da Ucrânia são globais, principalmente nos quesitos energia e alimentação. A quebra na cadeia de produção levou a uma crise inflacionária mundial. Rudzit lembra que nos países desenvolvidos os Bancos Centrais agem rápido e a inflação tende a diminuir. “Mas no restante, nos países em desenvolvimento, a crise vai persistir”, atingindo os mais pobres e miseráveis. Ele evoca as revoltas no Sri Lanka, que derrubou o governo, e agora, mais recentemente, no Peru, como exemplos.

O Brasil deixou clara sua posição de não enviar armamentos para a Ucrânia, como declarou o presidente Lula ao chanceler alemão Olaf Scholz, no final de janeiro, em Brasília. “Fornecer equipamento militar seria um complicador das relações do Brasil, não só com a Rússia, mas principalmente com a China, que é o nosso maior parceiro comercial”, explica Rudzit.

“O Brasil volta, ao que tudo indica, a um Itamaraty de tradição diplomática bem-vista internacionalmente, de manter uma equidistância ao longo da história de todos os conflitos, enquanto pôde”, acrescenta. “Isso faz com que nós, por enquanto, estamos conseguindo manter um equilíbrio. E acho que o Brasil vai conseguir, porque o próprio governo americano entende o papel importantíssimo do Brasil no fornecimento de alimentos ao mundo. Uma crise aqui repercutiria mais ainda no mundo todo”, acredita.

China cautelosa

Sobre Pequim, Rudzit diz que “a China não está se envolvendo diretamente porque ela tomou um susto gigantesco, assim como o restante do mundo pela reação econômico-financeira do Ocidente. Algo que nunca tinha sido visto”.

Ele explica que “uma das razões disso é que depois que Putin invadiu a Crimeia, em 2014, a reação ocidental foi muito fraca. Não afetou em nada a economia russa. Então, ele tinha certeza de que o Ocidente não ia fazer nada, nem mesmo economicamente, muito menos lutar. Tanto Putin, quanto XI Jinping, tinham certeza de que o Ocidente não queria guerra”.

Ou seja, a reação ocidental pegou de surpresa a China e a Rússia. “Em especial Xi Jinping, que tem a sua economia, principalmente seu setor financeiro, ainda muito dependente do Ocidente”, explica Rudzit.

“É por isso que agora ele mantém o apoio diplomático indiretamente via suas empresas. Tem ajudado a Rússia no possível, mas via Coreia do Norte, com fornecimento principalmente de equipamento militar e munição, porque, afinal de contas, são os mesmos modelos de equipamento”. Usando a Coreia do Norte como fachada, Pequim se afasta da linha de frente.

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