Acessar o conteúdo principal

Israel: Exército reconhece sua “provável” responsabilidade na morte da jornalista Shireen Abu Akleh

O Exército israelense reconheceu pela primeira vez, nesta segunda-feira (5), haver "uma forte possibilidade" de que a jornalista Shireen Abu Akleh, do canal árabe Al Jazeera, tenha sido morta, em maio, por um de seus soldados. O Exército apresentou o relatório de uma investigação aprofundada sobre as circunstâncias da morte da repórter.

Shire Akleh, jornalista da Al-Jazeera foi morta em confrontos entre soldados do Exército israelense e palestinos. Em 11 de Maio de 2022.
Shire Akleh, jornalista da Al-Jazeera foi morta em confrontos entre soldados do Exército israelense e palestinos. Em 11 de Maio de 2022. AP
Publicidade

Com informações de Sami Boukhelifa, correspondente da RFI em Jerusalém

Foram necessários quase quatro meses de investigação para que o Exército israelense reconhecesse a sua "responsabilidade" neste caso. A instituição evoca "a provável" implicação de um de seus soldados, especificando que "não é possível determinar com certeza a origem do tiro” que matou Abu Akleh.

Pela versão israelense, as circunstâncias do fato são as seguintes: na manhã de 11 de maio, soldados israelenses realizavam uma operação em Jenin, no norte da Cisjordânia ocupada. Eles estavam em uma área urbana, densa, sob fogo inimigo, incluindo grupos armados palestinos.

Durante toda a operação, os soldados israelenses dispararam cerca de vinte vezes. A bala que atingiu Shireen Abu Akleh foi disparada "durante fogo cruzado [...] E pode ter havido um erro na identificação [do alvo]", conforme explica o Exército.

Este "provável" tiro israelense foi feito a partir de um veículo blindado. Um soldado com uma mira telescópica disparou através de uma abertura desse veículo.

O Exército diz que “lamenta” a morte de Shireen Abu Akleh, mas indica que está determinado a continuar as suas operações de combate ao “terrorismo”; termo usado para descrever a resistência armada palestina.

A família da jornalista exige que os responsáveis ​​sejam julgados perante o Tribunal Penal Internacional e que os Estados Unidos se envolvam mais no caso, já que a jornalista morta também tinha cidadania americana.

“Não importa o que os israelenses digam, nós já sabemos a verdade. Não precisamos deles para confirmar seu envolvimento”, disse Lina Abu Akleh, sobrinha de Shireen Abu Akleh, à RFI. “Desde o início, tudo está claro neste caso. O que queremos é que os responsáveis ​​pela morte de Shireen respondam por seu crime”, completou. “Mas não são os assassinos de Shireen que lhe farão justiça. Não esperamos nada dos israelenses. Queremos que as Nações Unidas e especialmente os Estados Unidos ajam”, insistiu.

A jornalista foi morta a tiros enquanto cobria uma operação militar israelense no campo palestino de Jenin, um reduto das facções armadas palestinas no norte da Cisjordânia ocupada. No momento em que ela foi atingida, uma unidade especial miliar perseguia "suspeitos", o que levou a confrontos armados.

Shireen Abu Akleh estava equipada com um colete à prova de balas com a menção "imprensa" e um capacete. A Autoridade Palestina e a Al Jazeera acusaram o Exército israelense de ter assassinado a repórter. Israel rejeitou essa acusação, apesar das investigações da imprensa e de um relatório da ONU concluindo que um tiro israelense havia sido disparado, descartando, no entanto, que tenha sido deliberado.

A promotoria militar israelense, por sua vez, anunciou na segunda-feira que "não havia suspeita de um ato criminoso que justificasse a abertura de uma investigação criminal pela polícia militar" e isso, embora haja uma "alta probabilidade" de que Shireen Abu Akleh tenha sido morto por soldados israelenses.

“Isso não deveria ter acontecido”

Os militares disseram que estudaram "cronologicamente" a sequência dos acontecimentos, analisaram a cena, vídeos e sons gravados no local e realizaram uma "reconstituição". Além disso, "especialistas israelenses" realizaram uma análise balística, em 2 de julho, na presença de representantes do "Comitê de Coordenação de Segurança dos Estados Unidos para Israel e a Autoridade Palestina".

Devido ao “mau estado da bala”, identificar a sua origem foi “difícil”, sublinha o Exército no seu relatório, dizendo não ter certeza “inequívoca” da origem do tiro fatal contra o jornalista.

Como o Exército israelense, os Estados Unidos concluíram que Shireen Abu Akleh "provavelmente" foi morta por fogo de uma posição israelense, sem ter motivos para acreditar que a morte foi intencional. "O soldado não estava tentando atingir um jornalista. O soldado identificou erroneamente o seu alvo e ele sente muito por isso", afirmou um alto oficial militar israelense, nesta segunda-feira, durante uma coletiva de imprensa. "Isso não deveria ter acontecido, ele não fez isso deliberadamente", acrescentou.

(Com informações da RFI e da AFP)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.