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Após dois meses em uma balsa em Marselha, refugiados ucranianos partem "para o desconhecido"

Este se tornou um dos maiores centros de acomodação na França: em Marselha, uma balsa colocada à disposição de centenas de refugiados ucranianos há mais de dois meses deve zarpar novamente, e seus últimos ocupantes tiveram que desembarcar nesta sexta-feira (10), motivo de angústia para muitos.

Ucranianos instalados no barco em Marselha. Alguns conseguiram emprego na própria companhia de Corsica Linea;
Ucranianos instalados no barco em Marselha. Alguns conseguiram emprego na própria companhia de Corsica Linea; AFP - NICOLAS TUCAT
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“Foi tudo ótimo, a atitude do pessoal, da cidade…”, testemunhou à AFP Oksana Yanak, economista de 53 anos. Na hora da partida hoje, ao cruzar os portões do porto, essa morena alta de Odessa (sul da Ucrânia) estava em prantos.

Alugado pelo Estado francês desde o final de março, o barco "Méditerranée", da companhia marítima Corsica Linea, acomodou até 900 ucranianos no porto de Marselha, a poucos passos do centro da cidade, lhes oferecendo quartos e refeições, além de assistência social e médica, e um serviço de acolhimento de crianças.

Oksana, assim como cerca de 400 outros refugiados, de acordo com a prefeitura, esperou até o último momento para deixar o navio. Um ônibus a levará a Istres, uma cidade de 43 mil habitantes a cerca de 50 quilômetros de Marselha. Um recomeço que a preocupa muito: "Não sabemos o que vai acontecer lá, não nos disseram quais são as condições. Caminhamos para o desconhecido".

Quando a AFP visitou o barco no final de abril, alguns refugiados ainda expressavam suas dificuldades em viver em uma cabine de barco, como Alona Diordiieva, 40, que se disse "exausta por estar em um quarto muito pequeno sem janela". Desde segunda-feira (6), Alona está morando em um apartamento que aluga graças a amigos em Marselha. Na sexta-feira, ela voltou ao porto uma última vez: "Sinto-me um pouco nostálgica pela vida no barco", confessou.

“Pessoas não sabem para onde estão indo”

A bordo, ela pôde "tomar um café com os amigos, se despedir da tripulação". Alona viu "pessoas muito nervosas, com malas grandes, prontas para sair, mas que não sabem para onde estão indo", semanas depois de fugir da guerra que assola a Ucrânia desde a invasão russa.

Quase nenhum alojamento em Marselha — que vive uma "situação muito tensa em termos de acomodação", de acordo com as autoridades — foi oferecido, lamenta Alona: "Nos pediram para nos integrarmos, mas agora temos de ir para outras regiões". Sua intenção é de ficar em Marselha a todo custo, porque seu filho de oito anos, “traumatizado”, iniciou na cidade um tratamento psicológico.

Entre os refugiados que já partiram, pouco mais da metade foi realocada para a região vizinha de Occitânia, um quarto deles para Auvergne-Rhône-Alpes, e outros ainda para Borgonha e Nova Aquitânia, de acordo com a prefeitura. "Alojamento permanente" na maior parte, mas também alguns "alojamentos temporários".

No grupo de mensagens do Telegram dos ocupantes do barco, muitos ainda se perguntavam nesta sexta-feira: "Estão me propondo de para ir para Arles (cidade de 50 mil habitantes a 80 quilômetros de Marselha), alguém conhece?” ou “Parece que em Firminy (região do Loire), o alojamento é apenas temporário. Teremos que sair?”.

“A França está fazendo muito por nós”

Entre as pessoas já realojadas, algumas testemunham sua angústia em Clermont-Ferrand, onde foram instaladas em uma casa "suja", "sem possibilidade de cozinhar". Por outro lado, alguns estão cheios de elogios para um hotel em Lourdes (Altos Pirineus): "É muito bonito, é limpo, a comida é deliciosa, estou tão feliz", revelou Dana Mitskievych à AFP. "Não entendo as pessoas descontentes que não querem deixar Marselha, a França está fazendo muito por nós", acrescentou.

"Todo mundo recebeu diversas ofertas. Ninguém é obrigado a ir a lugar nenhum", afirmou à AFP uma fonte envolvida na organização dos alojamentos. "Mas é certo que as pessoas estão traumatizadas e que deslocá-las as assusta".

Desde o início da “aventura” no ferry, os refugiados sabiam que teriam de partir no dia 10 de junho, recorda a mesma fonte. A prefeitura enfatiza que o sistema "possibilitou acomodar um número excepcional de ucranianos deslocados, muito além das capacidades reais da cidade de Marselha".

De acordo com Pierre-Antoine Villanova, gerente geral da Corsica Linea, o Estado "por algum tempo considerou acomodá-los em outro barco", mas "finalmente preferiu outra solução". "É uma aventura humana que nos marcará profundamente, todas as equipes, por muito tempo", declarou ele, orgulhoso por 16 mulheres ucranianas terem encontrado empregos de temporada para o verão na própria empresa.

Mais de 7 milhões de pessoas deixaram a Ucrânia desde o início da guerra em fevereiro.

(Com informações da AFP)

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