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Ataque "agressivo e bárbaro", diz comandante curdo após bombardeios da Turquia na Síria e no Iraque

A Turquia lançou neste domingo (20) uma operação aérea no norte do Iraque e na Síria, visando várias regiões sob o controle das forças curdas sírias e do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), acusado por Ancara de um recente atentado a bomba, que deixou seis mortos e 81 feridos em Istambul. Os insurgentes curdos negaram qualquer envolvimento na explosão. Em uma postagem no Twitter, um comandante curdo na Síria qualificou a ação da Turquia de "agressiva e bárbara".

Forças curdas patrulham o campo de refugiados de Al-Hol, no nordeste da Síria, am 26 de agosto de 2022.
Forças curdas patrulham o campo de refugiados de Al-Hol, no nordeste da Síria, am 26 de agosto de 2022. © Orhan Qereman/Reuters
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A "operação" é vista como um acerto de contas do presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, contra a minoria curda. O ministério turco da Defesa anunciou o início da ofensiva aérea denominada "Garra e espada", em nota assinada pelo titular da pasta, Hulusi Akar. "Os abrigos, bunkers e cavernas dos terroristas foram atacados", assinalou o ministro, que liderou os bombardeios a partir do centro de operações da Força Aérea, ao lado dos principais comandantes militares do país.

As incursões, segundo o comunicado, tiveram como alvos bases do banido Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e das Unidades de Proteção Popular, também conhecidas como YPG, uma organização armada curda da região do Curdistão sírio, que recebeu apoio da coalizão liderada pelos Estados Unidos no combate aos extremistas do grupo terrorista Estado Islâmico. A França se refere às Unidades de Proteção Popular como "Forças Democráticas Sírias" (FDS). 

Os bombardeios acontecem alguns dias depois de Ancara responsabilizar o PKK por um atentado ocorrido no domingo passado, em Istambul, cuja autoria foi imediatamente negada pelos dois grupos insurgentes.

"Chegou o momento de acertarmos as contas! Os bastardos terão que ser responsabilizados por seus ataques traiçoeiros", escreveu o ministro turco da Defesa  no Twitter.

Durante a madrugada de sábado para domingo, cerca de 25 ataques aéreos turcos atingiram as províncias sírias de Raqa e Hassake (nordeste) e Aleppo (norte). De acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma ONG sediada em Londres com uma extensa rede de fontes na Síria, os bombardeios mataram ao menos 31 pessoas, a maioria combatentes curdos e soldados sírios do regime liderado por Bashar al-Assad.

O ministério da Defesa da Síria confirmou em nota as "mortes de soldados" em "ataques turcos ao amanhecer", nas províncias de Aleppo e Hassake, sem detalhar as perdas.

Os bombardeios turcos atingiram Kobane, cidade do norte da Síria e seus arredores, perto da fronteira com a Turquia. Silos de armazenamento de cereais próximos da localidade de Al-Malikiyah foram destruídos, assim como uma central elétrica no sul dessa província, localizada em áreas sob o controle das Forças Democráticas Sírias. 

Familiares de feridos se reuniram no hospital de Al-Malikiyah, para onde foram levadas as pessoas feridas nos ataques da Turquia. De acordo com Souleiman Abou Hawkar, um residente local, a força aérea turca bombardeou repetidamente a central elétrica. "Nós estávamos tentando salvar os feridos e recuperar os corpos quando um avião bombardeou novamente, por isso fugimos", relatou.

Os bombardeios também visaram instalações onde as forças do regime de Damasco estão posicionadas em Raqa, Hassakeh e Aleppo, de acordo com o OSDH.

Cidade que derrotou o Estado Islâmico é visada 

"Kobane, a cidade que derrotou o Estado Islâmico, é alvo de bombardeios da força aérea de ocupação turca", anunciou Farhad Shami, porta-voz das Forças Democráticas Sírias, confirmando mortes de combatentes em Al-Malikiyah e de soldados pró-regime no norte de Aleppo. 

O comandante das FDS, Mazloum Abdi, denunciou um ataque "agressivo e bárbaro". Em uma postagem no Twitter, ele afirmou que a operação turca ameaça toda a região. "Este bombardeio não serve a nenhuma das partes. Estamos fazendo tudo para evitar uma catástrofe de grandes proporções. Se a guerra eclodir, todos serão afetados", escreveu.

Os bombardeios turcos não causaram, segundo informações preliminares, "nenhuma baixa" no norte do Iraque, de acordo com um funcionário do governo regional do Curdistão iraquiano.

"Os turcos visaram pelo menos oito áreas onde estão localizadas bases do PKK sem causar nenhuma baixa civil", declarou o oficial, citando as regiões montanhosas de "Shingal, Rawanduz, Bradost, Qandil, Asos, Soran, Rania e Qaladzi", localizadas entre Erbil, a capital do Curdistão iraquiano autônomo, e a fronteira iraniana.

PKK denuncia sete meses de bombardeios turcos

Segundo um porta-voz do PKK, "estas operações não são novas, elas vêm acontecendo continuamente há sete meses", disse ele, assegurando que "o Exército turco realizou 3.694 bombardeios no solo do Curdistão iraquiano" durante este período.

No dia seguinte ao ataque a uma movimentada rua comercial em Istabul, as autoridades turcas acusaram uma jovem mulher, que se acredita ser de nacionalidade síria, de colocar a bomba no local da explosão. O ministro do Interior da Turquia, Suleyman Soylu, alegou que "a ordem para o ataque partiu da cidade de Kobane", controlada pelas forças curdas.

O Departamento de Estado dos EUA declarou na sexta-feira (18) que temia "uma possível ação militar por parte da Turquia".

Em guerra desde 2011, a Síria está fragmentada devido à intervenção de múltiplos grupos e potências estrangeiras no conflito. A Turquia, cujos soldados estão presentes em partes do norte da Síria, tem ameaçado, desde maio, lançar uma grande ofensiva contra as FDS, que ela considera "terroristas". Ancara diz que quer criar uma "zona de segurança" de 30 km de largura em sua fronteira sul.

Entre 2016 e 2019, o Exército turco lançou três grandes operações no norte da Síria, visando as milícias e organizações curdas.

(Com AFP)

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