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"Mulheres são detidas cotidianamente nas ruas", diz iraniana após morte de jovem pela polícia moral

Os protestos pela morte de Mahsa Amini, no Irã, continuaram pela quinta noite consecutiva, nesta quarta-feira (21), na capital Teerã e em dezenas de cidades. A população demonstra estar chocada após a detenção da jovem pela polícia moral do país por não estar usando o véu islâmico em público.

Um manifestante dispara gás lacrimogêneo contra a tropa de choque da polícia durante um protesto, em 20 de setembro de 2022, pela morte da jovem Mahsa Amin, detida e morta após violar o código de vestimenta conservador do país.
Um manifestante dispara gás lacrimogêneo contra a tropa de choque da polícia durante um protesto, em 20 de setembro de 2022, pela morte da jovem Mahsa Amin, detida e morta após violar o código de vestimenta conservador do país. AP
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Siavosh Ghazi e Catalina Gómez Angelcorrespondentes da RFI em Teerã

Os manifestantes bloquearam o trânsito, incendiaram lixeiras e carros da polícia, lançando pedras contra os agentes. A polícia utilizou gás lacrimogêneo e prendeu várias pessoas para dispersar os manifestantes. Seis pessoas morreram ao longo de vários dias de protestos, de acordo com um balanço oficial. 

"Infelizmente, duas pessoas foram mortas durante os tumultos de ontem", disse o promotor de Kermanshah, no oeste do país, Shahram Karami, nesta quarta-feira (21), citado pela agência de notícias Fars.

As mulheres são detidas nas ruas de Teerã cotidianamente pela polícia de costumes, como conta a designer gráfica Farideh, que exibe seus cabelos azuis, sem véu. "Eu fui presa várias vezes e levada para uma delegacia, mesmo quando estava com a cabeça coberta por um véu. Mas eles queriam me prender”, diz.

“Eu vi mulheres apanharem. Não no camburão, mas na delegacia. Eu vi como eles batem nas mulheres que perguntam porque foram levadas para lá. Mulheres que perguntavam simplesmente por que elas tinham sido presas. Eu tenho certeza de que Mahsa também sofreu violência," completa a iraniana, entrevistada pela RFI em Teerã.

Na terça feira (20) as Nações Unidas e ONGs expressaram preocupação diante da repressão violenta das autoridades iranianas contra os manifestantes.

Posições intervencionistas estrangeiras

Nasser Kanani, porta-voz do ministério iraniano das Relações Exteriores, condenou o que chamou de "posições intervencionistas estrangeiras". "É lamentável que alguns países tentem aproveitar um incidente que está sob investigação para promover suas metas políticas e desejos contra o governo e o povo do Irã", disse.

Mahsa Amini tinha 22 anos e era da região do Curdistão (noroeste do país). Ela foi presa em 13 de setembro, quando visitava Teerã com a família, após ter sido presa pela polícia de costumes por não respeitar o rígido código de vestimentas para mulheres no Irã. De acordo com parentes, ela morreu em decorrência de agressões que sofreu durante a detenção. 

Durante as manifestações, muitas iranianas retiraram o véu como forma de protesto. Elas saíram às ruas em Teerã e outras cidades, incluindo Mashhad (nordeste), Tabriz (noroeste), Rasht (norte), Isfahan (centro) e Shiraz (sul), informou a agência IRNA.

Deputados criticaram a ação da polícia da moralidade

Em um discurso no Parlamento, Behzad Rahimi, deputado curdo da região de Saghez e Baneh, disse que a polícia moral sempre foi uma fonte de preocupação e estresse para as mulheres iranianas. O político acrescentou que é necessário rever os métodos desta polícia e ouvir a voz da população e da sociedade.

"A ação desta polícia não alcança nenhum resultado, exceto causar danos ao país", disse, por sua vez, o deputado Jalal Rashidi Koochi.

O presidente do Parlamento iraniano, Mohammad Bagher Ghalibaf, assegurou que as leis serão alteradas para regular a ação da polícia moral e mudar os métodos usados ​​para evitar outras tragédias no futuro.

O presidente do Irã,  Ebrahim Raisi, telefonou para o pai da jovem para transmitir seu apoio e prometer uma investigação para esclarecer as condições da morte de Amini.

(RFI e AFP)

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