Guerra na Ucrânia cria ruptura fundamental nos mercados, afirma relatório
Quais serão as consequências da pandemia e da guerra na Ucrânia nos mercados de commodities? A ofensiva russa marca o fim de uma globalização bem-sucedida, de acordo com os autores da revista CyclOpe, a “bíblia francesa” dos mercados mundiais.
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Por Marie-Pierre Olphand, da RFI
Houve um mundo de ontem e haverá o de depois. Um mundo que será marcado por uma ruptura fundamental na geopolítica global, avaliam os autores da 36ª edição do relatório do grupo de estudos CyclOpe. "É um pouco como se o sonho da globalização dos últimos 30 anos estivesse desaparecendo", resume Philippe Chalmin, professor da Universidade Paris Dauphine e codiretor do estudo divulgado na última terça-feira (7).
Se a maioria das tensões que assistimos atualmente remonta a 2021, a guerra na Ucrânia acrescentou um nível de complexidade: ampliou a instabilidade agrícola, desencadeou uma crise do petróleo, além de uma crise do gás, e ampliou ainda mais a desestabilidade logística, descrevem os 65 autores da pesquisa.
Nos mercados de commodities, basta o intervalo de dois dias, 7 e 8 de março deste ano, para ilustrar o pânico global e a volatilidade dos preços que caracterizam o período: nessas 48 horas, o barril de Brent chegou perto de US$ 140, o trigo ultrapassou os € 400 por tonelada, o gás natural na Europa foi a mais de € 300 por MWh, e o níquel teve uma oscilação completamente fora de controle, sendo cotado a mais de US$ 100 mil por tonelada.
"A promessa de abundância oferecida pelo mundo de ontem acabou", resume Yves Jegourel, outro codiretor do relatório CyclOpe, professor do Conservatório Nacional de Artes e Ofícios, titular da cátedra de economia de matérias-primas.
O risco de desabastecimento no “mundo de amanhã”
No plano agrícola, o mais difícil ainda está por vir. O próximo período não terá muitas exportações ucranianas, enquanto o custo dos fertilizantes será percebido nas safras mundiais até 2024. Com a perspectiva de potencial desabastecimento, a tendência é de garantir estoques, principalmente no setor de metais industriais.
Se a globalização não é colocada em questão, ainda assim levanta muitas interrogações, salientam os autores do relatório. Eles observam um mundo coberto de barreiras, sanitárias, logísticas e agora políticas, como no pós-Segunda Guerra Mundial.
Para os especialistas, a ofensiva russa aprofundou a ruptura entre os Estados Unidos e a China, dois campos agora difíceis de conciliar. A guerra também fortaleceu o eixo Moscou-Pequim em resposta às sanções ocidentais. Um novo "compartilhamento" do mundo que já está redefinindo o fluxo de matérias-primas.
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