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China ultrapassa a linha mediana no estreito de Taiwan e coloca Japão sob pressão

A China continua nesta sexta-feira (5) os exercícios militares em torno de Taiwan, como resposta à visita de Nancy Pelosi à ilha. Taipei afirma que "aviões e navios de guerra" cruzaram a "linha do meio" do Estreito de Taipei, que separa a ilha do continente. O Japão, aliado dos Estados Unidos, mas importante parceiro comercial da China, se viu na linha de frente das tensões sino-americanas em torno de Taiwan. Tóquio multiplicou os pedidos para o "fim imediato" dos exercícios militares.

Um navio da Guarda Costeira da China percorre as águas de 68 milhas náuticas, um dos pontos mais próximos da ilha de Taiwan, na ilha de Pingtan, província de Fujian, China 5 de agosto de 2022.
Um navio da Guarda Costeira da China percorre as águas de 68 milhas náuticas, um dos pontos mais próximos da ilha de Taiwan, na ilha de Pingtan, província de Fujian, China 5 de agosto de 2022. REUTERS - ALY SONG
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Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, está em Tóquio nesta sexta-feira, na etapa final de sua turnê pela Ásia, que incluiu uma rara visita a Taiwan. A China reagiu realizando as maiores manobras militares de sua história em torno da ilha, considerada uma província chinesa rebelde por Pequim.

No final de suas conversas com Pelosi, o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, confirmou que o Japão e os Estados Unidos "vão cooperar estreitamente para manter a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan".

Diante da China e da Rússia, o Japão, que pede a "cessação imediata dos exercícios militares chineses", está totalmente comprometido ao lado de seu aliado e protetor americano. A posição do premiê japonês acontece apesar de a China ser o principal parceiro comercial do Japão.

Ecos de Hiroshima 

A última ilha japonesa, Yonaguni, bem ao sul do arquipélago de Okinawa, fica a cerca de cem quilômetros de Taiwan. Mísseis balísticos chineses teriam sobrevoado Taiwan e alguns caíram pela primeira vez na zona econômica exclusiva do Japão.

"A China, tão próxima de nós e tão ameaçadora", disse um morador de Yonaguni ouvido pela reportagem da RFI

"Eu não dormi esta noite, os mísseis caíram muito perto da nossa ilha", disse outra moradora, aterrorizada com as manobras chinesas. "Guerra na Ucrânia e, quem sabe, em Taiwan em breve. Considerando que amanhã será o aniversário do bombardeio atômico de Hiroshima, isso é assustador. E nos perguntamos quando o homem, esse louco da guerra, entenderá que é a paz que ele deve prezar..."

Forma de intimidar Tóquio

"O Japão protestou junto à China por meio de canais diplomáticos", disse o ministro da Defesa japonês, Nobuo Kish, citando o número de nove mísseis chineses disparados, cinco dos quais parecem ter caído a sudoeste do Japão, perto da ilha de Hateruma. É uma forma da China intimidar Tóquio. Esses lançamentos de mísseis chineses são um "problema sério que afeta nossa segurança nacional", disse o primeiro-ministro japonês.

Nesta imagem tirada de imagens de vídeo rodadas pelo CCTV da China, um projétil é lançado de um local não especificado na China, quinta-feira, 4 de agosto de 2022.
Nesta imagem tirada de imagens de vídeo rodadas pelo CCTV da China, um projétil é lançado de um local não especificado na China, quinta-feira, 4 de agosto de 2022. AP

A escalada da China levou o Japão a flexibilizar sua Constituição pacifista para permitir que seu exército participasse de operações coletivas de defesa no exterior. No caso de um ataque chinês a Taiwan, os militares japoneses fornecerão apoio logístico à Sétima Frota do Pacífico dos EUA.

O Japão afirmou anteriormente que uma invasão de Taiwan representaria uma "ameaça existencial" para o país. Isso porque tal invasão bloquearia o Estreito de Taiwan, por onde passa a maior parte do comércio Indo-Pacífico.

Os japoneses se sentem próximos e preocupados com o futuro de Taiwan. A maioria deles - e isso é novo - é a favor de dobrar os gastos militares de 1 para 2% do PIB. A direita no poder joga com essa preocupação para promover uma revisão da Constituição pacifista.

"O Japão deveria abandonar o seu pacifismo de meia-tigela e se rearmar urgentemente, senão, como a Ucrânia ontem e Taiwan amanhã, seremos nós que seremos invadidos", disse um outro morador da ilha japonesa à RFI

Mapa das manobras militares da China em torno de Taiwan.
Mapa das manobras militares da China em torno de Taiwan. © Studio graphique FMM

Como os taiwaneses estão lidando com essas manobras?

O exército chinês colocou seus navios no estreito de Taiwan e seus helicópteros no céu, mas os taiwaneses ainda não cedem ao pânico, longe disso. “Eles tentam nos assustar há anos, até décadas", diz uma jovem à reportagem da RFI. "Estamos acostumados com isso. Agora, com cada nova ameaça, apenas pensamos que começaram outra vez, mas ninguém aqui está preocupado ou se preparando para o pior", acrescenta. 

No entanto, a China lançou operações em escala sem precedentes com mísseis balísticos que teriam sobrevoado a ilha, em um contexto de crescentes tensões na região. Um coquetel explosivo que pode levar a uma mudança de mentalidade, segundo o historiador taiwanês Li Xiao Feng. “Os movimentos dos aviões chineses são cada vez mais incessantes em torno de Taiwan. E isso causa maior desconfiança de alguns taiwaneses, bem como do governo, que está preparando a população com exercícios de resgate”, avalia o historiador.

Os exercícios militares chineses estão programados para durar até domingo (7) em Taiwan.

(Com reportagem de Frédéric Charles, correspondente da RFI em Tóquio, e AFP)

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