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Dubai é o novo destino das fortunas russas, sob sanções no Ocidente

Não é atrás do sol que eles vão, mas sim da discrição oferecida por este Emirado Árabe quanto à origem de recursos financeiros. Oligarcas e membros da alta sociedade russa já investiam em apartamentos de luxo em Dubai. Porém, agora, muitos procuram se instalar no país com bagagens, negócios e família – o destino está em voga por quem busca fugir das crescentes sanções financeiras europeias.

Vista geral de um distrito de Dubai mostrando o arranha-céu Burj Khalifa. Em 8 de dezembro de 2021.
Vista geral de um distrito de Dubai mostrando o arranha-céu Burj Khalifa. Em 8 de dezembro de 2021. REUTERS - ABDEL HADI RAMAHI
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Desde o início da guerra na Ucrânia, os voos de Moscou a Dubai estão cheios. Entre os passageiros, muitos são russos que buscam escapar do aperto imposto pelos países ocidentais a empresários próximos a Vladimir Putin. O destino atrai, principalmente, os endinheirados russos que viviam na Europa e começam a levantar voo depois de terem seus ativos bloqueados em bancos europeus.

Mas rico que é rico viaja no próprio avião. Segundo o jornal americano New York Times, os jatos de Roman Abramovich, dono do clube de futebol inglês Chelsea, e de Arkadi Rotenberg, imperador da construção civil, foram vistos, no início de março, nas pistas do emirado. Abramovich, que vem sendo alvo de atenção especial na União Europeia, estaria procurando uma base no Golfo, onde o seu iate já está ancorado.

O magnata do carvão Andrei Melnichenko, proprietário de um dos maiores veleiros do mundo, recentemente apreendido na Itália, também foi visto em Dubai nas últimas semanas. Assim como seus colegas endinheirados, ele estaria de olho nas vantagens tributárias locais.

O iate Solaris, de Roman Abramovich, no porto de Bodrum, no sudoeste da Turquia. Em 22 de março de 2022.
O iate Solaris, de Roman Abramovich, no porto de Bodrum, no sudoeste da Turquia. Em 22 de março de 2022. REUTERS - YORUK ISIK

Neutralidade

A monarquia do petróleo preferiu a neutralidade face à guerra na Ucrânia e tem recebido as grandes fortunas russas de braços abertos. As agências imobiliárias locais ajudam na aquisição de bens que podem garantir visto de permanência por muitos anos. Estima-se que, ao acumular entre € 4 a 5 milhões de fortuna, é possível ficar até dez anos em Dubai sem precisar renovar o documento, informam corretores em Dubai à emissora francesa Europe 1.

Nenhuma sanção se aplica contra cidadãos russos neste Emirado Árabe, e menos ainda quando eles decidem administrar suas indústrias e bens de luxo a partir de lá. Tratam-se de operações de grande porte, cuja transferência eles confiam a empresas especializadas.

De acordo com a revista Observer, “as transações, que vão desde a venda de propriedades de elite a arrendamentos, são feitas em grande parte usando criptomoedas” – uma forma de contornar a resposta dos Estados Unidos e da União Europeia à invasão da Ucrânia por Vladimir Putin, em 24 de fevereiro.

De acordo com agentes imobiliários de Dubai citados pelo site Slate, fazia tempo que o mercado imobiliário não registrava uma alta tão grande por lá. “Uma quantidade notável de investidores russos está comprando unidades”, diz um dos entrevistados. “Eles transferem seus fundos por meio de criptomoedas através de um intermediário e depois o dinheiro é repassado aos proprietários”, revela um consultor de aluguéis da Dubai Marina, uma das áreas residenciais mais exclusivas do país.

Outra debandada foi dos funcionários do banco de investimentos norte-americano Goldman Sachs, que anunciou recentemente a sua saída da Rússia, tornando-se a primeira grande instituição de Wall Street a se distanciar de Moscou, após a invasão da Ucrânia. Dos 80 funcionários moscovitas da instituição, quase metade já se mudou para Dubai. A mesma dinâmica pode ser observada no JP Morgan e Rothschild, que têm funcionários migrando para a monarquia do petróleo.

O site apurou que, em apenas 30 dias, é possível obter uma autorização de residência e uma conta bancária. O registo de uma empresa nos Emirados Árabes e a compra de uma mansão, com valores a partir de € 1,5 milhão, permitem obter a residência permanente no país árabe.

Dubai, principal cidade dos Emirados Árabes Unidos (EAU), não esperou a guerra na Ucrânia para atrair os oligarcas russos. Esses empresários, ex-funcionários públicos e empresários que enriqueceram desde a queda da União Soviética (URSS) nos setores de petróleo, gás, mineração, ferrovias e transportes, já investiam em empresas e propriedades em Dubai. Entre 40 mil e 60 mil cidadãos russos residem atualmente no país.

Entretanto, a implementação de sanções ocidentais contra a Rússia amplificou o fenômeno.  De acordo com o gestor de uma carteira imobiliária citado pelo jornal Le Monde, o número de russos que pretendem imigrar para o Golfo Pérsico seria “30 a 35% maior” após as sanções ocidentais.

Os Emirados Árabes se aproximaram consideravelmente da Rússia, nos últimos anos, graças ao desligamento americano da região, às críticas ocidentais à repressão aos opositores do regime ou à guerra travada no Iêmen envolvendo a Arábia Saudita.

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