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Seleção de futebol do Irã adere a protestos durante amistoso da Copa

A seleção masculina de futebol do Irã aderiu ao movimento de protestos que toma seu país. Nesta terça-feira (27), durante um jogo amistoso da Copa do Mundo contra o Senegal (1 x1), na Áustria, os jogadores iranianos se apresentaram em campo e permaneceram durante a execução do hino nacional vestidos com seus casacos, cobrindo o uniforme que os identifica como a equipe do Irã.

O atacante iraniano Sardar Azmoun entra em campo antes do amistoso entre Senegal e Irã em Moedling, Áustria, em 27 de setembro de 2022.
O atacante iraniano Sardar Azmoun entra em campo antes do amistoso entre Senegal e Irã em Moedling, Áustria, em 27 de setembro de 2022. AFP - JAKUB SUKUP
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Mas este não é o único episódio que denuncia o peso político da participação da seleção masculina de futebol iraniana nesta Copa do Mundo, que acontece no Catar de 20 de novembro a 18 de dezembro. Em sua sexta participação no mundial, o "Team Melli" já tem um embate previsto contra os Estados Unidos, um “inimigo jurado”, no grupo B, em 29 de novembro.

A atitude dos jogadores antes do início do amistoso revela a dimensão do movimento de protesto que abala o Irã desde 16 de setembro, com a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, três dias após sua prisão em Teerã por quebrar o código de vestimenta rígido do país. O engajamento de uma equipe masculina em uma causa identitária de mulheres ganha uma dimensão ainda maior quando considerada a influência da seleção em um país apaixonado pelo futebol.

Durante a partida, realizada perto de Viena, manifestantes reunidos do lado de fora do estádio gritaram slogans hostis às autoridades de Teerã e pediram aos jogadores da seleção que apoiassem o movimento no Irã. "Estamos aqui para implorar [à seleção]: por favor, nos apoiem em vez de se oporem a nós", declarou Mehran Mostaed, um dos organizadores da manifestação.

“Claro que há repercussões para um jogador de futebol que expressa seu apoio [ao movimento], porque no Irã as consequências são muito graves para quem se opõe ao regime”, ele acrescentou.

Mas, apesar dos riscos, os jogadores do "Melli" vestiam um casaco preto sem qualquer símbolo que os ligasse ao Irã e que escondia o uniforme da seleção nacional durante a apresentação das equipes, e isso sem apresentar qualquer explicação para o gesto.

 

O craque da seleção

São principalmente as declarações do craque da seleção, Sardar Azmoun, que joga no clube alemão Bayer Leverkusen, que são observadas de perto e minuciosamente. No início desta semana, blogueiros iranianos de futebol postaram capturas de tela de mensagens postadas no Instagram de Azmoun, em que o jogador falava sobre o “apagão” no time: “devido a regras restritivas no Team Melli, não posso dizer nada”.

Mas o atacante, de 27 anos, aparentemente decidiu ignorar a ameaça de repressão, acreditando que não poderia ficar calado diante da repressão ao movimento no Irã que já deixou dezenas de mortos.

"Isso não poderá ser apagado da nossa consciência. Que vergonha", ele postou. Seu comentário foi posteriormente excluído e o conteúdo da conta do jogador no Instagram, seguido por cerca de 5 milhões de pessoas, desapareceu por dias.

Após o amistoso com o Senegal, quando Azmoun, que entrou no segundo tempo, marcou o gol do empate, sua conta no Instagram voltou a ser ativada e o jogador pediu desculpas pela sua postura. “Não houve pressão sobre mim para escrever ou excluir um comentário no Instagram”, explicou ele, acrescentando que “não há divisão dentro do Team Melli”.

"Peço desculpas aos meus companheiros de seleção, pois minhas ações precipitadas atraíram insultos de blogueiros contra eles e interromperam a paz e a ordem dentro da equipe", acrescentou.

Azmoun publicou ainda outra mensagem em apoio ao time feminino de vôlei de Gonbad-e Qabus, sua cidade natal, ressaltando que a morte de Amini "deixou uma dor no coração da nação que a história nunca esquecerá".

Ali Karimi

Os manifestantes que reivindicam o apoio da seleção nacional também têm ao seu lado outra grande estrela do futebol iraniano, o ex-atacante internacional Ali Karimi. O jogador multiplicou as publicações nas redes sociais para apoiar o atual movimento de protesto e denunciar a morte de Amini, acreditando que "nada poderia apagar esta indignidade".

“Busco apenas a paz, o conforto e o bem-estar das pessoas nos quatro cantos do país”, se justificou Karimi. Essas declarações foram seguidas por um artigo da agência de notícias Fars pedindo sua prisão e sugerindo que sua propriedade no Irã poderia ser apreendida.

Outros grandes nomes do futebol iraniano seguiram o exemplo do craque, como Mehdi Mahdavikia, ex-capitão da seleção, que acusou as autoridades de "ignorar o povo".

Já Ali Daei, jogador lendário em seu país, instou o regime a "resolver os problemas do povo iraniano em vez de recorrer à repressão, violência e prisões".

(Com informações da AFP)

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